O assassino, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, desempregado, entra na Escola Municipal Tasso de Oliveira por volta das 8:15hs. Reconhecido como ex-aluno, facilitam-lhe o ingresso por sua alegação de que participaria das atividades comemorativas do quadragésimo aniversário da instituição.
Wellington adentra o edificio com a intenção de matar. Traz consigo dois revolveres, um calibre 32, o outro calibre 38, carregados e com muita munição suplementar. Serve-se, inclusive, de sofisticados carregadores com seis balas, o que lhe permite recarregar as armas em pouco mais de um segundo.
Na sua mente perturbada, quer matar as meninas e não os meninos. Os seus quinze minutos de homicida abatem dez meninas e dois meninos. Os tiros na cabeça são desferidos de cima para baixo, penetrando pelo cérebro e saindo pela boca ou queixo.
Avisa aos infelizes que vai matá-los e manda que fiquem de costas.
Além dos mortos, a sua fúria deixa doze vítimas feridas, duas em estado grave.
O barulho dos tiros e a confusão no colégio chamou a atenção do sargento da PM Márcio Alexandre Alves, que estava em blitz próxima ao local. O sargento intercepta Wellington que subia pela escada para o terceiro andar. Este procura alvejá-lo, porém o sargento da PM é mais rápido e o atinge no abdomen.
Wellington cai e, sem hesitar, se suicida com tiro na cabeça. A comoção no colégio, no bairro e na própria cidade pode ser imaginada. Todos os notáveis do estado com o governador à frente, acompanhado pelo prefeito, vêm à escola. Em cerimônia no Palácio do Planalto, a Presidenta Dilma Rousseff, com a voz alterada e os olhos marejados, pede um minuto de silêncio, aos convidados de ato oficial dedicado aos microemprendedores.
O cenário internacional.
O Brasil já assistiu a muitas chacinas, mas não há aqui precedente para este ato isolado de Wellington, voltado contra adolescentes e sobretudo garotas.
O atentado mais difundido – objeto inclusive de filmes, como o de Michael Moore – foi no ginásio de Columbine, em Littleton, no Colorado. Em ato de vingança, em 20 de abril de 1999, Eric Harris e Dylan Klebold matam treze pessoas, inclusive um professor, e depois se suicidam. Outro massacre, realizado em 2007 pelo sul-coreano Cho Seung-hui, dizimou 32 pessoas (entre alunos e professores), na Universidade Virginia Tech. Cho também se suicida. Antes enviara fotos, vídeos e uma carta à TV NBC News, em que aparece empunhando as duas pistolas que utilizaria, e diz: “vocês me levaram a fazer isso”. Há outros massacres nos Estados Unidos, mas igualmente na Escócia (1996), no Azerbaijão (2009) e na China (2010), todos perpetrados por homem solitário que costuma arrematar o crime com a própria execução.
Citam-se dois casos em Israel: em 25 de fevereiro de 1994, Baruch Goldstein, colono americano-israelita, entra na mesquita Ibrahimi com uma metralhadora e mata trinta fiéis palestinos, além de ferir a muitos outros. Goldstein morre no fogo cruzado. Por sua vez, em março de 2008, palestino armado com fuzil M-16, penetra no seminário rabínico Merkaz HaRav, em Jerusalém, e abate nove estudantes, deixando cerca de vinte feridos. Entretanto, esses dois casos não podem ser confundidos com os demais. Estamos diante de exemplos de violência em Israel, que se integram em um choque político mais amplo, na luta dos palestinos pela liberação dos territórios ilegalmente ocupados por Israel ao cabo da guerra dos seis dias, de junho de 1967.
Perfil do Assassino.
Wellington era filho adotivo. Morou na rua Piraquara em Realengo, a menos de um quilômetro da escola. Mudou-se para Sepetiba há menos de ano, depois da morte da mãe por infarto. Calado, solitário, não há histórico de violência familiar. Na sua carta de despedida, encarece ser sepultado ao lado do túmulo da genitora.
Criou-se no culto da Igreja Testemunhas de Jeová, em Santa Cruz. Nos últimos tempos, quando foi morar sozinho, deixou a barba crescer e passou a vestir roupas pretas.
Trabalhou em empresa de alimentos, como auxiliar de almoxarifado. Como a firma determinava aos funcionários não usarem barba, terá sido a causa de sua demissão em agosto de 2010.
Recolheu-se depois disso, levando existência solitária. Cresce bastante a sua barba e em contatos familiares se mostra partidário de soluções violentas. Sem embargo, essa violência ele não a demonstraria até o dia sete de abril.
Retraído, não falava com os vizinhos, e costumava ausentar-se de casa, para a qual retornava ao fim da tarde. Onde ficava entrementes não se sabe.
Nascido com um defeito na perna que o fazia coxear, era vítima de graçolas e ditos ofensivos dos colegas, em mais um exemplo do bullying que sempre existiu por aqui – como, de resto, em toda a parte – mas que só agora parece na moda, sendo apontado como mais uma importação dos Estados Unidos. O que aconteceu com o cabisbaixo e discreto Wellington é um fenômeno anunciado, pela tendência dos coetâneos de extravasarem a própria insegurança na pele de alguém que se afigure mais fraco, seja lá por qual razão. A única importação aqui dos Estados Unidos não passa de outro macaquear de palavras e atitudes da terra de Tio Sam. Para muitos, fica mais bonito chamar tão execrável comportamento de bullying e de aduzir que estamos apenas copiando o exemplo alienígena...
Por haver destruído o respectivo computador e os eventuais disquetes, será árduo determinar como realmente pensava o infeliz Wellington que, por falta de atenção e tratamento adequado, descambaria para este morticínio. Difícil, sem dúvida, mas não impossível. Não é de estranhar a facilidade desse rapaz em munir-se de um senhor arsenal, a par de realizar macabro treinamento para a perpetração da tragédia. Não terá tido nisso nenhum instrutor ? Como conseguiu adquirir os revólveres que, como nos dizem, são de compra proibida por particulares, sem a devida autorização burocrática ?
E onde aprendeu a fé islâmica ? Basta descrever-lhe a indumentária e a longa barba, para alguém que, por razão de ofício, pode vislumbrar os integristas, não alimentar muitas dúvidas quanto a direção e as vestes da fé de Wellington e salafitas.
Outro aspecto interessante são as recomendações que estipula o suicida – após a realização de um ato que julga heróico e que pensa abrir-lhe afinal o convívio com as 72 huris no vasto paraíso islâmico -, frisando envolvê-lo em alvos lençóis, e que não seja conspurcado por mãos impuras. Essa carta de Wellington não difere muito da missiva de Mohamed el-Atta – o condutor do ataque terrorista às torres-gêmeas, no dia onze de setembro de 2001.
Dada a sua aparência, e falta de jeito no convívio com as moças, a sua solidão se terá exacerbado. Terá assim sublimado o repúdio do sexo feminino em atitude de alegado menosprezo. Desta forma, explicam alguns a sua singular preferência em matar meninas, ao invés de meninos. Se para tentar entender a loucura, às vezes é forçoso partilhar de seus absurdas visões e interpretações, não me parece muito provável que o ensandecido Wellington tenha despejado as suas balas como vicária vingança de foras e de negativas recebidas.
Dentro de sua fé, nova mas aparentemente fervorosa, Wellington terá abraçado credo islâmico nas suas linhas mais radicais, em que os talibans viram moderados. Na versão xiita do islamismo a mulher não pode ser tocada, nem sequer cumprimentada,por qualquer estranho, pela simples razão de que, se estiver no período impuro, forçará o ignaro cumprimentante a um complexo ritual de purificação.
Adorando a própria mãe, mas menosprezando as demais mulheres – que não lhe chegavam aos pés – Wellington ao direcionar a sua vindita ao colégio em que terá passado por momentos desagradáveis, terá julgado, na sua destrambelhada lógica, que entre meninos e meninas, deveria poupar àqueles e a fustigar aquelas.
Pensando no futuro.
Não há dor maior para um pai do que perder um filho ou uma filha. Primeiro, porque biológica e racionalmente não faz sentido. Não se supõe, em sã mente, que a sina dos pais é a de enterrar os próprios filhos. Segundo, o corolário da sensação.
A visita do senhor governador e do senhor prefeito foi ato de comiseração cristã. No entanto, seria interessante que o brutal, estúpido, devastador sacrifício imposto a pais e mães não se esvaia em ditos coléricos e presenças efêmeras.
A violência campeia por toda a parte, e um acontecimento como o de Realengo pode bater em teclas erradas.
Sugiro, portanto, pequena e módica providência: postar um guarda na porta de entrada da instituição e submeter visitantes e frequentadores ao exame simples do detector de metais.
Creiam-me, autoridades que ontem choraram por causa das vítimas inocentes, invectivando e condenando o facínora, os meninos e meninas da Escola Municipal Tasso da Silveira terão, nos muitos dias de uma vida que desejamos longa e profícua, maior motivo para entoar loas a esses poderosos personagens, se lhes for prestada a pequena dádiva, que pela sua oportuna utilidade e eficácia pode até dispensar planos e programas talvez mais abrangentes, mas que na realidade das contas públicas muito breve se transformam em lindas miragens.
( Fonte: O Globo )
sábado, 9 de abril de 2011
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