segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dos Jornais XXXIII

International Herald Tribune 24.08.2009


Incêndios Florestais na Grécia

Por causa da secura do ar e das altas temperaturas do verão boreal, na Grécia os incêndios florestais são ocorrência tristemente comum. A despeito de sua frequência nesta fase do ano, no entanto, o governo helênico continua relativamente despreparado para enfrentar tal flagelo.
Dada a densidade populacional, os sinistros não representam apenas ameaça para plantações e bosques, mas também para núcleos demográficos, seja em pequenas aldeias em áreas montanhosas, seja em cidades e até na própria megalópole de Atenas.
Os presentes fogos surgiram na noite de sexta-feira, em Grammatikos, a 40 km a nordeste de Atenas. Favorecidos pelos ventos, espalharam-se rapidamente, carbonizando largas faixas de pinheiros e bosques de oliveiras.
Cerca de meio-dia de domingo, já o incêndio investia a Aghios Stefanos (Santo Estevão), um bairro a 22 km do centro de Atenas. Agora, o fogo consumia não só pinheiros e oliveiras, senão casas e automóveis.
Refletindo o desespero das comunidades ameaçadas, e a disparidade nos meios disponíveis para o combate às chamas, os destacamentos de bombeiros são ajudados por aviões especiais, de diversos tamanhos, por helicópteros e até por populares a batalhar contras as labaredas, armados de ramos de árvores, mangueiras e baldes.
Não obstante a repetição do flagelo – devido tanto a causas naturais, quanto a incendiários – o esquadrão grego de aviões especializados não é de longe suficiente, e por isso se torna indispensável o empréstimo por França, Itália e Chipre de aeronaves para o combate às chamas.
Os atuais incêndios recordam a calamidade do verão de 2007, quando a revolta da população diante da ineficácia do equipamento e de recursos humanos insuficientes levara o governo do primeiro ministro Costas Karamanlis a empenhar-se para cobrir tais lacunas.
Como os gregos não vêem, malgrado as promessas oficiais, sensíveiss mudanças na situação, as perspectivas do gabinete de centro-direita – que tem maioria de um deputado no Parlamento - não se afiguram das melhores para as vindouras eleições.

Mato Grosso, campeão da devastação florestal

O significado de Mato Grosso, devido à maciça derribada da floresta tropical, caminha celeremente para transformar-se em denominação tingida de ironia, eis que a concentração florestal torna-se coisa do passado, substituida por imensas plantações de soja, cereais e pastagens para enormes rebanhos, tudo isso para aumentar as exportações de companhias multinacionais.
O estado de Mato Grosso se assinala pelo melancólico galardão de ser um epicentro do deflorestamento global. Na última década, sob a benigna negligência das autoridades federais e estaduais, as densas florestas do passado foram desbastadas com singular proficiência. O deflorestamento, um dos principais fatores para a mudança climática, é responsável por 20% das emissões mundiais de dióxido de carbono, e por 70% das emissões no Brasil. Assim, segundo os expertos, conter o deflorestamento é tão importante na luta contra o aquecimento global quanto fechar as usinas de carvão.
As determinantes da devastação florestal tem causas sociais e econômicas. Se para a aceleração do desmatamento, a fraqueza e/ou conivência das autoridades competentes terá sido um fator relevante, não se pode esquecer que até agora não tem sido concedidas vantagens financeiras para induzir os proprietários de terra a não devastar as respectivas florestas.
A esse respeito, se fornece o exemplo de um fazendeiro brasileiro, José Marcolini.
Ele dispõe de licença do governo brasileiro para abater neste ano 12.500 acres de mata tropical, para o cultivo da soja. Recebeu de um grupo ambientalista a oferta anual de vinte e dois reais por acre preservado. Marcolini, que diz se importar com o meio ambiente, está em dúvida, pois, no seu entender, para resistir à tentação, precisaria receber muito mais (cada acre preparado para o cultivo valeria cerca de R$ 2500,00).
Custa crer na veracidade dos dados acima fornecidos. Que órgão governamental é esse que emite tais licenças para derribar mata virgem ? Por outro lado, resulta difícil montar um esquema baseado em vantagens financeiras, às custas de grupos privados ambientalistas. A economia verde não pode prescindir de um esquema muito mais amplo, com a participação do governo, do fazendeiro e de outros organismos. Dentro de um quadro normativo específico, porque é questão de interesse nacional, também se inserem componentes tecnológicas e créditos compensatórios.
Preservemos as nossas florestas remanescentes enquanto é tempo. Representam um recurso válido para gerações futuras, e para tanto podemos seguir o exemplo de outros países inovadores na coexistência da florestas com outras atividades produtivas.

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