segunda-feira, 23 de abril de 2012

Notícias do Front (16)

                                     
        Fraqueza Diplomática ?

        Há limites para a inação em tudo, inclusive na diplomacia. O fato de o país em que um agente diplomático esteja acreditado ambicione manter boas relações com o país acreditante não interfere com a atitude a ser tomada caso este diplomata proceda de modo inconveniente.
       A maneira com que o senhor Hekmatolla Ghorbani procedeu em um clube de Brasília no sábado catorze de abril está fora de qualquer marco de bom comportamento social. Definir isto como  ‘mal-entendido’ é o cúmulo do cinismo, ainda mais partindo de  cultura em que os diplomatas evitam o cumprimento do aperto do mão com as esposas dos agentes diplomáticos.
       Aqui não se trata de pedir explicações sobre procedimentos inaceitáveis, testemunhados por um bom número de pessoas. O Brasil, sendo país soberano, signatário de Convenção de Viena, deve saber que há duas soluções factíveis para esse caso. Ou a missão iraniana é, de forma voluntária, convencida quanto à conveniência da imediata partida do diplomata, ou, na hipótese de recusa, tê-lo declarado pela Chancelaria brasileira persona non-grata, o que implica na sua imediata remoção de nosso território.


A Votação do Código Ruralista


        Concordo plenamente com o artigo publicado pela Folha a 21 do corrente, de  autoria de Leão Serva, sob o título : ‘O novo Código Florestal é um avanço ? NÃO  - Uma proposta indecente (e vingativa)’.
       Na verdade, o que ora assistimos é a continuação da longa tramitação desse arremedo de Código, que tenho chamado de Ruralista. Na legislatura passada, presenciamos a obra regressiva perpetrada pelo Senhor Aldo Rebelo (PCdoB-SP), conduzindo o seu alegado relatório por cerca de setenta audiências, às quais teve o nímio cuidado de não convidar qualquer especialista em meio-ambiente digno desse nome. Decerto, não lhe aproveitaria o parecer e os contributos de cientistas, técnicos e pessoas inteiradas dos avanços da ecologia e de maneiras inteligentes e atualizadas de estabelecer  convivência sustentável com mãe-Natureza.
       Ontem foi o Dia de Gaia, que aqui pelo visto não se comemora.
       Não poderia concordar mais com o que aponta o jornalista Serva, acerca da distorção na representatividade eleitoral. De resto, a leitura do meu blog demonstra que também para mim aí está a causa precípua desse apoio por inchadas maiorias a proposições que são rechaçadas pela sociedade civil.
       É relevante que se exponha o autismo das autoridades brasileiras com relação a esta proposta indecente, costurada por um outro deputado, o senhor Paulo Piau (PMDB-MG), que na sua nefária obra é um  seguidor de Rebelo. Somos os anfitriões do Rio + 20, e, no particular, o governo exibe estranho comportamento para honrar tal evento.
      Ao invés de assumirmos os progressos da ciência no campo do ambientalismo, parece que nos associamos ao melancólico amálgama dos inimigos do meio-ambiente, que seguem a política de Esaú – o prato de lentilhas da devastação e da alienação seria preferível à sensata escolha de Jacó !
     Não me reporto àquela curiosidade fajuta, feita para simular possível espírito aberto ao ambientalismo. De que serve pretextar interesse em esquemas ecológicos em que a criação de gado e a agricultura podem coexistir com a preservação da floresta, como referiu o Presidente Lula da Silva a um especialista estrangeiro de renome ? A valia dessa abertura – pedir documentação para melhor informar-se – é  gesto hábil e esperto, mas nada aproveita se da formulação de tal pedido nenhuma sequência prática há de ocorrer. Pois esta matreirice tem fôlego curto. E todos sabemos para onde foi a profusa literatura que o especialista renomado terá enviado ao Palácio.
     Depois disso, alguém se surpreenderá se as multas aos devastadores continuaram a ser suspensas, e se MPs vergonhosas, como a da Grilagem continuaram a cevar a fome de desmatamento e desrespeito ?
    Se as falsas maiorias na Câmara refletem o descalabro do sistema representativo em nossa terra – voltamos, sobretudo por imposição do regime militar, à era dos burgos podres, derribados na Inglaterra, na terceira década do século XIX,e de forma pacífica, pelas reivindicações de eleitorado que não via a sua vontade refletida pelo Parlamento – nossos governantes, com a sra. Dilma Rousseff à frente, devem honrar seus compromissos com a democracia autêntica e com o interesse nacional.
   Salta aos olhos que não consulta ao  Brasil que dilapidemos o  patrimônio de recursos naturais, que é único no mundo, pela ganância de muitos e pela demagogia de uns poucos, que julgam aceitável desfazer   obra de gerações.
   Mostre ao Brasil, senhora Dilma Rousseff, que não foi em vão que assinou o compromisso ambiental, às vésperas do segundo turno de sua eleição.
    Haverá muitas maneiras legais de interromper esse infausto cometimento da caricatura de mau gosto de novo Código Florestal. A sua Ministra do Meio Ambiente, pesa-me dizê-lo, não tem a força nem a determinação que tal grave ameaça ao patrimônio do Brasil faria por merecer.
    Melhor do que vetar o aleijume do Código Ruralista, saído da alfaiataria Rebelo – Piau, será exibir interesse e empenho na questão, reações até o presente não detectadas. Se o Congresso está em descompasso com o sentir da Nação, a Presidente não pode ficar inerte diante deste lamentável estado de coisas. Se o ambientalismo lhe pareceu importante para conduzi-la à Presidência, no momento presente a senhora carece de mostrar autêntica liderança a respeito, fazendo as consultas imprescindíveis, e tentando incutir bom senso a quem, embriagado por falsas poções, se acredita senhor também da destruição e do insolente perdão às multas suspensas por Lula da Silva.
    Se a senhora é mesmo uma lutadora e líder engajada em justas causas, esta é uma delas. Não é do seu interesse lavar as mãos em bacia de prata. O impossível não existe na política. Há muitos meios legais de impedir que esse verdadeiro Frankenstein venha, para nosso opróbrio, transformar-se em vivo ultraje ao testemunho e ao legado de Chico Mendes.  




( Fontes: O Globo,  Folha de S. Paulo )


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