quarta-feira, 27 de abril de 2011

Falta de Vergonha

           É difícil deixar passar em branca nuvem o que ora acontece no Senado Federal. Depois dos escândalos dos chamados atos secretos e da crise da presidência de José Sarney, voltamos a ser confrontados por comportamentos e iniciativas que não mais tem o condão de surpreender-nos ou até revoltar-nos.
           A reação do cidadão só pode ser a do cansaço extremo, misturada àquela surda cólera que se experimenta diante de fatos abomináveis sobre os quais a experiência semelha dar-nos a dantesca advertência do abandono de qualquer esperança.
           O Senado é o que é. Será ele a cara da Nação ? O que fizemos para merecer as afrontas com que nos mimoseia ?
           Quando o povo brasileiro logrou fazer aprovar a Lei da Ficha Limpa por um Congresso a princípio reticente, poder-se-ia imaginar que um juiz recém-nomeado para o Supremo iniciaria a sua trajetória mandando para a geladeira a lei complementar nr. 135? Na sua crônica ‘De que lado está a Justiça ?’, Ferreira Gullar nos lembra verdades que precisam ser ditas: “Não pode o princípio jurídico formal sobrepor-se à realidade dos fatos, como ocorreu recentemente com a Lei da Ficha Limpa.Políticos notoriamente corruptos foram beneficiados por uma decisão do Supremo Tribunal Federal, tão discutível que a metade dos ministros daquela corte se opunha a ela.”
           Mas voltemos ao Senado que, em breve, receberá reforços que pensávamos afastados para sempre daquele singular colégio. Como discutível aperitivo das notícias hoje veiculadas, o Senador Roberto Requião arrancou o gravador das mãos de um reporter e, ainda por cima, cuidou de apagar o que dissera acerca da absurda pensão que recebe como ex-governador. E, como se tal fosse pouco, foi à tribuna para exprobar o jornalista com a ridícula acusação de bullying.
           O Senado, com as suas centenas de diretores e com o mágico ponto, anunciado num dia e no outro já desmoralizado, nos vem agora com Conselho de Ética que bem representa o atual nível dessa assembleia. Na companhia de suplentes e de ex-suplentes – que representam unidades federativas sem haver recebido um voto sequer – o espanto e a consternação com a composição do alegado Conselho de Ética é uma consequência de situação determinada. O subtítulo do cabeçalho de O Globo já nos diz quase tudo: 8 respondem a processos no Supremo dos quinze parlamentares que formam a comissão encarregada de velar pela ética na dita Câmara Alta.
           Não obstante, se são indicados pelos partidos Renan Calheiros, Gim Argello, Valdir Raupp e Lobão Filho, entre muitos outros, duas questões vêm à mente: haveria possibilidade de dar outra feição àquele Conselho ? E se tal não for factível, a abolição do Senado não mereceria ser objeto de referendo pela Nação ?

                                               ( Fonte: O Globo )

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