sexta-feira, 24 de junho de 2011

Notícias do Front (II)

           * Há marcada escassez de notícias sobre o estado de saúde do Presidente Hugo Chávez, que fora hospitalizado de urgência em uma de suas periódicas visitas aos irmãos Raul e Fidel Castro.
             Como se sabe, fortes dores abdominais o levaram a ser internado em hospital de Havana. Padecia Chávez de abscesso pélvico, que costuma decorrer de intervenções cirúrgicas mal curadas.
             A despeito dos reclamos da oposição, Chávez preferiu quedar-se em Cuba, em mais um testemunho de sua confiança e estreitos laços não só com o regime ora encabeçado por Raul Castro, mas também com a sua proficiência médica.
             Segundo informa o irmão Adán Chávez, governador de Barinas, por motivos não especificados, o Presidente Hugo Chávez só deve regressar a Caracas dentro de mais dez ou doze dias. Esse virtual silêncio contribui para alimentar onda de boatos, que se baseiam na ausência de boletins médicos, o inédito mutismo do principal interessado, e a avaliação médica de que se afigura excessivo o tempo de recuperação assinado para o problema de saúde do Presidente, nos termos até agora conhecidos.
             Entrementes, morreu ontem em Havana o venezuelano Clodosbaldo Russián, chefe da Contraloria General (entidade encarregada das finanças públicas). Russián, muito ligado ao presidente, sofrera um a.v.c. em abril último e fora transladado de urgência a Havana. A despeito dos cuidados intensivos, recebidos durante cerca de dois meses em UTI de hospital de Havana, Clodosbaldo Russián não resistiu.

            * O Presidente Mahmoud Ahmadinejad está envolvido em séria luta, na qual se acha em questão a própria sobrevivência política no que lhe resta do discutível mandato eleitoral, recebido em função das eleições de junho de 2009.
             Como se terá presente, a ‘vitória’ de Ahmadinejad se deveu à maciça fraude, perpetrada pelo próprio Supremo Líder da Revolução, o Ayatollah Ali Khamenei. Em questões de horas, Khamenei mandou declarar a reeleição de Ahmadinejad, malgrado o notório favor popular em prol dos candidatos da oposição consentida, Mir Hussein Moussavi, o líder do movimento verde, e o clérigo Mehdi Kerroubi.
             O esbulho desses dois próceres – Moussavi já ocupara importantes funções no tempo do Ayatollah Khomeini – provocou grandes passeatas e protestos, que se estenderam por mais de mês. Foram reprimidos com a consueta brutalidade, recorrendo o regime inclusive ao julgamento de centenas de ‘suspeitos’, em um cenário que poderia ser tido como reminiscente dos juízos dos anos trinta da ditadura stalinista.
            A situação deteriorou-se a partir de abril do corrente ano. O Presidente decidiu demitir o Ministro da Informação (Intelligence) Heydar Moslehi, mas o Lider Supremo revogou a ordem presidencial. Insatisfeito, Ahmadinejad ficou em casa por onze dias, de onde só sairia pela ameaça de Khamenei de que poderia ser substituído. Malgrado alguns intentos do presidente de recompor-se com o Chefe – chegou a definir-lhes a relação como a de pai e filho – o estado das coisas não tem melhorado para Ahmadinejad.
           Partilhando ambos ideologia conservadora e não diferindo nos métodos autoritários, o embate se cinge a nua disputa de poder. O acirramento do processo colocou o presidente civil Ahmadinejad em posição dificil, na qual corre o risco de não completar o seu segundo e último mandato (os presidentes no Irã só podem exercer dois mandatos de quatro anos, enquanto, de conformidade com a teocracia instituida pelo imã Khomeini, uma vez escolhido, o Supremo Líder só perde o posto por morte).
          A drástica mudança no relacionamento da dupla tende a ser atribuída à húbris de Ahmadinejad, que terá considerado possível aumentar o respectivo poder às expensas do Líder Supremo.
          Nessa estranha criatura, que é a ditadura constitucional iraniana, as atenções do caudatário mundo político se voltam para a evolução da refrega. Pelo desequilíbrio das atribuições, Ahmadinejad e seu grupo presencia o respectivo encolhimento. Abandonado por antigos aliados conservadores no Parlamento (sobretudo os clérigos), assim como pela maciça deserção dos militares.
         De resto, o isolamento do presidente não é de estranhar, eis que o Comandante dos Guardas da Revolução é estreito aliado de Ali Khamenei.
        Com a involução autoritária do regime iraniano – o último presidente ‘liberal’foi Mohamed Khatami, antecessor de Ahmadinejad – prevalece nos círculos do poder atmosfera palaciana, em que as principais decisões são tomadas por grupelhos reduzidos. Não há discussão pública de temas políticos. Os eventuais ajuntamentos são formados pelas fileiras bem comportadas de entusiastas partidárias, cujo apoio se expressa em aplausos ensurdecedores e incondicionais.
        A única exceção – como em todas as ditaduras – será quando um poder mais alto porventura se alevantar.
        Quanto à Mahmoud Ahmadinejad, é especulação corrente que a sua confirmação no posto se prende à circunstância de que os núcleos de sustentação popular tanto de Ali Khamenei, quanto do atual presidente, se confundem nas mesmas camadas de baixa renda e instrução. O Líder Supremo temeria talvez que a exoneração de Ahmadinejad não fosse bem entendida pelas bases, e lhe tornasse a sustentação menos coesa e uníssona do que no presente.

        *  Na República Popular da China, o festejado arquiteto Ai Weiwei, filho do poeta Ai Qing, foi solto na noite de ontem, depois de haver sido detido praticamente por três meses. Segundo as autoridades chinesas, Ai Weiwei caíu nas malhas da lei por sonegação fiscal. De acordo com outros, as suas críticas ao regime, que a sua fama e penetração internacional davam alcance no agrado de Beijing, terão sido a causa.
          De qualquer forma, a ‘liberdade’ de Weiwei é consequência de o artista se haver comprometido a não criticar o regime do Partido Comunista Chinês por ‘pelo menos um ano’, além de não mais escrever no ‘Twitter’, onde teria 88 mil seguidores.
         Também consoante a agência oficial Xinhua, Ai Weiwei deverá saldar a respectiva sonegação fiscal.

       *   O reporter José Antonio Vargas disse à rede de televisão ABC que é imigrante ilegal. Nas suas palavras, viveu o sonho americano, terminando o ensino médio, formando-se na universidade e revelando-se um bom jornalista, a ponto de ganhar o Prêmio Pulitzer, por sua cobertura do massacre na Universidade de Virgínia Tech, em 2007, publicada no Washington Post.
          Sem embargo da notória dificuldade de estatísticas nesse campo, presume-se que há onze milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Só o que não se sabia até o momento é que havia nesta massa anônima não-visível a olho nu na maior economia do planeta um Prêmio Pulitzer.


       * Afinal liberto pelo Supremo Tribunal Federal, Cesare Battisti recebeu visto de permanência no Brasil, por decisão do Conselho Nacional de Imigração.
          A Folha de S. Paulo, que noticia a mudança no status de Battisti, continua, no entanto, por motivos não aclarados, a designá-lo como ‘terrorista italiano’.
          Votaram contra a concessão do visto a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e a Confederação Nacional das Industrias Financeiras (CNF). Por sua vez, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) se absteve, e houve três ausências.
          A despeito de tais posições, dos vinte conselheiros, treze acompanharam o voto da representante do Ministério da Justiça, a relatora Izaura Maria Soares Miranda.
          E não é que o Brasil, malgrado a tardança de Lula, se mostra em boa companhia? Afinal, Cesare Battisti gozou no passado da proteção de François Mitterand, Presidente da República Francesa.

( Fontes: International Herald Tribune e O Globo )

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