Depois de várias voltas e reviravoltas, o projeto de investigação parlamentar acerca das atividades do bicheiro Carlinhos Cachoeira e de seu amigo, o Senador Demóstenes Torres, recebeu o inesperado empurrão do ex-Presidente Lula da Silva.
A motivação de Lula é clara. O propósito será o de criar dificuldades para o seu desafeto, o governador Marcondes Perillo (GO/PSDB), a quem jamais perdoou tê-lo alertado em 2005 da existência do mensalão, e tornada pública essa comunicação. Como ora se menciona audiência do tentacular Cachoeira com Perillo, Lula pensa que a exposição disso pela CPMI possa trazer água para seu moinho e o do PT.
O ressentimento é mau conselheiro. Tampouco semelha sensato, do ponto de vista do governo e da base, destampar a garrafa das CPIs, que em geral monopolizam a atividade do Congresso e lhe entorpecem os já débeis meios no atendimento dos interesses da Administração.
Surpreende, assim, que o velho corcel tome as rédeas nos dentes, sem que a nova responsável dê impressão de ter voz em capítulo. Trazer para comissão parlamentar de inquérito os mesmos princípios de aparente não-intervenção seguidos por d. Dilma será tentativa de aplicar para duas situações diferentes idêntico paradigma.
E ao contrário do bem-comportado ritual da faxina, a CPI pode ser um poço de surpresas, eis que a imprevisibilidade tende a ser uma de suas características mais arraigadas.
Assim, o aprendiz de feiticeiro do PT, que julgava possível delimitar as atividades da CPMI, restringindo-as àquelas que incomodassem a oposição, teve de ceder e admitir a investigação de agentes privados ligados ao bicheiro. Ao abrir o frasco, fica depois difícil convencer os gênios maus a uma triagem de modo a que uns devam ser examinados, e outros não.
No entanto, há uma larga trilha pela frente, para que se determine da possibilidade de investigação ampla, incluindo agentes públicos e privados citados ou envolvidos nas práticas criminosas do bicheiro.
A representação da oposição na CPMI é muito fraca – seis parlamentares titulares contra 24 governistas – e tudo depende do presidente e relator a serem escolhidos, para delinear a trajetória da Comissão. Há muitas comissões que já nasceram natimortas, e outras que evoluíram para surpreender a administração como, v.g., a dos Correios, que desembocou na revelação do Mensalão.
Além das cômicas perspectivas de que justiceiros se descubram de repente enleados nas vestes e no papel de acusados, correm rumores de que o PT e seu Presidente, Rui Falcão, queiram valer-se da algazarra da CPMI, para atrapalhar o próximo julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.
Em nossa Corte, o futuro presidente, Carlos Ayres Britto, deseja colocá-lo com a devida presteza em pauta. A importância de seu juízo é demasiada para que, com eventuais maiores tardanças, se deixe passar a oportunidade, permitindo que os acusados escapem pela porta dos fundos da prescrição.
Nos dois casos, há todo interesse da participação da opinião pública.Foi através de sua pressão que, no passado, se pôde levar a termo processos de que forças políticas tentavam maquinar o entorpecimento e a prática inviabilização.
( Fonte: O Globo )
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