terça-feira, 19 de abril de 2011

EUA: Impasse Político Afeta o Mercado

           A ‘Standard & Poor’s’, agência de avaliação de investimentos, deu projeção negativa para sua indicação de risco da dívida soberana estadunidense. A S& P, ao passar sua avaliação de ‘estável’ para ‘negativa’, assinalou que existia risco de que não se chegasse no Congresso a acordo quanto à maneira de enfrentar os problemas orçamentários do país.
           Em consequência a Bolsa de Wall Street registrou queda acentuada. Os principais índices caíram em 1.4%, com incremento nos preços das obrigações e baixa nos níveis de juro. Houve também inflexão negativa nas bolsas europeias, mas a instabilidade no Velho Continente se deveu mais a fatores europeus (ganho de nacionalistas em eleição finlandesa, e rumores de reestruturação da dívida grega) do que ao problema no Congresso americano.
           Ao trazer o impasse congressual quanto à aprovação do orçamento e, tomando a sério a possibilidade de que a elevação do teto da dívida pública federal (atualmente em US$ 14,25 trilhões) não se efetive, a crise legislativa não mais se limita às implicações políticas, mas estravasa para as financeiras.
           Conhecidas as consequências financeiras – V. blog O Impensável pode acontecer, de 12 de abril corrente – de eventual malogro no Congresso, cresce a pressão da opinião pública sobre a absoluta necessidade de entendimento entre democratas e republicanos.
           Dada a postura da nova maioria do G.O.P. na Câmara dos Representantes, é de supor-se que haverá na liderança da oposição a acrescida consciência de que a sua tática de tornar a elevação do teto da dívida refém de suas propostas radicais na elaboração do novo orçamento é uma linha de ação deveras arriscada.
           Atacando os programas Medicare e Medicaid, assim como tentando esvaziar a Reforma Sanitária, pelo atalho orçamentário, o projeto do novo presidente Paul D. Ryan, da Comissão de Orçamento da Câmara, entra em uma área assaz controversa. Nesse contexto, ao ser confrontado com tais alterações – que desfiguram velhas e novas conquistas dos democratas – a observação do Presidente Barack ObamaVocês pensam que sou idiota ?’- bem acentua a temeridade política republicana e a reação da Administração e de sua representação no Congresso.
           Os republicanos – excluída a franja dos novos representantes oriundos do Tea Party – podem ser duros negociadores, porém não são ‘suicidas’ políticos. Se caracterizada a chantagem política da ligação de uma meta partidária à eventual aprovação de novo teto da dívida pública, os seus próceres – o Speaker John Boehner e Mitch McConnoly, líder da minoria no Senado - não hão de ignorar o que significaria eles serem atrelados a esse esquema irresponsável e insano.
           Com a mudança de atitude do Presidente Obama, desfazendo-se da contemporização e de inviáveis propósitos bipartidistas, o mais provável é que os profissionais da política assumam o controle do encaminhamento das negociações tendo em vista o interesse nacional. Se os tempos dos largos entendimentos bipartidistas são coisa do passado, o sentido político e notadamente o de sua sobrevivência eleitoral poderá ser fator relevante para que a liderança republicana se conscientize dos perigos de valer-se de ameaças descabeladas para obter em passe de mágica soluções consoante a cartilha da ala direita do GOP, com o enfraquecimento dos programas sociais, o continuado favorecimento fiscal dos mais abastados, e o reforço no orçamento destinado à Defesa.
          É de esperar-se que os temores de Wall Street possam influenciar os republicanos. Estando os objetivos políticos condicionados pelo possível e o aceitável, é de augurar-se que os mais experientes se capacitem dos riscos de procedimentos demasiado radicais. Como se sabe, há sempre a possibilidade de que com a água do banho, também vá junto o bebê que se deseja preservar.


( Fontes: International Herald Tribune e Folha de S.Paulo)

Nenhum comentário: