Pelos artigos de que a mídia americana é a ventriloqua, não se pode negar que o establishment republicano chegou à conclusão de que a atual disputa intrapartidária entre Mitt Romney, o dianteiro no cômputo de delegados (571) e o rival Rick Santorum (que tem 264) só tende a enfraquecer o candidato do partido, e atribuir vantagem ao Presidente Barack H. Obama, que postula a reeleição a seis de novembro de 2012.
Dada a largada pelo ex-governador da Flórida, Jeb Bush, não só nas tomadas de posição em favor de Romney, mas também e sobretudo nas pressões ao candidato-rival Rick Santorum para que conceda, no interesse da nação republicana e para o bem de todos que almejam fazer Obama morder o chão da derrota nos comícios de novembro, a sua pré-candidatura em prol do ex-governador de Massachusetts. Tal seria a decisão apropriada e sensata, no juízo de tais próceres. Para eles, já estaria demonstrado pela sucessão de primárias o fato de que Mitt Romney é o candidato natural a ser ungido na Convenção de Tampa, na Flórida.
Por outro lado, e sempre de acordo com o consenso dos principais representantes do estamento partidário, seria mais do que hora de evitar a troca de acusações e o conflito intestino no Grand Old Party, o que não consulta ao desígnio da maior parte das autoridades e personalidades representantivas desse partido.
Se no passado, a pré-candidatura de Mitt Romney reunia um apoio considerável, os resultados das primárias – e a circunstância de que o ex-governador dispõe de metade dos delegados necessários para a nomination – tornam a sua posição preponderante e o transformam no natural representante do partido, encimando a chapa para o juízo e escolha do eleitorado em seis de novembro p.f.
Esse consenso dos notáveis se cristalizou com a vitória de Romney em Illinois, derrotando o contendor Rick Santorum por vantagem de dois dígitos. Em outras palavras, a inevitabilidade da candidatura de Mitt Romney teria sido reforçada ironicamente no estado que foi a base política de Barack Obama. Nessa linha de raciocínio, a situação de o dianteiro na corrida metamorfosear-se em candidato republicano estaria muito próxima de confirmação, tão inelutável quanto inexorável no dizer de muitos insiders [1]que correm pressurosos para não perderem o band wagon (a imagem do vagão do trem em que antes viajavam os postulantes aos cargos políticos) do governador Mitt Romney. O ponto final dessa contenda interna seria dado pelo estado de Wisconsin nesta terça-feira, três de abril.
Até o presente, apresentou-se a versão pró-Romney, consoante fraseada pela sua direção de campanha, e pelos representantes do estamento do GOP.
O otimismo seja de fachada, seja autêntico dos diretivos da organização montada por Mitt Romney para esta fase pré-Convenção, foi expresso por um assessor : Rick Santorum só poderia ganhar a luta pelos delegados pela ‘vontade de Deus’. A resposta do ex-senador pela Pennsilvania não deixou dúvidas quanto à sua disposição de permanecer na disputa: “Não sei o que você pensa, mas eu acredito na vontade de Deus.”
As duas principais fraquezas, segundo o catecismo republicano, de Mitt Romney são a sua ‘moderação’ e, como corolário desta, ‘a deficiência de conservadorismo’. Como evidência de tal fragilidade está a sua comprovada incapacidade de vencer primária em um estado sulino, com exceção do Flórida, posto que este estado, por suas muitas idiossincrasias se diferencie do ‘Deep South’ (Sul profundo), onde Romney, malgrado a sua pletora de fundos (e de anúncios na tevê) não logrou vencer em um sequer, sendo derrotado por Santorum e pelo hoje marginal Newt Gingrich em dois outros (Carolina do Sul e Georgia). Ora, depois que o Sul se bandeou para o partido Republicano (em função da melhoria da situação civil dos afro-americanos, que foi alcançada a partir de Lyndon Johnson), todos os candidatos republicanos que se tornaram presidentes tiveram o apoio dos estados sulistas. Ir para a eleição de novembro com um candidato que não conseguiu vencer até agora em nenhum estado do Deep South representa sinalização negativa, e portanto para Romney um risco no particular na contagem dos votos indiretos, pela qual o pleito é adjudicado.
Há outros pontos débeis do atual líder na disputa republicana: alegada falta de caráter conjugada com sua participação em firmas como Bain Capital (especializadas em cortar a gordura das empresas adquiridas, com as consequentes exonerações de empregados). Dentro desse ítem, se deve inserir a sua promoção de reforma de saúde no seu estado de Massachusetts, reforma esta que agora renega na sua oposição ao Obamacare, que reproduz muitos dos principais tópicos da exitosa reforma estadual. Além disso, o seu credo mórmon é um peso negativo, dada a rejeição de muitos eleitores a essa religião adventícia, que preconiza a poligamia.
No entanto, alguns dos pontos que pesam contra Romney e a favor de Santorum (sobretudo os mais conservadores), tenderiam a favorecer o atual líder republicano nas primárias se porventura fosse designado candidato oficial. Pois, ao contrário do ultraconservador Rick Santorum, Mitt Romney poderia ambicionar parte do eleitorado independente nos comícios de novembro. E nesse eleitorado estaria a chave da vitória, seja para Obama, seja para o candidato do GOP. Nesse contexto, a eventual conquista por Rick Santorum da nomination, um evento possível porém improvável, abriria para o presidente Obama a larga fatia do voto independente, afastada de Santorum pela rigidez de seus pontos programáticos.
É provável que Romney vença no Wisconsin. Este triunfo, no entanto, não deverá implicar na renúncia de Santorum à competição. Com efeito, ele espera recuperar em maio a sua trilha de vitórias, visto que os estados em que se realizarão as primárias têm perfil mais favorável ao ex-Senador da Pennsilvania. São quase todos estados do Sul ou limítrofes, v.g. Carolina do Norte e Virgínia Ocidental (8), Nebraska (15), Arkansas e Kentuky (22) e Texas (29).
Se para a campanha de Santorum abril será um mês difícil, com derrotas prováveis em New York, Connecticut, Rhode Island e Delaware, o grande desafio estará na primária da Pennsilvania. A sua vantagem no seu estado natal, antes substancial, hoje quase que desapareceu. Se for aí derrotado por Romney, será muito difícil para ele justificar a permanência na liça. Perdendo para o ex-governador de Massachusetts no estado que representou no Senado a sua posição se tornaria similar à atual de Newt Gingrich, cuja obstinação em aferrar-se a um pleito sem esperança – e que só contribui para dividir o voto conservador e, por conseguinte, prejudicar Rick Santorum – cria perplexidade quanto ao real escopo do ex-Speaker da Câmara de Representantes.
Desde o início da campanha, se sabia que Ron Paul, o libertário, corria em faixa própria, sem outra ambição que inserir um que outro tópico na plataforma da Convenção. Os demais pré-candidatos, quando derrotados irrefragavelmente, não trepidaram em abandonar a arena. Por isso semelha pertinente perguntar qual é a de Newt Gingrich, que não tem mais o que cortar em matéria de fundos, e, a despeito disso, continua na refrega, a colecionar malogros sucessivos.
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