terça-feira, 14 de maio de 2013

Rescaldo da Semana

                                         
 Reexumando velhos truques

          O Partido Republicano não se emenda. Sem dispor de questão (issue) com potencial de forte repercussão na opinião pública, e diante da acachapante derrota na eleição presidencial – em que seu ideario foi repudiado por grandes segmentos da população -, não é que agora resolve apelar para sovado e duvidoso truque, o de requentar tópicos passados, que abrangentes análises de comissões oficiais e as respostas das autoridades envolvidas já haviam respondido à saciedade ?
         Ao voltar a acenar os esfarrapados panos do criminoso ataque ao consulado em  Benghazi, e suas vitimas, notadamente o embaixador J.Christopher Stevens, o G.O.P., através do Speaker John A. Boehner, intenta dar credibilidade à nova investida, cujos objetivos, por inconfessáveis que sejam, luzem com todo o frescor dos pães dormidos de véspera. O seu fugaz calor só enganará os radicais de direita e os minguantes adeptos do Tea Party.
         Dois traços desta deplorável artimanha ressaltam: à falta de um tópico sério, tentar reexumar um novo processo político, baseado no feudo da Câmara de Representantes, para buscar importunar a Administração Barack Obama, e sobretudo, pondo os olhos temerosos no futuro, para montar, á guisa de espantalho, estória que possa ser empregada com escopo eleitoreiro, contra a possível candidata à sucessão do 44º Presidente,  Hillary Clinton.
         Ter-se-ão esquecido do malogro do processo confiado a Kenneth Starr, o de Whitewater, com que pretenderam destituir o popular presidente Bill Clinton ? Esse promotor especial despendeu com a vendeta política 45 milhões de dólares, colhendo tão só o dúbio galardão de agrilhoar testemunhas inocentes e de armazenar o vento em seus alforjes.
 

 Giulio Andreotti   (1919-2013)          

         A morte política de Andreotti antecedeu de muito o fato atuarial. Com efeito, a implosão do sistema centrado no domínio da Democracia Cristã em 1992 determinou-lhe não só o afastamento da chamada stanza dei bottoni (o quarto dos botões - de comando), senão o início do inverno dos processos judiciais, em que foi acusado de laços com a onorata società (a máfia). Réu em dois julgamentos e apesar de pronunciado inocente, ficou-lhe a pecha. As acusações eram de colusão com a máfia (em troca de apoio eleitoral) e envolvimento no assassínio de um jornalista que se dedicara à perigosa senda das denúncias do campo penal.
          Andreotti, antes próximo do Vaticano – sobretudo nos tempos de Papa Pacelli, Pio XII – foi sete vezes Presidente do Conselho na Itália, e era um mestre no jogo de compor maiorias em torno da D.C., com a participação de partidos menores havidos como laicos.
          Ligado a Alcide de Gasperi, o refundador da Democracia Cristã, nunca inspirou o mesmo respeito e ascendência de que fruíu o líder histórico da DC. A sua própria aparência, acentuada sob o peso da idade, facilitava aos cartunistas apresentá-lo como ave de rapina.
          No final da vida, guindaram-no ao cemitério especial dos senadores vitalícios (distinção prevista pela Constituição italiana que inclui personalidades insignes, como o poeta Eugenio Montale).
 

Os Irmãos Inimigos

           Se a recomposição entre Angela Merkel (CDU-Alemanha) e François Hollande (PS – França) não tardou, apesar das flechas da campanha eleitoral em que o candidato socialista vencera por estreita margem a Nicolas Sarkozy, e manifestara teses favoráveis ao desenvolvimento e não à austeridade.
           O peso da economia alemã, e o virtual diretório franco-germânico na União Europeia, no entanto, terá logo contribuído para a recomposição entre Hollande e Merkel.
           Agora, a aproximação das eleições gerais na Alemanha, reacenderam esperanças  na grei da antiga SFIO (Section Française de l´Internationale Ouvrière[1]), como dantes se chamava, nos tempos de Léon Blum e da quarta república o atual PS,  remodelado por seu último grande líder, François Mitterrand.
           Acossados menos pela direita gaullista da UMP (União para o Movimento Popular), que pelo fraco desempenho de François Hollande, os socialistas veem diminuir a popularidade de seu presidente ao nível de 24%. A única exceção no rosário de indecisões e tropeços de Hollande está na intervenção no Mali, em que o exército francês logrou expulsar os tuaregues e islamitas que já se tinham apossado de metade daquele país do semidesértico Sahel, e que, defronte da debilidade das forças legalistas, não deveria tardar em ocupar o restante do país, com a capital Bamako, e a mais populosa região sul.
            Diante deste quadro um tanto sombrio, as esperanças de Hollande semelham repousar na vitória do candidato das esquerdas na Alemanha. É uma falácia que acompanha os governantes: muita vez esperam de seus homólogos, sobretudo daqueles com quem a história os força a manter estreitos laços, que uma vez passados da oposição para o poder, venham a assumir posições próximas do respectivo movimento político.
           Em realidade, a velha máxima de conquistar o mando pela esquerda, e governar com a direita tem um pouco a ver com a situação alemã, em que a sua liderança na União Europeia tende a estreitar as opções do novo Chanceler, na hipótese de que o falastrão Peer Steinbruck venha a vencer. Resta saber se as gafes do líder da SPD – contra as mulheres e contra os italianos – influenciarão o voto para o Bundestag[2]. Como se sabe, a CDU (União Cristã Democrática) tem uma seção na Baviera (a Uniâo Social-Cristã). Para governar, precisará do voto do FDP (Partido Liberal), que é o elo fraco da corrente. Por sua vez, a SPD se alia em geral aos Verdes. Os demais partidos dificilmente superam a barreira constitucional dos 5%.
            Se a Chanceler Merkel, pela sua experiência e firmeza, a par de a economia alemã registrar pequeno crescimento, contra a geral queda na UE,  surge como aparentemente favorecida para manter a chancelaria,  até setembro muita água há de passar e seria não só prematuro, mas também imprudente determinar-lhe a vitória como certa.
           Nesse quadro, malgrado as suas óbvias preferências pelo partido socialista alemão, François Hollande tem de pautar-se por suposta neutralidade, porque não interessa à França, pela situação da respectiva economia,  tornar as relações com Frau Merkel ainda mais difíceis.

 

(Fonte:  International Herald Tribune )      



[1] Seção Francesa da Internacional Operária.
[2] Assembléia Federal

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