Maus ventos ameaçam recuperação econômica
A Diretora-Geral do F.M.I.,
a francesa Christine Lagarde, deu a
tônica dos encontros em Washington das autoridades financeiras, na primavera
boreal. Para Lagarde um leve vento de primavera traz esperanças de recuperação,
enquanto escuras nuvens permanecem no horizonte.
Com o centro das preocupações nos
problemas econômico-financeiros na área da União Europeia, assim como no
reforço do crescimento econômico mundial, determinou-se que a capacidade de
emprestar do FMI receberá um incremento de US$ 400 bilhões. Tal soma se acha na
declaração a ser divulgada pelo G-20, depois das reuniões do FMI e do Banco Mundial, as quais
terminam neste domingo.Consoante afirmou o Ministro Guido Mantega, as contribuições específicas pelos países do G-20 serão decididas antes da cúpula dos líderes desse grupo, que está marcada para o México, em junho vindouro. Não se sabe ainda qual será o aporte dado pelo Brasil, que com a sua recuperação econômica de devedor passou a credor do FMI. Há da parte dos líderes nacionais, desde o segundo mandato do Presidente Lula, um óbvio e compreensível gosto nessa troca de posições. Estão demasiado próximas as lembranças das visitas das missões de burocratas do FMI, com o seu ritual de incômodos e repreensões.
Em outros tempos, o Ministro Delfim Netto assinava as declarações de compromisso para que o Fundo autorizasse a retomada da peregrinação a bancos e autoridades estrangeiras, à cata de novos empréstimos. As dúvidas quanto à eficácia da contrição do devedor eram partilhados por ambos lados. Não obstante, o ordálio das visitas dos penitentes constituía o ritual indispensável para reativar o infernal mecanismo. Hoje, o Ministro da Fazenda Mantega fala grosso como credor que é. Importa, no entanto, relembrar o comentário padrão de Letícia Bonaparte, mãe do Imperador, quando lhe vinham discorrer das homenagens e glórias dadas a seu filho: ‘Desde que isso dure...’
As maiores inquietudes se concentram na economia europeia, posto que as demais, com os Estados Unidos à frente, tampouco excelem na ansiada recuperação. Dessarte, projeta-se para a zona do euro uma leve recessão. A economia alemã dá sinais de retomada, posto que se duvide de sua capacidade de ir na contramão da crise da dívida soberana nessa área. Assim, a Bélgica e a Itália já registraram dois trimestres sucessivos de recuo da produção, o que vale por início de recessão. A situação da Espanha é conhecida, e os temores quanto à França dizem respeito ao tamanho de sua dívida e o fator imprevisível da próxima eleição, com o crescente pessimismo acerca das perspectivas eleitorais de Nicolas Sarkozy. Dado o programa do favorito, o socialista François Hollande, há a distinta possibilidade de crise agravada de confiança como epifenômeno do resultado do segundo turno de seis de maio.
Na Ásia, continua a decenal estagnação japonesa, e há indicações de uma queda no avanço da China. Essa difusa ansiedade se vê refletida pelos bancos centrais tanto de Beijing, quanto da India, com maiores facilidades de crédito, para resguardar as respectivas economias de choque externos.
O quadro também nos Estados Unidos não semelha muito promissor. Nessa linha, há indícios de que a acentuada queda na taxa de desemprego – em 8.2 % em março último, em comparação com 8.9% em outubro – não mostra tendência sustentada. Se o viés descendente do desemprego perder a força, os empregadores ficarão ainda mais prudentes em contratar nova mão-de-obra. Com a queda na produção industrial e na venda de casas apontam para nova parada (slowdown) na primavera, como sucedeu em 2010 e 2011.
Entre o touro e o urso (o mercado em alça ou em queda), verificam-se discrepâncias nas previsões dos especialistas. O nível de crescimento da economia americana, estimado para um chocho 2,5% para 2012 se insere neste cenário econômico não particularmente dinâmico.
Não há de escapar do leitor que esses indicadores são muito mais importante às vésperas dos comícios de seis de novembro, do que o seriam em outras conjunturas.Uma eventual elevação na taxa de desemprego, quebrando a direção mantida desde o ano passado, representa o ensombrecimento das perpectivas de reeleição de Obama.
De acordo com a postura tradicional do eleitor, quanto pior vá a economia do país, mais escassas se mostram as perspectivas do presidente em exercício de conseguir o segundo mandato.
Desse modo, pendurada em índices macro-econômicos sobre os quais não tem nenhum controle, a popularidade de Barack Obama será também condicionante do estado geral da economia, de seu crescimento e sobretudo de sua taxa de desemprego. Se por um capricho da Deusa Fortuna essa última voltar a aumentar, a sorte do democrata ficará ligada àquela de Jimmy Carter, em 1980, e de George H.W. Bush, em 1992, que tiveram denegada pelo Povo americano a sua pretensão de um segundo mandato.
( Fonte:
International Herald Tribune )
Nenhum comentário:
Postar um comentário