terça-feira, 16 de abril de 2019

O Brexit que não foi


                                         

       A passagem da Primeiro Ministro Theresa May na reunião comprida em Bruxelas pode não ter sido assim tão patética quanto demonstrada durante o longo desfazer-se de um plano inviável - deixar, após 46 anos de permanência na U.E., como então armar um hard Brexit, que permitisse de algum modo uma saída soft, acolchoada, em que o despreparo do atual governo fosse de algum jeito desculpado, como se todos os antics e as fanfarronadas dos políticos ingleses e da incrível incompetência do gabinete de Theresa May, e da própria, pensando sempre possível uma saída macia, malgrado toda a mediocridade de seus preparativos e dos continuados desacertos, com os infindáveis adiamentos de um processo, que encetado por David Cameron e ultimado pela May, mais parece um patético procedimento de políticos ou medíocres, ou sem visão, ou irremediavelmente inferiorizados diante daqueles dirigentes ingleses que pensaram contornar o arrecife de Gaulle e ambicionar uma exitosa permanência na comunidade europeia, em que a velha e orgulhosa ilha de Sua Majestade crescesse diante do desafio de uma nova organização nacional, em que a hoje decrépita Albion mergulhasse confiante no Continente, no qual encontraria o hinterland indispensável para um novo sonho de grandeza, de muitas mãos construído.
        Agora, diante do novo-velho desafio, será estranhável que, a par dos pranks dos gêmeos  Johnson, o povo inglês confronte a realidade do Continente - e assim como tem neste mês de arregaçar mangas para viabilizar as eleições da comunidade europeia - volte as costas para as fantasias do passado, e revirando a página das incompetências de Theresa May, submeta-se a um processo de repensar o que faz pouco lhe parecia impensável, e se aproveite das aberturas dos antigos companheiros precursores na aventura do Mercado Comum, e produzam sem tardar um novo referendo, em que os erros do passado próximo tenham a página virada, como se tudo fosse um mau sonho, que as nostalgias do passado sejam ninadas, e que o destino europeu de um continente comum esteja aberto à indústria, à imaginação e a verve da juventude que carece de mais espaço para fruir das oportunidades que os jovens e menos jovens anseiam ver realizadas, não em mofinas imitações de passadas glórias, hoje gloriolas, em que o futuro da Europa está por exigir a busca incessante de um amanhã sem as velhas fronteiras, de novo entregue aos sonhos dos jovens e dos menos jovens, que jamais se acovardaram diante dos desafios - sejam eles toynbeeanos ou até mesmo spenglerianos -  de uma nova tentativa para lidar com o amanhã, esquecendo por um instante as glórias de um passado que hoje está morto, e que por isso há de motivar os jovens e menos jovens em revisitar uma Europa        que sempre será um grande, imenso e por que não, maravilhoso desafio da inteligência e do saber . Cada idade tem os seus pesos, obstáculos, inconvenientes e mesmo incômodos.  Todo povo tem que encontrar dentro dele próprio a maravilhosa porta para o futuro. Não me venham por isso macaquear o passado, como se um velho pensasse melhor a mediocridade dos terrenos batidos e muita vez revisitados, ao invés do desafio de um amanhã, em que ao contrário de arrastar-nos em torno das cercas de arame das duanas, revisitemos,com a coragem dos jovens,os reptos de um porvir que já está meio construído!    

( Fontes: The Independent, Arnold Toynbee e... Oswald Spengler)

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