segunda-feira, 2 de abril de 2012

Notícias do Front (13)

                                
O Brasil e os assassinatos de jornalistas


        Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas, 909 jornalistas foram mortos de 1992 até hoje no mundo.  Na lista de países em que se mata esses profissionais da imprensa, o Brasil ocupa o 11º lugar, com 21 mortos. Por sua vez, o Paquistão é o 6º (42 mortos) e a Índia é a 8ª, com 28.
       Ora para surpresa de muitos, numa reunião em Paris da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a 22 e 23 de março, a  delegação brasileira se aliou a esses dois outros países para impedir a aprovação imediata de plano de ação da ONU, que tem o objetivo de tentar  reduzir o assassínio de jornalistas no mundo, assim como combater a impunidade que costuma acompanhar muitos desses crimes.
      É deveras estranho que o Brasil, sob pretextos procedimentais, se associe  a Paquistão e Índia, com o escopo inconfessável de ganhar tempo no que tange à aprovação da medida. Ao não dar o seu apoio imediato, se posterga a apreciação do plano de ação para 2013. E não é muito difícil determina a quem aproveita esse gênero de procrastinação. Para tanto, a diplomacia brasileira não se afigura em boa companhia.
      Saddam Hussein não gostava de mensageiros, sobretudo aqueles que, por dever de ofício, lhe traziam más notícias. A democracia brasileira deveria prescindir da hipocrisia das supostas protelações para atrasar a aprovação de tais medidas.
     Como todo plano internacional, o seu efeito benéfico só poderá ser indireto, através da maior divulgação, acompanhamento e controle de casos em que os profissionais da imprensa são impedidos de exercer as suas funções, mormente quanto vítimas da violência.
     País não-conflagrado por graves problemas como são o Paquistão (frágil democracia sob a tutela do exército) e a Índia, grande democracia com grandes problemas, o Brasil perdeu boa ocasião de associar-se ao bom combate, pois, em princípio, não é de crer-se  que lhe aproveitem os maus tratos e a eliminação física dos jornalistas.


A Rússia de Vladimir Putin   


     Mikhail Khodorkovsky é um preso do sistema penitenciário russo, onde cumpre a sua segunda condenação judicial – que foi consecutiva à primeira – pela simples razão de haver ousado contrariar ao todo-poderoso presidente Vladimir Putin. Preso desde 2003, a ele não se permitiu que saísse da prisão por decurso de pena. O Kremlin tratou de prorrogar-lhe o status de penitenciário, para tanto empregando os argumentos da força nua do poder, ao servir-se de mais um juiz dócil às suas determinações. Esse ignavo vetor dos mandamentos de gospodin Putin, além de  ter o nome associado à flagrante injustiça, teve apenas, como reprimenda, ouvir em silêncio a objurgatória da mãe de Khodorkovsky, quando o diktat foi lido.
     O International Herald Tribune publicou nesta passada semana ‘Notas de trás da cerca’, escritas pelo prisioneiro Khodorkovsky. Nelas, com visão serena, ele se ocupa de personagens, detentos como ele no vasto arquipélago russo de penitenciárias. Procura compreendê-los mais como vítimas do sistema que algozes da sociedade. O leitor verifica que a têmpera de Mikhail Khodorkovsky não foi quebrada pelo poder autocrático. O antigo mega-empresário da companhia de petróleo Yukos não se deixa amargurar pelos abusos sofridos, nem abaixa a cabeça diante do déspota. Nesse estado de espírito se acharia quem sabe a razão determinante das condenações sucessivas.
     Se a qualidade literária não há de comparar-se, a leitura dessas notas de um penitenciário traz à lembrança o livro de outra vítima ilustre do absolutismo de todas as Rússias. Com efeito, após cumprir pena na Sibéria, Fiodor Dostoievsky escreveu as ‘Recordações da Casa dos Mortos’. Ao descrever as condições da prisão, o escritor russo teve o cuidado de assinalar que os eventuais excessos já tinham sido superados por determinação da clarividente autoridade tzarista. Terá sido nota indispensável decerto para que aquelas memórias passassem indenes pelo crivo dos censores...


Assad e o Plano Annan

     Não são nada favoráveis os primeiros ecos vindos da conflagrada Síria acerca da eficácia do Plano Annan. Há notícias de boa fonte de que os esforços de Kofi Annan de intermediar a paz e encetar transição política foram respondidos por Bashar al-Assad com novos ataques nas províncias de Aleppo e Idlib. Reincide assim o tirano de Damasco no comportamento habitual: com a direita, ele acena com ramo de oliveira, mas com a esquerda cuida de lançar as forças de segurança e o exército contra a oposição.
    Os ‘Amigos da Síria’, no entanto, já se reuniram neste domingo para agilizar o apoio internacional à revolução síria. A Administração Obama e vários países da Liga Árabe já prometeram contribuir num total de cem milhões de dólares, que se destinam a dar soldo ao Exército Livre da Síria, bem como equipamentos de comunicações, o que assistirá os rebeldes sírios a melhor se organizarem e evitar as forças militares do regime.
      Diante do veto russo no Conselho de Segurança, a nova tática dos amigos da revolução síria equivale a uma ‘guerra por procuração’ (proxy war), que se volta não apenas contra o exército de Assad, mas também para os seus aliados, notadamente Rússia e Irã.
       A Secretária de Estado, Hillary Clinton, disse, a propósito: ‘O mundo deve julgar Assad pelo que ele faz, não pelo que ele diz. Não podemos nada fazer e esperar por mais tempo.’
      A anfitriã da reunião foi a Turquia de Recep Erdogan. O Primeiro Ministro turco, após enfatizar que seu país não tinha a intenção de interferir na Síria, mas não podia assistir passivamente enquanto a oposição definhava numa confrontação desequilibrada com o armamento moderno do governo Assad. E acrescentou: ‘Se o Conselho de Segurança hesita, não haverá outra opção senão apoiar o legítimo direito do Povo Sírio de defender a si próprio.’
      Nesta segunda-feira, dois de abril, Kofi Annan deverá informar os quinze membros do Conselho. A esse propósito, a reunião instava o ex-Secretário-Geral a estabelecer um programa de ação (timeline) no que respeita a iniciativas na Síria.
       Nesse contexto, as ações de Bashar al-Assad estão conformes a seu comportamento pregresso, e não ao acordado com Kofi Annan. Continua o bombardeio das vizinhanças  de Homs, em Khalidiyeh e outras áreas da cidade. Há também choques em Damasco e metralhamento pesado na província de Daraa.
      Por outro lado, prosseguem as restrições contra jornalistas. Como sempre, as promessas de Bashar são obviamente encaradas por ele como meios para ganhar tempo, e não como indicativo de que esteja de boa-fé, e disposto a criar condições conducentes à paz.




( Fontes: Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )

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