Aquecimento global
Bill McKibben
é respeitado especialista em meio ambiente. No seu último artigo para a New York Review (Volume LX nr.8) “Alguns
gostam disso quente”, ele se serve do título da comédia de 1959 de Billy
Wilder, traduzido no Brasil como “Quanto mais quente melhor”.
O título
brasileiro é ainda mais apropriado, no contexto da acentuação do sombrio
panorama climático. Malgrado as tergiversações e as negativas oficiais, a
situação climática é consequência direta do tratamento negligente que lhe vem
sendo dado pela maioria dos governos, empurrando para as próximas gerações esta
herança maldita.A displicência das administrações – e há poucas exceções, com a Alemanha à frente – reflete um quadro desolador. A falta de acordos internacionais vinculantes e a inação nacional, com o desenvolvimento de novas tecnologias (como o fracking na busca de xisto betuminoso) e a continuada utilização de velhas práticas poluentes (com o carvão, v.g., tanto na China quanto nos EUA), só tendem a agravar a situação.
O artigo de McKibben merece ser lido. Por isso, me cingirei a alguns tópicos:
(a) Novo estudo de anais de temperatura em período de onze mil anos mostra que o planeta se está aquecendo 50 vezes mais rápido de que em qualquer época da civilização humana;
(b) novos dados relativos ao Artico indicam que nos últimos trinta anos a área de vegetação avançou sete graus de latitude norte;
(c) se uma elevação de um grau Celsius na temperatura basta para derreter o Ártico, a pergunta que se impõe é a da consequência de ulteriores alças.
Não se trata apenas de derretimento de gelo – e do permafrost da Sibéria e do Alasca, com a liberação do gás metano (a que o artigo em tela não se refere), mas também a outros efeitos deste aquecimento. O quadro inclui a redução na disponibilidade de água, o risco da fome com o fracasso das colheitas, a desestruturação demográfica com as migrações causadas por essas catástrofes, e a disseminação de enfermidades pandêmicas.
Nesse particular, McKibben cita o avanço da febre amarela, dada a circunstância de que o mosquito vetor, o nosso conhecido Aedes Aegypti, já se espalha em área de 2,5 bilhões de pessoas. Nesse contexto, se coloca o risco de surtos urbanos de febre amarela, tanto na África quanto na América do Sul. Cerca de 20% da população seria afetada, com alto nível de fatalidades.
A elevação do nível do mar aumentará os deslocamentos de populações ribeirinhas. Qualquer leigo com um mínimo de boa fé ficará perturbado com os níveis de destruição alcançados pelo furacão Sandy, com a destruição das áreas costeiras de ilhas próximas a Manhattan, como Staten Island. Muitos daqueles que preferiram não abandonar suas moradas pagaram com a vida.
Há diversos outros detalhes da marcha das intempéries que se deve quase exclusivamente à atitude humana de negação da respectiva periculosidade. Existem muitos motivos para tanto, que vão da obtusidade à má-fé.
Para maiores detalhes sobre o estudo – que nada tem de sensacionalista – e se limita a reportar-se a fontes fidedignas, recomendo ao leitor que procure acessar o texto através da internet.
Ao preferir olhar
para trás e desconhecer toda a luta de antecessores seus, como Ted Heath, na
década de setenta, e do próprio Tony Blair, em tempos recentes, o Primeiro
Ministro David Cameron, pensando fazer jogada política, abriu uma caixa de
Pandora, e recolou em discussão a participação inglesa na União Europeia.
É conhecida a
vocação insular da Grã-Bretanha, mas no século XX e no atual, com a decadência
da antiga potência inglesa, se tornara indispensável uma união comercial com o
Continente. Se no passado, a política britânica fora a de manter poucos laços
com os países da terra firme, as condições econômicas do período pós-moderno
apontavam claramente para a necessidade de estreitar laços, e não de
afrouxá-los. A própria indústria inglesa não se pode dar ao luxo de confrontar-se
com barreiras alfandegárias para as suas vendas à Europa, e não foi por
sentimentalismo ou entranhado espirito europeísta que a Albion bateu à porta de
Bruxelas para integrar a União.Vencidos os vetos de De Gaulle, em anos subsequentes, Londres assegurou o seu lugar na constelação europeia. O próprio Tony Blair teve que vencer o ressurgente nacionalismo britânico, logrando ganhar mais um referendo.
A fraqueza do atual líder conservador o levou a cometer um duplo erro. Pensou que obteria concessões de Bruxelas com as suas veleidades secessionistas. O delicado equilíbrio que presidiu à construção da União Europeia – que dos seis países fundadores (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) hoje tem 27 membros, sendo dezessete da Zona do Euro – não admite que membros isolados venham a tentar extorquir a continuada presença com tratamentos especiais. Qualquer político com um mínimo de discernimento perceberia que adentrava um beco sem saída.
A opinião pública inglesa – que costuma ver os demais europeus do Continente com desdém insular – por desconhecer as consequências de tal gesto, com as consequentes dificuldades para a sua indústria que não mais fruirá das franquias da U.E., só sentirá o peso de seu ato impensado quando Inês estiver morta, cabendo aos eventuais sucessores de Cameron refazer o árduo caminho do reingresso.
Cerca de cem deputados conservadores se dispõem a apoiar emenda crítica do programa da coalizão tory-liberal, por não incluir projeto que preveja a realização de um referendo sobre a continuação ou não da participação do Reino Unido na UE. Ao tergiversar por muito, e por distanciar-se de seus colegas em Bruxelas, Cameron ensejou o avanço à sua revelia do processo referendário. Como aprendiz de feiticeiro, David Cameron liberou forças sobre as quais não tem controle.
Em meio aos oportunistas – que se valem de impulsos impensados – e outros marinheiros de águas turvas, ei-lo com um senhor problema. Além de dar marcha-a-ré para a respectiva economia, breve se verá acossado por tropéis de que nesciamente abriu as cancelas.
Novo Comício contra Putin
Cerca de
trinta mil pessoas acorreram a manifestação de protesto contra a volta de
processos políticos no sistema judiciário russo.
Na segunda
feira, 29 de abril, marcaram o primeiro
aniversário da reunião na Praça Bolotnaya, desfeita com uma série de prisões
dos manifestantes. Aquele evento marcou
o fim dos protestos do inverno, que foram multitudinários e pacíficos. A reação do regime traduziu-se em série de leis repressivas, tendentes a restringir o direito de reunir-se, assim como para incrementar as multas por ajuntamentos não-autorizados.
Desta feita, a afluência beirou os trinta mil, o que nas condições atuais de quase ditadura representa inegável êxito. A gente decide afrontar o regime, malgrado a brutalidade policial, e as possíveis penas a serem aplicadas pelo dócil judiciário.
Os manifestantes levavam botões com as seguintes palavras : “A ação contra Navalny é também contra mim!”
O protesto se dirige igualmente contra os processos do comício na Bolotnaya (28 pessoas estão sendo perseguidas judicialmente ‘por atacar polícias’, além de tomar parte em distúrbios da ordem.
Diante da atitude do regime autoritário de Vladimir Putin, o propósito da multidão reunida na segunda, 29 de abril, pode parecer até romântico: congregar aglomeração grande o bastante para que o Kremlin pense duas vezes antes de continuar com as suas prisões em série, a par de condenar Navalny a cumprir pena.
Se todas as revoluções, em suas primícias, podem ser qualificadas de quixotescas, os autocratas da estirpe de Putin não ignoram da têmpera do povo russo, e de seu cansaço diante de um regime autoritário e corrupto como o instaurado pelo ex-chefe da KGB. Dos tzares aos gerarcas soviéticos, a história da Rússia apenas experimentou, por breve período, a democracia. Como as ditaduras são embaladas no medo, a luta para derrubá-la continuará a exigir a sua cruel quota de vítimas, até que o poder do fuzil se torne insustentável. A resposta para o enigma estará naqueles que ousarem confrontá-lo e logrem derribá-lo antes que os devore.
Silêncio na Ucrânia
Nada de novo no
front ucraniano. Debalde a minha procura de sinais de resistência, seja do povo
da Ucrânia, seja de sua corajosa defensora, Yulia Timoshenko. Ao seu catre no lazareto de Kharkov terão acaso cessado as visitas
de dignitários estrangeiros.
Anotei
neste blog que faz tempo esta
prisioneira política recebeu no confinado cárcere a visita da Presidente da
Lituânia. Não sei se outro prócer terá seguido os passos desta manifestação de
apoio.
A linguagem
diplomática tem sido inútil para que este ato de arbítrio venha a ser revogado.
Não é com frases de comunicados que Viktor Yanukovych determinará a anulação
desse processo ilegal. Que valor dão os burocratas de Bruxelas e os líderes das
nações com relações econômico-financeiras com Kiev à democracia e à liberdade
se pactuam, no próprio silêncio ou prática inação, com o presidente da Ucrânia
?
(Fonte: International Herald Tribune )
Nenhum comentário:
Postar um comentário