Chega a ser comovente o apoio que vem recebendo o Deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP). Depois das eloquentes palavras da revista VEJA há tempos atrás, terá sido um verdadeiro refrigério para o nobre Deputado o editorial do jornalão O Globo, sob o título que é tão candente quanto as frases alinhadas nessa corajosa tomada de posição do antigo vespertino de Roberto Marinho.
O leitor se defronta com o título “A excessiva demora do Código Florestal”. Pena é que tenham encarregado alguém não muito familiarizado com o tema. Surpreende-se com a aliança entre a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, a preclara Senadora Kátia Abreu, que se apresta a abandonar o DEM para abrigar-se no novo PSD, e o citado Aldo Rebelo.
Sem embargo, saúda os dois ínclitos parlamentares pela sua colaboração na matéria, que também ‘ajuda a desmistificar rótulos ideológicos, mas principalmente reforça a necessidade de se combater qualquer maniqueísmo num debate que parece não ter fim’.
O editorialista faz o elogio do deputado Rebelo que se dispôs a consolidar num único código um gigantesco conjunto de normas baixadas ao longo do tempo. O referido deputado ‘procura (...) impedir o desatino de, por meio de aplicação mecânica e uniforme, em todo o Brasil, de exigências quanto a reservas, preservação de rios e cultivo em encostas, se reprimir culturas tradicionais como as de uva na serra gaúcha, banana no vale da Ribeira, em São Paulo’.
A peça vai por aí afora até concluir com a seguinte pérola: ‘a circunstância de um comunista concordar com uma lider ruralista (...) deveria inspirar as forças políticas que se digladiam na arena do ambientalismo e adjacências’.
No final, como se vê, a ‘opinião’ de O Globo parece reminiscente daquelas ordens do dia que ouvíamos nos tempos da Redentora, apostrofando em flamejantes verbos a ameaça da cizânia que então pairava nas mentes de redatores bem-orientados.
Por tudo que acima alinhavei, e por outros análogos parágrafos, recomendo o editorial em apreço à atenta leitura de quem garimpa em terras cascalhentas. Pois, em verdade, nunca se disse tão pouco e tão mal acerca de um tema que mereceria outra atenção, mais respeitosa de suas implicações para o futuro do Brasil.
O Código Florestal existente terá seus eventuais senões, mas nada que se compare ao articulado que estranha coalizão nos quer enfiar goela abaixo.
Se o nome do deputado está impregnado nesse texto, colhido em inúmeras audiências públicas das quais Sua Excelência com minucioso desvelo afastou qualquer especialista com conhecimento científico na matéria, não será difícil saber como tal associação será vista pelos pósteros, se acaso esse aleijume lograr atingir a mesa presidencial.
No oba-oba de berrantes e de caravanas adrede trazidas para o Planalto Central, nunca é tarde para que entre os ruralistas e os ambientalistas, a planície dos indiferentes se conscientize do descalabro que há de significar esse projetinho de Código Florestal.
Há muitas coisas erradas no documento. Nesta hora, no entanto, em que as atoardas e as assertivas sem propósito andam pelos salões atapetados de Niemeyer como se fossem a expressão da verdade, cumpre relembrar a que se propõe este porta-estandarte do ruralismo. Começa pela demagógica anistia das multas, que ofende àqueles que pagaram pelo desmate. Permite desbastar os cimos dos morros, e como se tal fora coisa de somenos, corta as reservas de matas ciliares.
Essa lei, se porventura aprovada, terá a alcunha de Código da Deflorestação. No Congresso há representantes de um grande projeto que é o de associar-nos à Malásia, à Índia e à China, países que não mais dispõem do magnífico exército das árvores. Por torpe autoflagelação, se desfizeram da biodiversidade e da benéfica influência das grandes florestas sobre o clima. Ora, essa vanguarda do atraso arde por privar-nos, com o apetite aguçado pela estúpida ganância, deste enorme tesouro a céu aberto, o maior recurso natural de que dispõe o Brasil.
Há mesmo dentro dessa grei gente que se disfarça de ecologista para melhor minar as resistências ao projeto de transformar nossas florestas em savanas, com toda a coorte de efeitos negativos do descontrole climático.
Enquanto esses senhores e senhoras têm pressa, pressa esta que até ecoa em jornalões, convenhamos que o próprio entusiasmo e precipitação encontram uma frente ambientalista que infunde a seus partidários mais preocupações do que certezas.
Se alguém tinha alguma ilusão quanto à tarda conversão de Dilma Rousseff na hora do segundo turno, o que se pensará do modo amorfo e apático com que se pretende corrigir os principais e mais danosos efeitos do projeto Rebelo ?
O peso político da Ministra Izabella Teixeira é decerto leve. O atroador silêncio presidencial sequer se animou a forjar posição digna desse nome, e de ser governo responsável ao dispor-se a apresentar um substitutivo ao projeto Rebelo.
Nada disso. A Ministra Teixeira vê coesão na posição oficial. Ao invés de um texto normativo, partiriam dos ministérios sugestões. O Ministro Palocci reuniu os Ministros Wagner Rossi, da Agricultura, Izabella Teixeira, do Meio Ambiente e Afonso Florence, do Desenvolvimento Agrário. Nas semanas que precederam, não surgira uma postura comum. Sem o comprometimento da Presidente, as linhas se tornam mais fluidas.
Por outro lado, o Deputado Zequinha Sarney, da Frente Parlamentar Ambientalista, promete luta. Sabemos do respectivo engajamento e convicções, mas nos permitimos duvidar do número de suas hostes.
A esperança é a última que morre. Mas no Brasil o dito aristotélico de ser a gratidão o sentimento mais efêmero se vê contestado pelos graves acessos de desmemória que atacam a nossos representantes. Já não se lembram de Angra dos Reis, nem das avalanches da Serra Fluminense – que motivaram uma vinda presidencial -, para não dizer das inundações perenes de São Paulo e das de Santa Catarina.
Mãe Natureza pode ser madrasta se a tratam mal. Mas como remediar a tais flagelos, se todos nascem do esquecimento, da leviandade e da burrice ?
Será que o Morro do Bumba algum dia vai virar monumento à irresponsabilidade dos políticos ?
( Fonte subsidiária: O Globo )
sexta-feira, 8 de abril de 2011
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