quinta-feira, 5 de abril de 2012

Notícias do Front (14)

                                       
O que fazer do Senado ?

         Demóstenes Torres era havido, até o passado imediato, como uma das raras reservas morais do Senado Federal.
        A sua posterior travessia tem sido refletida, vincada  com aspecto escatológico, no traço de Chico Caruso.  FHC, com a sua sensibilidade, costumava pautar muitas de suas reações à pergunta: como isto pode aparecer amanhã no Chico?     
       Neste aspecto, o intelectual presidente estava certo no atacado e amiúde, no varejo.O depois, às vezes, pode ser mais importante do que o acontecimento em si.
      Como um eco nos rochedos do deserto, a revelação vai repercutir em vários planos. Alguns previsíveis, outros menos, como o do deputado federal Stepan Nercessian, a quem ouvira pedir com ênfase votos para um partido decente, e ei-lo enleado em um empréstimo maroto.
       A porta de saída já está aberta e cabe a quem de direito assumir o que deve ser da liturgia de tais situações.
     A frase não é original, e quem a disse  estendeu em demasia a sua permanência na cena pública.
     De qualquer modo, no Senado, o número dos notáveis  encolhe em assombrosa progressão. Talvez sequer toque os dedos de u’a mão.
     Por isso, a pergunta é mais do que pertinente. O Senado é escândalo por onde queiramos examiná-lo. A começar pelos senadores, em que troneja Renan Calheiros e sua tropa de choque; os suplentes, esta vergonha jurídica da Constituição Cidadã, com o seu carimbo patrimonialista; o pessoal administrativo com as suas múltiplas, imorais, fantasmagóricas diretorias, a viver consignado às sombras que sóem recobrir o submundo do privilégio.



Eleições parciais em Myanmar


      Entende-se a alegria de Daw Aung San Suu Kyi. O seu partido saiu da clandestinidade que lhe fora decretada pelo regime militar de Than Shwe. O sucessor Thein Sein, general reformado, parece ter boas intenções.
      Liderada por Suu Kyi e a sua enorme popularidade na antiga Birmânia, nas eleições parciais para prover 45 cadeiras, a Liga Nacional para a Democracia elegeu  43, com uma cadeira em dúvida, e outra, em que não pôde concorrer, por uma estranha proibição (um dos genitores está no estrangeiro).
      Estará Suu Kyi votada a exercer a influência de seu monumental prestígio (a  Liga ganhou os pleitos também em locais onde a maioria dos votantes eram funcionários do governo militar e membros das forças armadas) ? Eis um quesito por ora sem resposta. Há o temor de reação dos altos comandos contra Thein Sein – por temerem o fantasma do poder popular de Suu Kyi.
     Por isso, as sanções impostas pelo Ocidente estão sendo levantadas, para que o presidente Thein possa mostrar que há uma contrapartida para a sua política, e ela é benéfica para Myanmar.
      De qualquer forma, deve-se ter em mente que o Parlamento para o qual a Prêmio Nobel da Paz Suu Kyi foi eleita tem dimensões de assembleias de antanho, eis que possui seiscentos membros. A maioria governamental é de molde a dar inveja até ao caudilho Hugo Chavez. São quinhentos e cinquenta e tantos a votarem o que o governo manda. A população pode admirar - e idolatrar mesmo - Suu Kyi que fê-lo decerto por merecer. Tão vasto amor, no entanto,  não se reflete por enquanto no plenário do Congresso birmanês. 



( Fontes: O Globo, International Herald Tribune)

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