A gênese desta CPI, assim como o seu objetivo, podem torná-la canhão solto em convés de velha nave. A direção de seus tiros tenderá a ser imprevisível se não lograrem controlar-lhe o objetivo.
Muitas surpresas saíram de antigas CPIs, a despeito da intenção de seus autores, que pensavam estar em condições de mantê-las sob controle.
O finado Orestes Quércia tinha, por vezes, esse condão. Possuir a maestria de conduzí-las à simbólica pizza não é coisa de somenos.
O problema com a atual CPI Mista estaria na sua potencialidade autofágica. Parafraseando o saudoso Aporelli, no seu entorno pairam no ar muito mais coisas do que os aviões de carreira.
A ideia inicial da CPI que investigará o bicheiro Carlinhos Cachoeira partiu do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fê-lo com a alegada intenção de colocar o próprio desafeto, o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) em dificuldade.
Lula quer dar o troco da revelação de Perillo que alertara o então Presidente da República da existência do mensalão. Falar nisso para Lula já é anátema, e ainda mais supostamente tirar-lhe o tapete da defesa de seu desconhecimento na matéria.
As últimas eleições mostraram, se preciso fosse, que Nosso Guia cultiva rancores e sabe dar-lhes a respectiva paga.
Em política, no entanto, nem sempre o ressentimento se afigura bom conselheiro. Enevoa o raciocínio e leva quem o guarda dentro de si a tomar iniciativas de que talvez se arrependa no futuro.
Tome-se, por exemplo, a presente CPI, de que o projeto terá partido de Lula da Silva. Segundo consta, colheu a pupila Dilma Rousseff de surpresa, pois manda o bom senso político que o poder imperante fuja do tão brasileiro fenômeno da CPI como o diabo da cruz.
Acresce notar que ainda mais do que o comum das CPIs – sabe-se como começam, mas não como acabam – a presente CPMI, dita do Cachoeira, dá muitas aberturas de ataque, e por isso não semelha o instrumento mais aconselhável para ser manejado em público, eis que, como o canhão da estória, só tem uma característica, a da temível imprevisibilidade.
Lançada assim pelo ex-presidente, vista com compreensível inquietude pela presidente em funções, ela tem sido definida por muitos como aquela em que todos são passíveis de ser atingidos, verdadeira briga de foice em quarto escuro.
O Palácio do Planalto tomou as cabíveis providências, apontando para relator um deputado aliado (Odair Cunha PT-MG) enquanto o seu presidente deverá ser o senador Vital do Rego (PMDB-PB).
Nos números, o quadro seria favorável para o governo, dada a disparidade entre situação (41) e oposição (14), com oito independentes. Para completar a ajuda, Renan Calheiros (PMDB- Al) escalou políticos suplentes e inexperientes, deixando para o PT a tarefa de blindar o Planalto. O Deputado Cunha é indicação do Planalto. Candido Vaccarezza (PT/SP), preferido de Lula, volta a ser escanteado por Dilma.
O Presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), com a sua experiência, disse que o Congresso viverá “algum tempo de muitas revelações e turbulências”.
É justamente por isso – caracterizam as CPIs a imagem da retirada dos (maus) espiritos do frasco, e a circunstância de ser um processo (em outras palavras, muitas CPIs se assinalam pelo imprevisto e, sobretudo, pelo relativo descontrole) – que os governos costumam temer sua aparição e tudo fazem para exorcizá-las.
Terá sido por isso que a menos experiente em política, a Presidente Dilma Rousseff não apreciou sobremaneira a ideia do político calejado Luiz Inacio Lula da Silva.Ao mexer esta peça no tabuleiro, será que Lula se deixou mover pela paixão, ao invés de, como nos ensina Platão, manter firmes as rédeas para que prevaleça o corcel da razão?
( Fontes: O
Globo, Folha de S. Paulo )
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