quinta-feira, 26 de abril de 2012

A Tropa Ruralista

                                       
       Com uma representação deformada, que transforma minorias em falsas maiorias, seria irrealista esperar outro resultado da votação de ontem  desse vergonhoso Código dito Florestal. O legislativo contraria a norma do aperfeiçoamento. Com esse Congresso, corporativista e alienado, não se poderia esperar que prevalecesse o bom senso e o sentir nacional.
       Em consequência, discordo do cabeçalho dos jornalãoes que proclamam a derrota de Dilma na votação. Senhores diretores de redação, não se iludam porque o derrotado em verdade foi o Brasil.
      Quando vejo estampadas as largas,  risonhas carantonhas desses senhores me pergunto de que esses pobres de espírito riem ? De berrarem a céu aberto a sua estulta discrepância com o avanço da ciência ?  
      Ao invés de adequar o código ambiental ao progresso do conhecimento e à experiência ambientalista, eles tratam de piorá-lo pensando agradar os burgos podres de onde saíram.
      Ao favorecerem o desmatamento e a perdoarem as multas das queimadas irresponsáveis, não estão dando apenas um mau exemplo, eis que abrem caminho para novas catástrofes naturais, ao aprovarem ulteriores devastações a par da margem dos rios.
      Quis Mãe-natureza proteger essas margens com as matas ciliares. Tais senhores são ainda mais culpados do que os agricultores que abatem a floresta. A maior parte desses últimos agem por ignorância, e desguarnecem as barreiras naturais movidos pela estúpida ganância dos que não sabem o que fazem.
     Ninguém vá pensar que seria também o caso desses líderes de trampa, na palavra de um presidente já falecido. Como o governador que arremeteu contra as áreas de proteção permanente não podia nem invocar a inexistência de inundações e outros desastres correlatos, dada a  trágica frequência a assolar o seu estado, tampouco tais deputados podem refugiar-se nas pias crenças de favorecer a produção.
     Como as cigarras da fábula, eles cuidam de viver o momento. Mas delas diferem quando as estações mudam. Dirão haver cumprido a sua parte. O que vier depois o atribuirão à fatalidade e deixarão por conta dos que no campo festejarem essa dúbia dádiva o que de mal lhes venha a ocorrer.
     Colhendo o que Lula da Silva demagogicamente plantou, com sua despejada série de suspensões de multa (a par da MP da Grilagem e quejandos), a Presidente Dilma Rousseff agita o veto a esse parecer do Deputado Piau, que está eivado de disposições anti-regimentais.
     Pergunto-me onde estava a bancada do P.T. que perdeu a energia de antanho, e se deixa dominar pelos ruralistas. Ignoram acaso os recursos regimentais ? Viraram carneiros, eles que na oposição defendiam com fervor as respectivas posições ?
     Ouvi que o Planalto na jornada de ontem – nesse Congresso das quartas-feiras – fez tal e tal apelo, buscando demover os senhores deputados de suas nefastas intenções. Permitam-me discordar da palavra apelo. Se os poderes são autônomos, o Palácio do Planalto não é o reduto de uma lider desprovida de influência, alguém que lá tenho ido parar por capricho da sorte. Além do Poder Executivo, dispõe da maior bancada na Câmara, e em torno dessa está cozida uma enorme base de apoio.
     Será que tudo isso só existe para indicar representantes e satisfazer as petições dos estados respectivos ?  Será que essa gente só ouve os chamados quando é do seu interesse imediato ?
    Há muitos meios ainda de desfazer esse atentado contra o nosso maior recurso natural. A inabalável resolução de uma luta sem peias é apenas um desses meios. Se a Presidente da República se conscientizar da real importância da questão ambientalista e agir em consequência, em campanha resoluta, verá em breve que essas carrancas sorridentes, essa falsa maioria de 274 votos em breve virariam nota-de-pé-de-página, dentro da saga ecológica.
    E não se esqueça, Senhora Presidente, que ameaças só se fazem quando se tem a intenção de cumpri-las.



( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

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