O claro enigma da Bolsa Família
Mais uma
vez, Ricardo
Noblat, pela sua coluna semanal em O
Globo das 2as. feiras, dá lição prática de jornalismo investigativo e, por
conseguinte, desmistificador. Depois da apressada atribuição do ‘boato’ pela Ministra Maria do Rosário, da Secretaria
de Direitos Humanos, à central de
notícias da oposição, seguiram-se os juízos da hierarquia petista: ‘desumano e criminoso’ (Dilma),
ação praticada por ‘gente do mal’ (Lula
da Silva), ‘manobra orquestrada’
(José Eduardo Cardozo-ministro da
Justiça), e ‘terrorismo eleitoral’ (Ruy Falcão, presidente do PT).
Tangidos
por ameaça do desconhecido, os hierarcas
petistas e seus subalternos, tentaram a saída do ‘mau olhado’, para mais tarde
engolirem a própria saliva, ao se darem conta de que toda a confusão se
originara da respectiva cozinha.As estórias da carochinha breve, no entanto, cederam o lugar à realidade. Nas palavras de Noblat, não passaria de “má gestão embrulhada em mentiras”. Seria responsável, nas palavras de dois gerentes regionais da Caixa Econômica Federal, um erro no sistema de pagamento “pela liberação do dinheiro em desacordo com o calendário”.
O gerente Hélio Duranti, do Maranhão (que é o estado campeão da Bolsa Família) precisou: “Os boatos surgiram após um atraso no pagamento do benefício ocorrido em todo o país. A situação foi normalizada, mas muita gente procurou os caixas eletrônicos ao mesmo tempo, e o dinheiro acabou.”
Por toda a passada semana, a Caixa negou que tivesse mexido no calendário de pagamento. Até que na sexta feira, a dona de casa Diana dos Santos disse à Folha ter ido na semana anterior ao caixa eletrônico sacar os R$ 32 da Bolsa Família relativo a abril, e encontrou também disponíveis os R$ 32 de maio. A senhora dos Santos é beneficiária da Bolsa há anos e nunca recebera antecipadamente. A suposição natural é que outros beneficiários se deram conta da modificação e “avisaram aos conhecidos, e virou essa confusão.” Ainda nas palavras do gerente Duranti: “Quem não encontrou (o dinheiro) ficou revoltado e quebrou os caixas.”
Com o vazamento de o que ocorrera na realidade, a direção da Caixa tentou outra maquiagem. “A Caixa Econômica Federal esclarece que vem realizando diversas melhorias no Cadastro de Informações Sociais.” Nas palavras de Noblat, não tendo avisado a ninguém “(ela) não explica como uma operação dessas melhora seu Cadastro de Informações Sociais”.
A burocracia costuma ter desculpa para tudo, e em especial para os próprios erros. Não inova muito, porém. Como na fábula de La Fontaine, a argumentação do cordeiro não tem valor para o lobo: “se (o culpado) não foi seu pai, foi seu avô.”
Problemas da Infanta Cristina
O juiz José Castro, da justiça espanhola, abriu
investigação nas declarações de renda da Princesa
Cristina, consorte do novel Duque de
Palma de Mallorca, Iñaki Urdangarin. Arrastada pelas transações
suspeitas do cônjuge através da respectiva fundação, a filha do Rei Juan Carlos
e da Rainha Sofia, é suspeita de evasão de impostos, por eventual cumplicidade
com o marido. A acusação de sonegação de imposto e de lavagem de dinheiro
abrange o período de 2007 a 2010.
Prossegue,
por conseguinte, o inferno astral de Sua Majestade Juan Carlos I, da Casa dos Bourbon de Espanha, iniciado com a
famigerada caçada aos elefantes em Botswana,
em abril de 2012. Transferido, de urgência, para ser operado em clínica
espanhola, aí começaria a colher os amargos frutos de sua insensata empresa.
Endurecerá a China com a aliada Coréia do Norte ?
O novel líder chinês, Xi Jinping, comunicou ao representante de Kim Jong-un, novo supremo líder da República Democrática Popular da Coréia, Vice-Marechal Choe Ryong-hae, sem meias palavras, que o seu país deveria retornar incontinenti às negociações diplomáticas estabelecidas para livrarem a Coréia do Norte das armas nucleares.
A ascendência da RPC sobre a Coréia do Norte sofre, no entanto, dos percalços das relações entre países extremamente desiguais. Sempre à beira da incapacidade de alimentar a respectiva população – já houve inúmeras fomes no país, com considerável extermínio demográfico -, a Coréia da Norte vive de crises políticas artificiais, possivelmente urdidas pelo respectivo Kim no comando com vistas ao reforço do respectivo poder.
Desde 2008 que a RDPC abandonou, motu proprio, as negociações hexapartites para a sua desnuclearização, o complexo mecanismo da dependência de Pyongiang de Beijing mostra, pari passu, as suas limitações. Semelha difícil que o jovem Kim desnuclearize o respectivo país, pelas diversas implicações envolvidas, a começar pelo alegado prestígio e as repercussões que possa ter na continuidade da singular dinastia comunista.
Há temores de que a conferência de paz
prevista para junho próximo para a solução da guerra civil na Síria não se
concretize. O novo Secretário de Estado John Kerry evidencia mais confiança no
parceiro russo do que a sua antecessora Hillary Clinton, que chegou a ser
chamada de histérica pelo soturno
Sergei Lavrov, o Ministro (permanente) do Exterior da Federação Russa.
Como o Kremlin tem sido um comovente aliado do
regime alauíta de Bashar al-Assad, com profusas entregas de armas e fundos para
a causa do sucessor de Hafez al-Assad, certas dúvidas quanto à inteireza da
disposição de gospodin Vladimir Putin
em criar condições para solução mista e conciliatória ao problema sírio
semelham, senão ontologicamente, pelo menos diplomaticamente válidas.Por outro lado, os companheiros xiitas do Hezbollah se tem empenhado valerosamente ao lado dos alauítas de Damasco. Se há tênues cercanias entre os credos respectivos, maiores são os condicionamentos da sobrevivência política, ameaçada para o clérigo Nasrallah se o bom Bashar cair, inviabilizando as sustentadas remessas (armamentistas e outras) de Teerã para a milícia Hezbolllah.
Não terá sido, dessarte, por acaso, que dois mísseis caíram em subúrbios de Beirute, controlados pelo Hezbollah. Conquanto a liderança rebelde afirme nada ter a ver com o lamentável acidente, há suspeitas de que a iniciativa seja de outra ala de chefes rebeldes, que estão um tanto irritados com o apoio – em artilharia e infantaria – dado pelo movimento do Hezbollah às ações militares do governo sírio.
Essa escalada da guerra civil, que se estenderia a áreas do Líbano, tende a acirrar os ânimos e reforçar temores sobre eventual regionalização da conflagração, que de guerra civil na Síria, se alargaria para as áreas circunvizinhas, atingindo não só o Líbano, mas aos confins de Turquia e Jordânia.
Nesse contexto, a radicalização do Hezbollah – o qual confrontado com possível queda de Bashar – só teria a saída do quanto pior melhor, dadas as sombrias implicações da queda de al-Assad, com o fechamento do canal de fornecimentos para a milícia de Nasrallah dos regimes xiitas do Leste (Iraque e sobretudo Irã), que lhe asseguram a sobrevivência em hostil mar sunita.
( Fontes: O
Globo e coluna R. Noblat, International Herald Tribune )
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