Na Georgia, a justiça dos vencedores
O exemplo da Ucrânia, em que a
ex-Primeiro Ministro Yulia Timoshenko continua
prisioneira em hospital de Kharkov,
parece disseminar-se em outros países da antiga URSS. Agora, é a vez da
Geórgia, onde o ex-primeiro ministro Ivane Merabishvili foi preso nesta semana, sob imputações
de corrupção.
Esta é apenas
uma das detenções, na onda repressiva lançada após a vitória nas urnas de Bidzina
Ivanishvili, em outubro último, contra o partido do Presidente Mikheil Saakashvili.No que tem a inequívoca aparência de uma desforra com a conivente ajuda da justiça, Saakashvili comparou as prisões com a perseguição judicial – a mando do governo Viktor Yanukovych – à ex-Primeiro Ministro Timoshenko : “ Ninguém deve alimentar a ilusão de que isto não é uma decisão política. E pode ter consequências ainda mais nefastas para a Georgia do que para a Ucrânia.”
Na Rússia de Putin, se aperta
o nó
da repressão
Na Federação
Russa, a democracia se vai confinando às aparências. Depois de mandar sinais
intimidatórios às ONGs – definidas como agentes estrangeiros se acaso receberem
contribuições do exterior – e de
apertar as cravelhas contra opositores do calibre de Aleksei Navalny, ora
submetido a um juízo encomendado e que
tudo leva a crer conduza a mais uma condenação que de fajuta só tem a causa,
mas não os prováveis efeitos da cruel masmorra,
como no tempo dos czares, - agora
é a vez das perigosas e subversivas agências de pesquisa de opinião.
A única restante
agência confiável na Rússia de Putin,
o centro
Levada, formado por sociólogos que se afastaram do atual governo,
parece ter os dia contados. Com efeito, recebeu comunicação da promotoria de
que “influencia a opinião pública e, portanto, não se ocupa de pesquisa, mas de
atividade política”. Nesse sentido, faria
jus ao rótulo de agente estrangeiro.A avaliação do diretor do Centro, Lev D. Gudov, é bastante mais pessimista de outros chefes de ONGs que se resigna a persistir na luta, mesmo sob a pecha de ‘agente estrangeiro’, o que na Rússia levanta suspeitas de espionagem e de traição, características da Guerra Fria.
De acordo com Gudkov, com o desafio suplementar de ter de combater essa denominação, ele teria de fechar o centro, que foi pioneiro na introdução na Rússia do sistema de pesquisa de opinião utilizado nos Estados Unidos.
Na avaliação do diretor do Centro Levada, “se observa o fim de uma época que principiara com a perestroika de Gorbachev.” No seu entender os últimos remanescentes da liberdade, seriam a liberdade de estudo (scholarship) e liberdade de informação. “A advertência do promotor não é um ato isolado, e não se refere unicamente a nós. É o fim de um período de 25 anos na Rússia.”
Como todo regime autoritário, a ordem instituída por Vladimir Putin só tende a aceitar avaliações favoráveis. Também, como no passado, em todas as democracias adjetivadas, o esquema de Putin não convive com o contraditório, acreditando-se perenemente ameaçado pela exposição de uma realidade contrária.
O Centro Levada, fundado por Yuri Levada, incorrera anos atrás na ira de gospodin Putin por publicar pesquisas que mostravam decrescente apoio da população ao partido situacionista Rússia Unida e à guerra na Tchechênia. Como o governo tentara impor-lhe em 2003 outra junta diretora, Levada renunciou à direção do Centro, e formou um similar, mas particular. Como os seus colaboradores o seguiram, tudo ficou na mesma. Levada faleceu em 2006.
O regime Putin não é contra, em princípio, a centros de pesquisa de opinião. O que não gosta é que publiquem os resultados, se negativos para o governo. Assim, costuma servir-se de dóceis organizações, que coletam as opiniões da sociedade, mas deixam a publicação a critério do poder. Não é difícil imaginar que gênero de pesquisa seja bem-vindo para os governos autoritários.
( Fonte: International Herald Tribune )
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