Das Prisões da Bielo-Rússia
Ao ditador Alexandr G. Lukashenko hão de incomodar as pesadas
sanções baixadas pela União Europeia. A motivação das penalidades se deve à
falta de liberdade política nessa antiga república da ex-União Soviética.
Lukashenko está no poder desde 1994.Para alguns seria o derradeiro déspota na
Europa, embora ainda existam muitas repúblicas nesse continente em que a
democracia, essa tenra plantinha, pode ser apenas um disfarce, como, v.g., na
Ucrânia.
Lukashenko, que deve ser nostálgico dos
tempos da URSS, sufoca impiedoso qualquer tipo de oposição e crítica. A
economia bielo-russa pouco mudou desde aqueles tempos, eis que oitenta por
cento da indústria se acha sob controle estatal.Por outro lado, esse país de dez milhões de habitantes, feudo de Lukashenko, dificilmente se manteria em tal situação não fora o apoio dado por Moscou, sua antiga metrópole.
Sem embargo, tal arrimo pode sair-lhe caro. O próprio ditador Lukashenko já acusou o Kremlin de intentar solapar a sagrada soberania da Bielo-Rússia.
Com as novas sanções de Estados Unidos e U.E. – congelamento de depósitos de autoridades bielo-russas e denegação de vistos - o tirano procura margem de negociação ao libertar dois proeminentes políticos oposicionistas, i.e. o antigo candidato à presidência Andrei Sannikov e seu chefe de campanha, Andrei Bondarenko.
Os dois políticos – atividade de alto risco na terra de Lukashenko – tinham sido trancafiados nas masmorras da ditadura, junto com outros setecentos elementos, pelo crime de ter disputado a presidência com o Senhor da Rússia branca. Desde 2010 eles estavam presos, por protestarem contra a generalizada fraude nas eleições presidenciais. Essa característica do pleito – que infelizmente não se cinge à Bielo-Rússia – havia sido denunciada pelos observadores ocidentais,os quais pelo visto não entenderam o propósito do bom Lukashenko de preservar o poder a todo custo.
Não se sabe o que foi feito dos setecentos outros infelizes agrilhoados pelo ditador.
A Ditadura
Islâmica de Teerã
Já no tempo da monarquia do Xá Rezha Pahlevi as coisas não eram muito diversas para o iraniano que se atrevesse a contestar o regime. A despeito da revolução de que foi símbolo o Ayatollah Khomeini, a extrema liberalidade evidenciada na luta para derrubar o Xá – em que todos, inclusive os comunistas do partido Tudeh eram bem-vindos -, tão logo o ayatollah chegou a Teerã e instalou a islâmica república, as coisas mudaram radicalmente para os elementos, dedicados sem dúvida à causa da derrubada da monarquia, mas suspeitos de visões divergentes das intenções do Imã.
Esse processo tem continuado, eis que, para desagrado dos mullahs, hoje mais gordos e afluentes pelos anos no poder, a insatisfação subsiste, com o obstindado dissenso ressurgindo, apesar de tudo.
A guerra contra a tirania é uma longa e sofrida campanha. Até o presente, os clérigos autoritários têm prevalecido, e o seu atual representante é o Supremo Lider, Ali Khamenei que tem sofrido contestações até de ayatollahs de Khom, a cidade sagrada da seita xiita. No entanto, com a assistência da malta conservadora (o termo utilizado para os adeptos do poder discricionário dos mullahs) várias tentativas de liberalização do regime tem sido rechaçadas. O Presidente moderado Mohammad Khatami não logrou avançar no seu escopo democrático. Mais tarde, em protesto contra o esbulho das eleições fraudulentas de 2008, em que se ‘reelegeu’ Mahmoud Ahmadinejad, então aliado de Khamenei, despontou o Movimento Verde, liderado pelos dois candidatos prejudicados, i.e. Mir Hossein Mousavi e Ali Karroubi.
Com a ajuda das milícias e dos Guardiães Revolucionários (além de tribunais kanguru), a insurreição civil foi abafada. Os expurgos se sucedem, na faina incessante dos truculentos defensores da ordem islâmica. Para tanto, as listas de candidatos costumam ser diligentemente escoimadas de indivíduos suspeitos de democratismo. Até que surja mais uma contestação, prossegue a ingente faina dos zelosos bedéis (e carrascos) da ordem personificada pelo Ayatollah Ali Khamenei.
Se abstrairmos a dúbia motivação dos diligentes mullahs, se pode até sentir algo vizinho da comiseração por tal denodado esforço, que está na natureza da respectiva dominação, como nos ensina o artigo de Ray Takeyh, especialista sênior no Conselho de Relações Estrangeiras.
O Atoleiro Sírio
O próprio, em geral cauteloso, Secretário-Geral Ban Kimoon não deixou de exprobar a Bashar al-Assad pelos contínuos bombardeios que alvejam os seus infelizes compatriotas em Homs e alhures.
Malgrado muitos digam a boca-pequena do fracasso do plano das Nações Unidas, por falta de alternativa, ele continua de pé, não fora a presença de centenas de observadores sob a bandeira azul da ONU, uma forma de constrangimento e de moderada pressão para conter uns tantos abusos do déspota sírio.
Por carecer de persuasão mais forte e armada, a intervenção dos capacetes azuis em veste de observação exclusiva, não haverá de criar óbices maiores aos desígnios do presidente Assad que, como se tem amplamente visto ao longo dessa comprida sublevação – que se acerca da marca dos dez mil mortos - é bom de promessa, mas não de traduzi-las em efetiva realidade.
O que tem, por ora, salvo Assad de entrar na barca de Muammar Kaddafi são as circunstâncias de ainda dispor de exército bem municiado e fiel a seus comandos e o comovente apoio prestado pela Rússia (que impede a aprovação de qualquer intervenção internacional pelo Conselho).
O único detalhe discrepante dessa teia de sustentação do ditador Bashar é a sua rejeição pela grande maioria da população síria. Queira gospodin Vladimir ou não, a dinâmica demográfica é contrária no seu incoercível curso aos veementes votos de al-Assad e sua base, que está em processo de encolhimento.
Por quanto tempo isso irá perdurar, é uma outra estória.
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