O oficialismo – hoje representado pelo petismo de D. Dilma – nos repete o mantra das grandes conquistas alcançadas pelos governos de Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (de 2011 em diante).
Na retórica da administração liderada pelo PT, com os seus trinta e nove ministérios, e a pletórica, posto que um tanto indócil, base parlamentar, enche a boca para dizer que ora somos credores (e não devedores do FMI), que dispomos de sólidas reservas em divisas, e que superamos o Reino Unido, e somos a sexta potência econômica. Além disso, o Brasil integra um acrônimo (BRIC), com a Rússia, a India e China[1], embora, como diria George Orwell, há, entre essas nações, algumas que são mais emergentes do que as outras.
Tudo o que se afirma acima pode ser verdade, mas como diziam os antigos prognósticos nos almanaques sobre o clima nas montanhas, a instabilidade é uma condição bastante presente. Assim, se a nossa balança de bens e serviços – e até a balança comercial – mantiver tendência deficitária, como tenho referido em blogs anteriores, não será eterno o nosso superávit. As reservas acumuladas impressionam mas devemos nos precaver contra os excessivos gastos no exterior.
Não falo apenas de nossos alegres turistas, que preferem viajar para os Estados Unidos e até Europa, do que para o Nordeste ou o Pantanal, por exemplo, por causa dos preços respectivos. O mesmo critério se aplica às compras no estrangeiro, por serem mais baratas, dada a fome de impostos que morde os nossos produtos em Pindorama.
Tudo isso - como até a velhinha de Taubaté há de convir - não fica de graça, e se traduz nos ditos ‘invisíveis’, com graúdos déficits a se acumularem para o fim do ano. Além disto – e não vem de hoje este eufemismo – as empresas brasileiras passaram a captar (i.e., em português real, endividar-se) dólares e euros no exterior, porque os juros são mais baixos e as condições semelham tão vantajosas... Mutatis mutandis, não tem o ar das desculpas dos endividados locais, que para sua surpresa caem na rede dos prestamistas tubarões (lá chamam de loan sharks, ou tubarões dos empréstimos), e que de súbito se tornam verdadeiros párias, sem crédito na praça ?
Dilma Rousseff nos trouxe de volta a inflação que, conjugada aos pibinhos, não promete um futuro muito róseo. Embora não haja muitos que queiram responsabilizá-lo por esse angu de caroço na economia, manda a justiça aduzir que alguma parte disso tudo cabe a Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele não inventou, decerto, o assistencialismo, mas em termos de neopopulismo trouxe portentosa colaboração. Veja-se, por exemplo, a chamada bolsa família, que fora inventada pelo governo tucano de FHC. Não se pode contestar-lhe a importância, posto que ela haja crescido demasiado.
Assistencialismo não é solução permanente para as classes menos favorecidas. A ideia inicial, creio de Cristovam Buarque, seria conjugar a frequência escolar dos filhos com o trabalho dos pais. Em outras palavras, não era vista enquanto solução permanente, como hoje dá toda a aparência de ser.
Outra dia, foi apresentada à mídia a mãe, registrada na bolsa família, com a sua filha, que igualmente faz jus à dita inscrição. Como diria alguém, ‘pera um instante, que há algo errado nisso !’ O propósito da bolsa não é o de eternizar-se, mas o de fornecer rendimentos suplementares. Será que o propósito do lulo-petismo é de transformar o Brasil em um grande Maranhão (onde 92% da povoação é filiada ao programa)?
O último episódio, com manchetes nos principais jornais, da corrida bancária, motivada por um boato de que a bolsa família iria acabar, serve para realçar os montantes movimentados pelo assistencialismo: novecentos mil inscritos sacaram 152 milhões de reais nos últimos dias !
Se em princípios do século passado, o conde de Afonso Celso (1860-1938) escreveu e publicou o “Por que me ufano de meu País”, com mais de trinta edições, que originou o movimento ufanista, a grande repercussão corresponde, dentro de seu idealismo, à existência de conexões com a realidade para alimentar tal sonho. Que viria a ter, em 1942, a caução da obra de Stefan Zweig, “Brasil, país do futuro”.
No entanto, se a consciência do desenvolvimento brasileiro pareceu, por momentos, lançada em bases mais firmes – e a própria difusão do Brasil no exterior o corrobora de certa maneira – não podemos esquecer-nos (como é o vezo do neopopulismo) de que o progresso do Brasil (que há muito ostentamos na divisa da bandeira) não será atingido por atalhos e muito menos por desvairado assistencialismo.
A Venezuela chavista é a triste caricatura dessa suposta realidade da propoganda. Nâo podemos esquecer que tanto a bolsa família, quanto a novel bolsa-miséria são medicamentos com prazo de validade que deveria ser curto. O propósito de tais programas não é o de eternizar-se em perene caridade – e bem conhecemos a que leva esse tipo de remédio.
O escopo não é reeditar a Roma decadente dos panes et circenses[2], já do primeiro Império, proporcionados a uma plebe desempregada e potencialmente desestabilizadora.
O que dará dignidade aos brasileiros das classes D e E não deve ser a mesada do governo, mas a criação de oportunidades de trabalho. Houve senador que se reportasse ao fato de que a bolsa família afastava muitos trabalhadores de suas atividades, ao preferirem a oportunidade de receber sem maior esforço a dádiva do governo.
Se procede ou não, o assistencialismo não pode ser transformado em instrumento permanente, eis que induz ao dolce far niente[3], além de ser um peso improdutivo na economia.
Se não podemos esquecer os pobres, deve-se pensar e criar meios para arrancá-los desta condição, e para tanto somente o trabalho e, por conseguinte, os investimentos para tal necessários, implicam em solução eficaz e duradoura.
Tudo o mais é demagogia, que não difere muito dos almoços a um real, regalados por outro ramo do populismo.
(Fontes: O Globo, Enciclopédia Delta Larousse)
Nenhum comentário:
Postar um comentário