O que fazer do Senado ?
Demóstenes Torres era havido, até o passado imediato, como uma das raras reservas morais do Senado Federal.
A sua posterior travessia tem sido refletida, vincada com aspecto escatológico, no traço de Chico Caruso. FHC, com a sua sensibilidade, costumava pautar muitas de suas reações à pergunta: como isto pode aparecer amanhã no Chico? Neste aspecto, o intelectual presidente estava certo no atacado e amiúde, no varejo.O depois, às vezes, pode ser mais importante do que o acontecimento em si.
Como um eco nos rochedos do deserto, a revelação vai repercutir em vários planos. Alguns previsíveis, outros menos, como o do deputado federal Stepan Nercessian, a quem ouvira pedir com ênfase votos para um partido decente, e ei-lo enleado em um empréstimo maroto.
A porta de saída já está aberta e cabe a quem de direito assumir o que deve ser da liturgia de tais situações.
A frase não é original, e quem a disse estendeu em demasia a sua permanência na cena pública.
De qualquer modo, no Senado, o número dos notáveis encolhe em assombrosa progressão. Talvez sequer toque os dedos de u’a mão.
Por isso, a pergunta é mais do que pertinente. O Senado é escândalo por onde queiramos examiná-lo. A começar pelos senadores, em que troneja Renan Calheiros e sua tropa de choque; os suplentes, esta vergonha jurídica da Constituição Cidadã, com o seu carimbo patrimonialista; o pessoal administrativo com as suas múltiplas, imorais, fantasmagóricas diretorias, a viver consignado às sombras que sóem recobrir o submundo do privilégio.
Eleições parciais em Myanmar
Liderada por Suu Kyi e a sua enorme popularidade na antiga Birmânia, nas eleições parciais para prover 45 cadeiras, a Liga Nacional para a Democracia elegeu 43, com uma cadeira em dúvida, e outra, em que não pôde concorrer, por uma estranha proibição (um dos genitores está no estrangeiro).
Estará Suu Kyi votada a exercer a influência de seu monumental prestígio (a Liga ganhou os pleitos também em locais onde a maioria dos votantes eram funcionários do governo militar e membros das forças armadas) ? Eis um quesito por ora sem resposta. Há o temor de reação dos altos comandos contra Thein Sein – por temerem o fantasma do poder popular de Suu Kyi.
Por isso, as sanções impostas pelo Ocidente estão sendo levantadas, para que o presidente Thein possa mostrar que há uma contrapartida para a sua política, e ela é benéfica para Myanmar.
De qualquer forma, deve-se ter em mente que o Parlamento para o qual a Prêmio Nobel da Paz Suu Kyi foi eleita tem dimensões de assembleias de antanho, eis que possui seiscentos membros. A maioria governamental é de molde a dar inveja até ao caudilho Hugo Chavez. São quinhentos e cinquenta e tantos a votarem o que o governo manda. A população pode admirar - e idolatrar mesmo - Suu Kyi que fê-lo decerto por merecer. Tão vasto amor, no entanto, não se reflete por enquanto no plenário do Congresso birmanês.
( Fontes: O Globo, International Herald Tribune)
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