A atmosfera é de campanha, e o tom dos pronunciamentos entra na retórica que se poderia esperar de tal atividade. Importa pouco que Dilma Rousseff vista a sua alocução como se fora para o primeiro de maio.
A presidenta se utiliza muito dos pronunciamentos em cadeia nacional. Em pouco mais de dois anos, este é o décimo-terceiro, o que contrasta com o maior cuidado de seu predecessor e criador político. Como assinala O Globo, no primeiro mandato, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou onze vezes em rede de tevê, e no segundo, dez.
Se não é o próprio retrato da moderação republicana, a postura de Lula nesse aspecto já difere de forma sensível da utilização do mecanismo por Dilma.
Com a experiência política adquirida ao longo de uma carreira que começara nas justas sindicais, o aprendizado de Lula, se formou ao longo de ascensão que teve a vantagem de não ser meteórica. Na sua repetida postulação pela presidência, o inesperado êxito de superar nas urnas um líder histórico da esquerda, como Lionel Brizola, o colocara de repente diante de um candidato-fenômeno, o caçador de marajás. Todos sabemos como terminou. O importante aqui terá sido o que aprendeu Lula com o episódio, e o relativo ganho em sabedoria política.
Lula, o candidato vitorioso em 2002, ao cabo de três eleições, e até mesmo de inédita primária dentro do PT, era uma construção política muito mais sólida, adquirida não só nas ruas e nos comícios, nas salas grandes e pequenas, em avanço por vezes frustrante, mas que lhe dava – e nunca de mão beijada – a sensação de trazer consigo o caminho percorrido.
Esta a principal faixa que Lula cingiu em 1º de janeiro de 2003. E as cãs de que muitos políticos brasileiros tolamente se envergonham, ele poderia mostrá-las como as marcas da escalada.
É pena que Lula não tenha transmitido à sua discípula este pormenor do procedimento de quem ocupa a primeira magistratura da Nação.
Há certos detalhes que um bom conselheiro não se furtaria transmitir. Como a virtude da moderação e da dosagem adequada. Sem o saber, Lula tinha presente o preceito aristotélico do meio, que é de determinação difícil, mas de fácil intuição quanto às suas qualidades.
Quem tudo pode em termos de comunicação, deve guardar-se da porta escancarada, que nenhum cortesão terá coragem de fechar. A prática ensina que tal vantagem se empregada de forma excessiva perde a sua principal qualidade, que é a da valorização da mensagem.
Se agora é difícil calar, e mais árduo emprestar à comunicação a força e a penetração que se deseja dar-lhe, a empresa se torna mais complicada – para usar uma palavra da moda - se se ambiciona merecer a atenção do Povo brasileiro.
Houve assessor de presidente, que no bilhete da partida lhe instou que não se apequenasse. E o então chefe Fernando Henrique Cardoso não o desmentiu e ao divulgar o conselho, engrandeceu-se.
A modéstia nas suas diversas formas, senhora Presidente da República, é uma veste que cai bem a todos aqueles que podendo o mais não enjeitam o menos.
(Fonte subsidiária
: O
Globo )
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