segunda-feira, 15 de abril de 2019

Incêndio na Catedral de Notre Dame


                               
         Havendo resistido a tantas guerras, inclusive as do século XX, a  Catedral de Notre Dame, esta gigantesca construção da Paris medieval, ora se debate em meio a descomunal incêndio, que surpreende pela rapidez com que as chamas se espalharam pela gótica beleza dessas pedras milenares.
             Os bombeiros parisienses se empenham em luta ingrata, diante desse ícone das ilhas do Sena da Cidade antiga, essa avultada, maciça presença do gótico medieval, que nas sombras de Lutetia parece consumir-se nas espiras que tombam, ela que atravessara indene a longa noite da Idade Média, ora se contorce presa de um impio fogaréu, que se refugia nas remanescentes vigas e frageis braços de madeira, ressecados pelos séculos,  enquanto os povos de Paris que hão de ter deparado cenas horrendas, e revoluções assassinas, e, sem embargo, a deixaram indene, como aquele vulto sombrio que sauda os viajantes em meio à noite nem sempre cintilante, mas às vezes estrelada, nos caprichos  da Cidade Luz.
              Esse hierático espetáculo a que sempre acorreram os viajantes, mesmo em trêmulas vigílias e nas trevas de céus enfarruscados, e que na Paris das luzes medievais e nas iluminadas, quase feéricas sombras da Cité Lumière,  hoje o mundo, unido por essa esgarçada e modernosa gambiarra das luzes e dos holofotes, se debate sob a esperança de que a pedra, nas suas torres enegrecidas pela marca dos séculos, possa de algum modo manter-se de pé, para que o místico milagre desses muros e rípidas paredes venham a ser salvo pela aliança de mestres bombeiros que desejam preservar esta hierática presença da Idade Média e da sua fé amiúde estranha, no mundo de luzes que faz tempo a abraça em meio às ambiguidades do turismo e de suas bizarras, desengonçadas procissões.

( Fonte:  CNN )

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