A propalada ‘maldição do segundo mandato’ parece cair igualmente sobre Barack Obama, mas dúvidas persistem quanto ao que neste enredo se deva atribuir a idiossincrasias do temperamento do 44º presidente.
Tomemos, por exemplo, o tema do controle das armas. A tragédia de Newtown, no Connecticut, com tantas crianças estupidamente massacradas por um desequilibrado, se faz parte do macabro seriado estadunidense, no chamado modelo Columbine, representou evento demasiado acachapante para que não levasse um timorato Congresso a assumir a própria responsabilidade, impondo enfim controles para valer à venda de armas.
Sem embargo, o lobby da N.R.A. (Associação Nacional de Armas) prevaleceu uma vez mais, em votação no Senado, que visava quebrar uma filibuster de senadores republicanos, a qual se propunha a matar na raiz uma legislação de controles mínimos sobre o comércio de armas de fogo.
Faltou empenho a Obama que tinha o apoio esmagador da opinião pública (mais de noventa por cento). Sequer obteve o voto de senadores democratas para completar o total obrigatório de sessenta votos para encerrar a filibuster. Lyndon Johnson, que foi presidente e também influente líder da maioria no Senado, se terá agitado na tumba defronte de tal apatia. Ele e muitos outros não teriam deixado escapar esta oportunidade. Com efeito, o presidente tem muitos poderes, inclusive, como ensinou outro predecessor de Obama, Theodore Roosevelt, o de bully pulpit. É expressão de difícil tradução, e me arriscaria a propor arregimentação pelo púlpito (presidencial), como uma força do bem.
A campanha pelo controle das armas ficou mais difícil, com esse tropeço presidencial (o coloquial vacilo vem a propósito).
Não obstante, o bom combate não foi dado como perdido pela ex-deputada Gabrielle Giffords. Essa congressista democrata preferira não pleitear sua certa reeleição pelos impedimentos sofridos por atentado sofrido de um lunático, que abateu seis pessoas num comício de Tucson, no Arizona, em 2011.
Atingida na cabeça, ela tem ainda longo tratamento pela frente, para tentar superar as lesões sofridas. No segundo aniversário do atentado, a oito de janeiro, o casal Gabrielle Giffords e Mark Kelly lançaram a associação ‘Americanos por Soluções Responsáveis’. Já levantaram mais de dez milhões de dólares, ganharam a adesão de mais de trezentas mil pessoas, lançaram anúncios na tevê nacional pela expansão das verificações de antecedente dos compradores de armas, e fizeram campanha pela medida em uma dúzia de estados.
Será muito difícil para a NRA apresentá-los como debilóides opositores da Segunda Emenda da Constituição (a que dá aos americanos o direito de formar milícias e de se armar). Nesse contexto, a senhora Giffords dispensa apresentações, pois, além de ser ex-congressista de estado do Oeste americano, é caçadora e partidária do direito às armas. Por sua vez, Kelly é um militar veterano, piloto da Marinha e comandante de nave espacial.
Tampouco será fácil para a ex-deputada virar o jogo. No entanto, dentro da prática americana, o casal tem colocado anúncios em cinco estados considerados chave, seja atacando os opositores da medida, como o líder republicano Mitch McConnell e a Senadora Kelly Ayotte, único parlamentar da Nova Inglaterra que votara contra a medida, seja apoiando senadoras, como Mary Landrieu, da Lousiana, e Kay R. Hagan, da Carolina do Norte, que enfrentam o eleitorado em 2014.
A senhora Giffords recebeu, em princípios de maio, das mãos de Caroline Kennedy, a comenda do Comitê ‘Perfis de Coragem’, inspirado pelo livro homônimo de John F. Kennedy.
Pela frente, o casal tem árdua e sobretudo comprida luta. Quiçá a trajetória fosse mais simples, se a atitude de Barack Obama tivesse sido mais pró-ativa.
Gabrielle Giffords avulta, no entanto, à maneira de um bom filme americano de antigamente, como temível campeã de uma causa justa. Por todos os títulos, merece boa sorte.
( Fonte: artigo de
Albert R. Hunt no International Herald Tribune ).
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