sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Lula e os Perigos do Relativismo

É sabido que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem particular apreço por entrevistas coletivas. Ojeriza esta que, já no último trimestre do sétimo ano de governo, é refletida pelo número extremamente reduzido de tais entrevistas.
Tampouco as exclusivas, posto que mais amiudadas, compensam esta discrição presidencial. Na verdade, Lula fala muito, e de improviso, mas neste formato a loquacidade se circunscreve a tópicos de escolha própria. Por isso, a aparente copiosidade não nos deve iludir. Se a quantidade impressiona, o chefe de estado retem controle sobre que temas e comentários julga necessário e cabível desenvolver.
A democracia americana, a respeito, dá lição que careceria de receber maior atenção em nossa terra. Lá, o presidente concede regularmente entrevistas coletivas aos jornalistas credenciados junto à Casa Branca. Em geral, as conferências de imprensa se iniciam por uma declaração do chefe de governo e, em seguida, responde às perguntas colocadas pelos repórteres acreditados, sendo ele próprio que, muita vez dando o nome respectivo, indica quem fará a indagação.
Recordo-me das conferências de imprensa de Charles de Gaulle. O Chefe de Estado francês, com o Primeiro Ministro Pompidou e todo o ministério perfilado a ouvi-lo, de início, pedia aos repórteres que colocassem as respectivas questões. Na grande sala do Elysée, o general as ouvia atentamente, mas todos sabiam que a grande entrevista era um dos rituais da V República, e que de Gaulle já tinha a sua palestra memorizada. As perguntas dos jornalistas – inclusive as dos mais chegados, que, obsequiosos, incluíam os tópicos sobre os quais ele desejava desenvolver – não passavam de formalidade. A imprensa estava inteirada deste hábito do general, e bem sabia que as suas perguntas eram tão só a moldura do quadro. O importante estava nas afirmações de de Gaulle, com as quais balizava as próximas iniciativas do governo.
Mas voltemos a nossos tempos. A paucidade das entrevistas do Presidente Lula tendem a atribuir relevância quiçá desmedida àquelas exíguas vezes em que Sua Excelência concorda em privilegiar órgão jornalístico ou televisivo. Sendo raro o referencial disponível, as declarações poderão, assim, ter a respectiva importância hipertrofiada. Igualmente, eventuais deslizes do Primeiro Mandatário podem ajudar-nos a melhor entender do porquê Lula, se acaso experimenta azia na leitura dos jornais, também não se sente muito à vontade respondendo a perguntas de jornalistas não atados pelas mesuras do oficialismo.
Dentre as suas declarações a Kennedy Alencar, da Folha de São Paulo, ressalto duas delas. “Qualquer um que ganhar as eleições, pode ser o maior xiita deste país ou o maior direitista, não conseguirá montar o governo fora da realidade política(...) Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão.”
Não obstante o manifesto relativismo da assertiva – que desvela tática governamental que faz tabula rasa de problemas éticos - o presidente Lula negara anteriormente a existência de uma ‘frouxidão moral’ na hegemonia da aliança PT- PMDB, conforme observação feita pelo deputado Ciro Gomes.
A composição das alianças – e do mastodôntico ministério do segundo mandato – se refere diretamente aos notórios obstáculos à governabilidade no Brasil e, em especial, da administração de Lula, diante das dificuldades encontradas durante o primeiro mandato.
Quiçá a excessiva relativização decorrente das peculiares características do quadro da governança no Brasil espelhe uma triste realidade. Cabe, por conseguinte, a pergunta se não teria sido melhor solução para o problema do governo no Brasil a aprovação de verdadeira reforma política. Essa reforma – que é a mãe de todas as reformas – seria possível no início do segundo mandato, após a reeleição referendária do Presidente Lula da Silva.
Afinal no Brasil, em começo de mandato, o Congresso aprova iniciativas mesmo inconstitucionais do Primeiro Mandatário, como foi amplamente demonstrado pela chancela do confisco da poupança no chamado Plano Collor.

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