quarta-feira, 15 de maio de 2013

Lula candidato ?

                                            
         O colunista Merval Pereira levanta a possibilidade de que o ex-presidente Lula da Silva irrompa como candidato do Partido dos Trabalhadores para a Presidência da República. À primeira vista, parece hipótese que margeia o absurdo, dado o enfático e reiterado apoio dado pelo criador à sua criatura Dilma Rousseff. Essa sustentação, que é decerto indispensável para a atual presidente, fora dada de forma inequívoca por Lula a Dilma, quando esta lhe pedira confirmação de que não pleitearia um terceiro mandato, e, a fortiori, por meio de múltiplas aparições da máxima figura do PT na propaganda da presidenta com vistas à desejada reeleição.
        Relembro, a propósito, por assaz oportuno, o dito do insigne e hoje um tanto esquecido político mineiro, José de Magalhães Pinto – o qual derrotara Tancredo Neves na eleição para a governança das Minas Gerais -  que comparou a política às nuvens, dada a mutabilidade das imagens que nos céus elas nos proporcionam.
        Por isso, por menos provável que a informação aparente , será sempre oportuno verificar os antecedentes da notícia.
       Qual a origem desta especulação ? Acredita-se entrever no presente comportamento de Eduardo Campos uma baixa no diapasão de sua pré-candidatura ao Planalto. Além de razões menores – como eventuais efeitos de suas ausências de Pernambuco, sua principal base eleitoral – acredita-se entrever na presente mais discreta modulação nos diversos movimentos ligados à ambição do chefe do PSB, governador e neto de Miguel Arrais, um críptico recado transmitido por Nosso Guia ao novel postulante.
       A estória pode ser apócrifa, mas carrega consigo certa verossimilhança. Consoante refere a coluna de Merval, Eduardo Campos haveria recebido mensagem de Lula da Silva encarecendo que ele pesasse bem os passos que estava dando, antes que fosse tarde demais.
       Em que se fundamenta o raciocínio do ex-Presidente ? Pelo visto, ele não considera imutável o quadro, eis que se intervier alguma ulterior mudança que exija a presença de Lula na disputa presidencial, como ficaria o governador de Pernambuco ? Estaria ele disposto a enfrentá-lo nas urnas ?
       Em outros termos, Lula recomenda prudência ao neófito Campos. Sobretudo, convém não ir com muita sede ao pote. Eia pois, não está descontada a possibilidade de que, e não tão de repente, compareça perante o povo brasileiro, encabeçando a chapa petista, não mais a companheira Dilma Rousseff, mas o mítico fundador e líder do Partido dos Trabalhadores, pronto para enfrentar a sexta campanha presidencial (três perdidas, uma para Collor e duas para FHC, mas duas vencidas, em sua nova encarnação, contra José Serra e Geraldo Alckmin).
       Para os que ensaiam seus passos no caminho do Planalto, não se afigura decerto hipótese tranquilizadora. E, por isso, mandaria elementar prudência que as armas sejam ensarilhadas para nova e menos árdua refrega.
      A outra pergunta que não quer calar se centra na motivação da súbita incerteza que se insinua no líder supremo do PT. A popularidade de Dilma, conforme as últimas atestações do Data Folha, permaneceria nas alturas, mas o que dizer da inflação, que diminui as vendas e a confiança do mercado, a incompetência política, incapaz de transformar a inchada base partidária em apoio confiável, as estripulias fiscais da Fazenda de um desprestigiado Guido Mantega, além da excessiva docilidade do Banco Central ? Presume-se, por conseguinte, que os companheiros petistas estejam nervosos com a vindoura prova do prélio das urnas. E, por isso, pensem sempre mais na segurança que lhes traria ter o velho capitão Luiz Inácio Lula da Silva, dourando a chapa dos Partido dos Trabalhadores com a aura das passadas conquistas e a sua telúrica força.
        Não importa que o tempo haja passado, e que Lula não tenha mais o antigo vigor. Ele seria a figura carismática que garantiria, a um tempo, o bom governo evidenciado no primeiro mandato, e a afirmação extra-continental trazida pelo segundo. Pelos tropeços da sucessora, e esquecida das verrugas, a militância sonha com a intervenção salvadora do grande Chefe.
       Nos céus, as nuvens erráticas não semelham trazer bons sinais. Por isso, batem à porta do velho timoneiro, de cuja decisão pendem todos, a começar pela senhora Presidenta.

 

( Fonte:   O Globo )  

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