terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dos Jornais XXXII

O GLOBO 11.08.2009
FOLHA DE S.PAULO

Reunião da Unasul

Embora não me pareça que Hugo Chávez tenha ficado ‘isolado’ na reunião da Unasul, tampouco a sua posição prevaleceu. É claro que em encontro onde estejam igualmente presentes Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador), as propostas do caudilho venezuelano não deixarão de contar com esses aliados (e beneficiários) da Alba.
De qualquer forma, os presidentes Lula da Silva e Cristina Kirchner não permitiram o consenso em postura da Unasul que traria os ‘ventos de guerra’ chavistas para o subcontinente. Kirchner colaborou para tanto oferecendo Buenos Aires como ‘território neutro’ para a próxima cúpula do grupo.
Como não era imaginável a concordância de Alvaro Uribe (Colômbia) em participar de reunião no Equador de Rafael Correa (que rompeu relações diplomáticas com a Colômbia), e como tampouco se afigura factível discutir a questão das bases na Colômbia sem a presença do mandatário colombiano, foram importantes as intervenções de Lula, ao enfatizar a necessidade de trazer Uribe de volta à Unasul, e de Cristina Kirchner, ao oferecer seu país, como ‘território neutro’ para que tal cimeira se concretize.
Como na Unasul todas as resoluções devem ser tomadas por consenso, os arreganhos belicistas de Hugo Chávez (secundados por Evo Morales e Rafael Correa) não constam do comunicado conjunto, o que, em última análise, favorece a posição moderada de Lula, Kirchner e Bachelet, a que se associa o próprio Fernando Lugo (Paraguai).
No que concerne à iniciativa do Presidente Lula de convidar Barack Obama para a próxima reunião da Unasul, com o propósito de ‘discutir relação com América do Sul’, visto que tanto a Colômbia, quanto os Estados Unidos têm tratado o acordo militar assinado pelos dois países como questão de soberania, as possibilidades de que o presidente estadunidense concorde com a sugestão do homólogo brasileiro tendem para zero.
Tal se deve não só por motivos de prática diplomática, senão por que não seria pensável que Obama se dispusesse a enfrentar além-fronteiras prováveis cobranças de Hugo Chávez e de seus principais acólitos, Rafael Correa e Evo Morales.

O mau exemplo de Chávez

Em seu discurso de posse para o segundo mandato, Rafael Correa surpreendeu os convidados com agressivas palavras, em que instou os países sul-americanos a controlarem o que chamou de ‘excessos da imprensa’.
Lula não ouviu as polêmicas sugestões de Correa, por antecipar o próprio regresso, ‘devido ao estado de saúde do vice-presidente, José Alencar’. A razão, mais diplomática do que verídica, foi bem escolhida, para que a sua presença não fosse interpretada como tácita aceitação das pretensões fascistóides do presidente equatoriano.
É lamentável que o discurso – e a práxis – de Hugo Chávez seja abraçada por outros presidentes sul-americanos. As declarações de Correa prenunciam problemas graves nesse setor: “Devemos perder o temor, e propor formas de controlar os excessos da imprensa. Nós temos de tomar as rédeas destes temas. Somos (sic) nós que vencemos as eleições, não os administradores desses negócios lucrativos que são chamados meios de comunicação. Uma imprensa com claro papel político, mesmo sem qualquer legitimidade democrática.”
Como sinalização autoritária e repressiva, não se carece de indicações mais claras. Nem de visão mais distorcida do papel dos meios de comunicação, em ótica decerto mais conforme com as posições, v.g., do ditador Aleksandr Lukashenko, da Bielorússia, de M. Ahmadinejad do Irã e da junta militar de Myanmar (antiga Birmânia), entre outros pérolas desse gênero que, para infelicidade dos respectivos súditos, continua florescente.

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