quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Morte do Último Kennedy

A família Kennedy teve longa presença na história política americana. Já o patriarca familiar, Joseph P. Kennedy, que servira na Administração Roosevelt como o primeiro presidente da Comissão de Ações e Obrigações e depois na qualidade de Embaixador junto a Corte de Saint James, se tornara milionário (bens imobiliários, indústria cinematográfica, atividades bancária e, segundo rumores persistentes, pela venda de bebidas alcoólicas nos tempos da Proibição). O chefe do clã Kennedy tinha uma certa simpatia pela Alemanha nazista. Por isso, com a abertura das hostilidades em setembro de 1939 e a posterior crescente aproximação entre Roosevelt e Churchill, ele deixou a embaixada em Londres.
Joseph Kennedy perderia o seu primogênito Joseph P. Kennedy Júnior, cujo avião foi abatido pelos nazistas em 1944. O segundo filho John Fitzgerald Kennedy também seria heroi de guerra, como o episódio do PT-44 na vertente do Pacífico do conflito mundial o demonstraria.
Joseph Kennedy se casara com Rose Fitzgerald, ambos descendentes de importantes famílias de origem irlandesa, com acentuada participação na política de Boston e do estado de Massachusetts. Tiveram nove filhos, quatro homens e cinco mulheres: Eunice, Jean, Patricia, Kathleen e Rosemary; Joseph, John, Robert e o caçula Edward.
A ominosa sombra da tragédia sempre pairou no convívio da família católica, de cepa irlando-americana. A par do primogênito, levado pela 2ª Guerra Mundial, o segundo irmão John – a quem o pai Joseph passaria a missão política da família, com o desaparecimento do irmão mais velho – eleito deputado em Massachusetts , em seguida Senador, e, em sucessão ao general Eisenhower, como primeiro presidente católico americano, cairia vítima em Dallas, em 1963, do nunca bem esclarecido atentado de Lee Oswald. Seis anos depois, na comemoração de sua vitória nas primárias da Califórnia, Robert Kennedy – a quem passara a missão política e o inegável carisma do irmão – também seria estranhamente assassinado por outro matador (Sirhan Bishara Sirhan), em junho de 1968, com o flagrante objetivo de barrar-lhe o caminho para a Casa Branca.
Edward (Ted), o mais jovem, se tornara senador em 1962, com trinta anos de idade (a idade mínima para o posto nos Estados Unidos). Ocupou a cadeira que fora de seu irmão John, e nela permaneceria, por vontade dos eleitores de Massachusetts, por quarenta e sete anos, sendo um dos seis senadores, na história americana, a servirem por tão longo espaço de tempo.
Logo depois da morte de Robert, Ted Kennedy seria o herdeiro natural para pleitear a Presidência. As suas perspectivas – porque não lhe faltava o carisma, nem a competência política da família – se afiguravam muito promissoras, não fosse um acidente em uma ponte de madeira da ilha de Chappaquiddick, próxima da ilha de Martha’s Vineyard. A 18 de julho de 1969, Kennedy saíu de festa organizada por mulheres que tinham trabalhado no staff do senador Robert Kennedy. Muita bebida havia sido ingerida. Ted dirigia o carro acompanhado de Mary Jo Kopechne. Na ponte de madeira, o carro caíu n’água (dois metros e quarenta centímetros de profundidade). Kennedy logrou salvar-se, mas não Mary Jo. Por abandonar o local do acidente e não reportar a ocorrência às autoridades por dez horas, Ted Kennedy foi julgado, e condenado a dois meses de detenção. Pelas características do ocorrido – suas três tentativas de salvar a Mary Jo -, a sentença ficou em suspenso.
Igualmente em suspenso restaram muitas dúvidas na mente das autoridades do estado e na opinião pública em geral.
O estigma da pobre Mary Jo ficaria na sorte política de Ted Kennedy. Senador, atuante, com liderança liberal-progressista, o seu grande prestígio legislativo não seria no entanto bastante para abrir-lhe o caminho da Casa Branca. Em 1979, não obstante, intentou arrebatar a indicação da convenção do Presidente Jimmy Carter, que postulava a reeleição. A campanha de Kennedy, mal organizada, foi um desastre, e apesar de maciça votação em primárias, não logrou desbancar a Carter (que seria, mais tarde, derrotado por Ronald Reagan, candidato republicano).
Na campanha pela sua primeira reeleição, em 1964, Ted Kennedy, favorecido pelas pesquisas, sofreu grave acidente de aviação. Fraturou a coluna e quebrou várias costelas, no desastre em que morreram o piloto e um auxiliar.
Se a princípio fora escarnecido como um peso-leve, à vista de seus irmãos John e Robert, Edward (Ted) Kennedy cresceria durante a sua longa permanência na cena política. Campeão de causas liberais (direitos civis para os negros, direitos para minorias e perseguidos, direitos das mulheres, educação, direitos trabalhistas, assistência sanitária), ele se tornaria quase um bicho-papão para a direita (de que era alvo favorito nas campanhas de levantamento de fundos).
Sem embargo de suas convicções, soube trabalhar com habilidade a bancada republicana, selando alianças que conduziram à assinatura de leis importantes no campo social. Considerou Ted Kennedy como seu voto mais importante haver-se manifestado, em 2002, contra a guerra no Iraque.
A sua morte, de câncer cerebral, desfalca a bancada democrata no Senado, que se reduz a 59 votos. Será ausência sentida na tentativa de aprovação pela Administração Obama – a quem apoiara em fase determinante das primárias – de uma Reforma do Plano Geral de Saúde do Povo Americano.
Edward Kennedy, cujo filho Edward M. Kennedy perdera uma perna para o câncer ósseo, teve duas esposas, Joan Bennett Kennedy, de quem se separou em 1982 depois de 24 anos de casamento, e a advogada Victoria Ann Reggie (casados em 1992). O seu convivio com esta última se marcou pela estabilidade, diferindo das turbulências das décadas anteriores.

( Fonte: International Herald Tribune )

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