domingo, 2 de agosto de 2009

A Ditadura Iraniana e seus Opositores

A despeito das determinações do Líder Supremo Ayatollah Ali Khamenei, e dos diversos intentos de intimidação realizados pelas forças militares e de segurança, persiste a crise do regime iraniano, desencadeada pela reeleição espúria de Mahmoud Ahmadinejad.
Em função da fraude nas eleições presidenciais de meados de junho, a reação popular contra o esbulho sofrido pelo candidato reformista Mir Hussein Moussavi continua viva, não obstante as injunções solenes de Ali Khamenei, a violenta repressão das forças policiais e dos Basiji.
Repetindo os procedimentos do Xá Reza Pahlevi, derrubado pelo levante popular de 1978/79, milhares de manifestantes pró-democracia foram detidos. Recolhidos a inúmeras prisões, muitos deles foram submetidos a sevícias e torturas, que nada ficaram a dever às práticas do antigo regime.
Quando esse comportamento das forças de segurança veio à tona, a revolta popular foi tão entranhada, que o Líder Supremo apressou-se em condenar tais ‘excessos’, a par de mandar fechar o notório centro de torturas denominado Kahrizak.
Como este blog tem informado,permanece forte o movimento de contestação a Khamenei e à coalizão que o apoia. Essa oposição vai do respeitado centro espiritual de Kom a diversos dignitários do atual regime.
Neste domingo, o ex-presidente Mohammad Khatami, através de nota, condenou os julgamentos de cem pessoas detidas nas recentes manifestações. No seu entender, tais arremedos de juízo prejudicam o sistema e tiram a confiança do povo nas autoridades.
Khatami considera os julgamentos ‘inconstitucionais’, contrários à lei e aos direitos dos cidadãos. A fortiori, acrescenta que os verdadeiros crimes foram cometidos pelas autoridades.
A esse respeito, o ex-presidente reformista condena por igual a violência das prisões contra os manifestantes, assim como as atrocidades praticadas em centros de detenção.
O documento de Khatami afasta de plano a credibilidade das ‘confissões’ dos acusados, ecoando, a propósito, declarações de outro influente ex-presidente, Ali Akhbar Hashemi Rafsanjani.
Diante da ampla extensão do repúdio à fraude oficial na eleição de Ahmadinejad, promovida pelo Líder Supremo Khamenei, as reações do regime, oscilando entre a repressão e a contemporização, denotam inegável turbação nas hostes clericais, militares e de segurança, em que reside o núcleo duro do regime teocrático.
Dessa forma, a severidade das acusações contra os manifestantes detidos impressiona igualmente pela brutal falsidade, eis que inculpa as vítimas pelos desmandos dos basiji e demais esbirros. Com efeito, reeditando o padrão de todas as ditaduras, que assacam às vítimas crimes das forças repressivas, os manifestantes são indiciados por: ataque a instalações militares, com uso de armas de fogo e armas brancas; ataque a instalações governamentais, para incendiá-las; destruição de bens públicos; criar pânico no público; sevícias e violências em membros das forças de segurança.
Assinale-se que, dentre os acusados, estão vários membros do partido reformista Mosharekat e até um membro do comitê central do partido Kargozaran (próximo a Rafsanjani).
Por outro lado, a par da farsa das imputações, em sentido inverso, milhares de manifestantes foram soltos por ordem de Ali Khamenei, que os perdoou ou comutou as respectivas penas. Não se esclarece se a inopinada misericórdia islâmica se deve à orientação menos confrontatória, ou se decorre da relativa desimportância dos indigitados.
Tudo o que ocorre no Irã semelha confirmar a aparente confusão existente nas altas instâncias, que costuma verificar-se nas graves crises arrostadas por regimes desse gênero.

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