Assad sob assédio
O ditador Bashar al-Assad procura ganhar tempo com promessas vazias, porque não cumpridas seja por ele próprio, seja por todo o aparelho de segurança no qual apóia a tirania herdada do pai, o general Hafez al-Assad.
Acena com a liberdade para os sírios, desde que as primeiras manifestações e protestos surgiram na cidade de Daraa, ao sul. No entanto, em toda parte as multidões são recebidas à bala.
As mortes dos demonstrantes se aproximam da centena. É difícil precisar-lhe o número exato, porque al-Assad parece ter apreendido a lição do seu aliado Ahmadinejad – que não se pejou de elogiar as revoluções tunisiana e egípcia, a despeito da brutal repressão reservada aos partídários da democracia na sua própria terra. A lição é a do banimento da mídia, e em especial a estrangeira. As verificações dos massacres são impossibilitadas pelos esbirros do tirano.
Não é de molde a tranquilizar al-Assad a circunstância de que, malgrado os hercúleos esforços da segurança e do exército, a revolta não se cinge à empobrecida cidade de Daraa, na fronteira com a Jordânia. Com efeito, há registros de perturbações em Douma e Kafr Sousa, subúrbios da capital Damasco, e por todo o país, como o indicam manifestações em Latakia, Homs, Baniyas e Kamishli.
Cerca de 25 mil pessoas se congregaram nas vizinhanças de Daraa e marcharam para a cidade de Al Sanameen. Na entrada citadina, os manifestantes foram sustados por uma barreira do exército. Como os populares tentaram forçar o ingresso, o destacamento militar de cerca mil homens abriu fogo. Houve vítimas, mas apesar da reação militar, a multidão não se dispersou.
Em fenômeno que caracteriza muitas revoluções – e que assusta a muitos déspotas – os civis procuram confraternizar com os militares. Os cantos são de ‘povo e exército são uma só mão’. Também se ouviu : ‘com o nosso sangue e nossas almas, nós nos sacrificaremos por ti, Daraa.’
Pensando reagir contra a insatisfação da sociedade, além de prometer acolher com ramos de oliveira as reivindicações populares, Bashar al-Assad reuniu a dócil assembleia, para proferir discurso em que anunciou a demissão de seu gabinete, e imputou à ardilosa mão estrangeira todos os males que ora se abatem sobre o país.
Omitiu, no entanto, o que o homem da rua desejaria ouvir, a derrogação da detestada lei de emergência – que propicia e acoberta todo o arbítrio -, em vigente na Síria desde 1963.
Se o filho de Hafez al-Assad não semelha ter a têmpera, nem a argúcia do pai, Bashar só conseguirá sobreviver à tormenta, se a aliança tecida por seu pai resistir às forças desencadeadas pelo vendedor de frutas da Tunísia. A família al-Assad, que pertence à seita minoritária dos alauítas, está no poder há 40 anos em esquema de sustentação que envolve o controle do exército, de um aparato de segurança, e o apoio de outras minorias religiosas, inclusive cristãos, e da elite sunita dedicada ao comércio e aos grandes negócios.
A esse respeito, Bashar al-Assad se depara com dois agourentos epifenômenos: Daraa é habitada por maioria sunita, que tem sido bastião do regime, contribuindo com chefes militares e do governo. O próprio vice-presidente, Farouk Sharaa, provém desta região. Por outro lado, Latakia é um dos poucos lugares da Síria em que existe maioria alauíta.
Os Líderes Chineses estão nervosos
Desde a irrupção dos distúrbios provocados pelo sacrifício de Mohamed Bouazizi, a alta hierarquia
chinesa do PCC teve exacerbados os seus temores quanto aos efeitos subversivos da sublevação democrática que infesta (a seu ver) terras tão díspares quanto a Tunísia, o Egito, o Iêmen, o Bahrein, a Jordânia e a Síria (entre outras).
Essa apreensão foi evidenciada no discurso pronunciado pelo presidente Hu Jintao perante uma assembléia de governadores provinciais e de ministros do governo central. O tema escolhido foi o da estabilidade social, e Hu enfatizou três pontos: (a) é preciso aumentar bastante o controle da informação na internet; (b) é preciso regular a ‘sociedade virtual’ que surgiu em consequência; e (c) é preciso guiar a opinião pública nessa sociedade virtual para ‘direções saudáveis’.
Como assinala Perry Link, no artigo publicado pela New York Review, o terror dos altos burocratas que sucederam a Deng Xiaoping se deve a que a revolução árabe democrática se desenvolve em países dominados há muito por autocratas, que se baseavam para justificar o respectivo poder em argumentos que não diferem muito daqueles empregados pela chefia institucionalizada do Partido Comunista Chinês. Se o contágio se realiza não mais através do Ocidente, mas de nações cujos ‘valores’seriam diversos – e assaz próximos dos gerarcas chineses – salta aos olhos que a sua periculosidade se acentua de forma inquietante.
Desde que a revolução democrática chinesa se realizou pela metade, os herdeiros de Li Peng (quem lograra convencer o velho Deng da necessidade de reprimir politicamente) vivem sob este íncubo de uma possível perturbação democrática. Zhao Ziyang foi destituído de todos os seus cargos porque advogara não só a reforma econômica (por ele preconizada e lançada sob a chancela de Deng Xiaoping), mas também a política, que seria a outra parcela daquela revolução pacífica já advogada por Hu Yaobang, secretário-geral do PCC, e que foi defenestrado a instâncias de Deng. A morte de Hu Yaobang foi o estopim das manifestações estudantis que foram esmagadas no massacre da Praça Tiananmen, em junho de 1989.
A série de funcionários (apparatchiks) sem carisma, nem outra preocupação maior do que a de manter o controle do Partido sobre o Estado, se vê muito bem refletida por Hu Jintao. Sem a intervenção de alguma crise maior, a exemplo do estouro de ‘bolhas’ na economia chinesa, com efeitos sociais deletérios para os mecanismos do regime, a hierarquia do PCC logrará manter o respectivo controle sobre a sociedade chinesa. Para tanto, não economiza nos gastos. Para evitar más surpresas de parte da internet e de seus novos instrumentos (twitter, facebook), os gerarcas do Império do Meio não são nada parcimoniosos. De acordo com dados oficiais, o governo chinês gasta 500 bilhões de yuan por ano (o equivalente a US$ 76 bilhões). Como se vê, as ditaduras incorrem em dispêndios de que as democracias ocidentais prescindem. Sem embargo, os burocratas chineses julgam que é dinheiro bem empregado. Que o digam os revoltosos de Xinjiang, no noroeste chinês, os próprios tibetanos, o movimento da Carta 08, e a maneira com que a polícia política reprimiu a ‘revolução do Jasmin’. Os home chineses buscam atualizar-se para melhor sufocar esta besta hedionda, que ora intenta insinuar-se na terra ordeira e obediente como tem sido a República Popular da China, através dessa herziana atmosfera da internet.
As Explosões dos bueiros da Light
O Prefeito Eduardo Paes visitou ontem pela manhã o local da avenida Nossa Senhora de Copacabana, em que ocorrera no início da noite de sexta-feira, 1º de abril, não exatamente uma peça pregada aos cariocas ao ensejo da data. Cinco pessoas ficaram feridas e um taxi destruído por pesada placa de metal que se projetara das entranhas elétricas da terra. Eduardo Paes se disse “estar indignado com a situação”.
Por sua vez, o presidente da Light, Jerson Kelman, pediu desculpas à população. E acrescentou: “Seria leviano se eu garantisse que não existe mais risco. Tínhamos a impressão que o pior já havia passado, mas fomos surpreendidos com a tragédia. O prefeito tem toda razão de cobrar da Light uma atitude. Minha prioridade é concluir a manutenção das galerias subterrâneas.”
Até o momento, somente por graça divina, não há vítimas fatais. Em 29 de junho de 2010 um casal americano de turistas sofreu graves queimaduras na explosão de um bueiro na esquina da rua República do Peru com Avenida Nossa Senhora de Copacabana. A esposa, Sarah Nicole Lowry, de 28 anos, teve 80% do corpo queimado e passou meses internada em hospital particular da cidade. O marido, David James, teve 30% do corpo atingido.
Por outro lado a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) multou a Light em R$ 9,5milhões por falhas na manutenção e operação. Os técnicos da Aneel identificaram equipamentos em fim de vida útil e sobrecarga na rede subterrânea. Os problemas se concentravam na Zona Sul (Copacabana, Ipanema, Leblon e Lagoa) e no Centro.
Em julho do ano passado, logo depois do ocorrido com o casal americano, o Secretário Estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços, Júlio Bueno, acertou com a Light e a CEG (companhia do Gás) cooperação para aumentar as inspeções na rede subterrânea. O acordo também previa aumento em manutenção por parte das empresas para eliminar os riscos de explosões de bueiros. Na época, contudo, o Secretário Bueno previu que tal risco só estaria afastado no ano de 2014.
Tudo isso é muito inquietante. Essas duas explosões de bueiro não são as únicas na Zona Sul. Se a Light está economizando em termos de manutenção dos equipamentos e de instalação de suplementares para evitar a sobrecarga na rede subterrânea, a multa de R$ 9,5 milhões da Aneel não é o bastante.
Os governos estadual e municipal não se devem limitar a acordar com as empresas cooperação nas inspeções. A relação entre autoridade pública e concessionária tem que se pautar pelo respeito recíproco, não devendo Estado e Município esquecerem que devem zelar pela população. Não basta se declarar ‘indignado’ com uma explosão de bueiro, de resto relativamente próxima da anterior. Nem fazer entender que o risco das explosões só estaria afastado no ano de 2014.
2014 ? Será que a segurança dos cidadãos pode esperar tanto ? Ou será que a data teve mais presente o primeiro grande evento programado para a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro ? Que coincidência, não é ? Só pode ficar pronto para a Copa do Mundo ?!
Ao andar pelas ruas do Rio e, em particular de Ipanema, o morador notará com facilidade que,por especial obséquio dos prefeitos, muitos bares e restaurantes invadiram o passeio público, por conta de ‘puxadinhos’ e prolongamentos do gênero. Alguns mesmo levam a sua desenvoltura a fazer esses acréscimos ilegais em alvenaria.
Mas a invasão do bem público não fica por aí. O caminhante mais atento poderá observar que algumas dessas extensões dos bares e restaurantes se referem a locais onde há bueiros da Light. E vejam só: lá, ignaros do perigo que correm, sentam-se em mesinhas adrede colocadas, brasileiros e turistas...
( Fontes: International Herald Tribune, CNN, The New York Review e O Globo )
domingo, 3 de abril de 2011
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