Queimadas, gado e
centenas de invasores. Passados três meses de grande operação do IBAMA contra
crimes ambientais a Terra indígena Trincheira Bacajá, no sudeste paraense,
volta a sofrer com aumento do desmatamento ilegal e com a presença em massa de
não-indígenas.
Na semana passada, a reportagem da Folha
- Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida - flagrou um grande
incêndio florestal em estrada de terra a cerca de 20 km da Vila Sudoeste, pertencente ao município de
S. Felix do Xingu. O incêndio já passara para o pasto e ameaçava o gado.
"Tiraram uma beira ali. Aí,
ficou um foguinho. De um foguinho, virou um fogão. Agora, queimou um monte de
mango (madeira serrada) do curral de um homem ali, ficou só a cinza.",
afirmou um invasor, que se identificou como Márcio. Dono dos bois, ele chegou apressado de moto
com uma motoserra na garupa. "Vou tirar uns paus queimando e aparar (o
fogo)
Pasto, desmatamento, bois, curral e estrada - tudo ali é ilegal,
pois está dentro da Terra Indígena (TI) Trincheira Bacajá, homologada em 1996 e
habitada pelo Povo Xicrin. As invasões tiveram início em 2016, por meio de
ramais ilegais usados para roubo de madeira,mas o desmatamento explodiu em
2019, após as promessas de Bolsonaro de revisar demarcações de terras indígenas
e de abri-las para agricultura e pecuária.
Em abril, a região foi alvo de
grande operação do IBAMA, Os fiscais destruíram parcialmente uma ponte de
madeira, que dava acesso a Terra Indígena, construída com um aterro de cerca
trezentos metros, que danificou as margens do rio Negro (não é o que corta o
estado do Amazonas) Na Vila Sudoeste, o Ibama desmontou duas serrarias que se
abaste-ciam de madeira ilegal da terra xikrim.
Além disso, nessa
oportunidade, o IBAMA multou a prefeitura de São Félix do Araguaia (por
permitir a via de acesso até a TI), o presidente da associação dos invasores,
Arilson Brandão e o vereador Sílvio Coelho, correligionário do senador Zequinha
Marinho (PSC-PA) que vem apoiando invasores de terras indígenas localizadas no
médio Xingu.
A Folha
localizou o vereador Silvio Coelho na Vila Sudoeste, onde reside, mas ele se
recusou a gravar entrevista. Segundo a autuação, o vereador ajudou na
construção da ponte e do aterro, além de ter sido flagra- do dentro da TI pelo Ibama.
Irritado com a veiculação
pela TV Globo de uma reportagem sobre a operação na Trincheira Bacajá e em
outras TIs vizinhas, o governo Bolsonaro exonerou, em maio, o então coordenador
de operações de fiscalização do Ibama, Hugo Loss, que participou da ação, e o
coordenador-geral de fiscalização, Renê Luiz de Oliveira. Em seguida, o desmatamento voltou a crescer.
Houve a perda de 32 hectares em junho, contra apenas três hectares em maio,
segundo monitoramento via satélite Sirad X da rede Xingu, articulação de indígenas e ribeirinhos
da bacia do rio Xingu, com participação do
ISA (instituto sócio-ambiental). Além disso foi detectado um novo ramal
que trouxe invasores para cerca de 2km da aldeia Kenkro, aumentando o risco de
conflitos. No domingo 26 de julho, a reportagem da Folha enviou e-mail ao
Ministério da Defesa, questionando porque a Operação Verde Brasil 2, voltada ao
combate dos crimes ambientais na Amazônia, não está agindo na Trincheira
Bacajá, mas como de hábito não houve resposta. Na ponte parcialmente destruída
pelo Ibama, é intenso o movimento de invasores em motos, que conseguem
atravessar por meio de um único tronco serrado. Um alqueiro grilado ali pode
custar R$1.500, valor bem abaixo dos R$ 30 mil por alqueire comercializados na
região.
A reportagem também flagrou um caminhão
sem placas e carregado de toras em estrada próxima à Trincheira Bacajá,
praticamente a única área florestal dessa região de São Félix do Xingu,
município que concentra o maior rebanho bovino do Brasil. No ano passado,
Trincheira Bacajá perdeu 3.969 hectares de floresta, a maior taxa de
desmatamento desde a homologação, segundo o monitoramento SiradX. A maior parte
dessa destruição ocorreu durante o segundo semestre, no período de seca, que
favorece o desmate criminoso.
Os invasores são da
Vila Sudoeste, surgida nos anos noventa a partir de um assentamento do Incra, e
de pessoas de outras regiões do Pará e até do Tocantins. O estímulo vem das
promessas de Bolsonaro de reduzir terras indígenas e da situação da vizinha
Terra Indígena (TI) Apyterewa, cuja desintrusão dos não-indígenas
vem sendo adiada pelo Governo Bolsonaro.
Em agosto de
2019, os guerreiros xikrins tentaram expulsar os invasores de suas terras por
conta própria,mas eles não saíram. Em setembro, após decisão judicial que
determinou a reintegração da posse, a Polícia Federal intimou os invasores a
deixar a área em sete dias, sob pena de multa diária de R$ 1000 e retirada
forçada, mas novamente sem sucesso.
Nos dias em que
a reportagem esteve na região, a informação era de que o presidente da
associação, Arilson Brandão, estava dentro da terra indígena, descumprindo determinação judicial. No Whats-App, sua foto aparece
com os dizeres: "Intervenção
militar já com Jair Messias Bolsonaro. Nós tiamamos (sic) capitão, Terra
prometida"
É comovente, não? Aí fica mais fácil de entender porque os vetos
de Bolsonaro, que tentam negar aos nossos indígenas uma série de auxílios a que
eles têm direito como raça proto-habitante de nossa terra, e por isso há
reserva indígena e eles são justamente protegidos pela legislação brasileira,
coisa que esse presidente tem procurado vetar e tornar a vida dos descendentes
dos primeiros habitantes de nossa terra mais difícil e com menor proteção. Dá
para entender que diversas associações defensoras do Povo indígena participem
do movimento pelo impeachment do Presidente Jair Messias Bolsonaro. O caráter mofino de suas intervenções, que a
par de não protegerem o Povo Indígena intentam ao contrário tornar para eles a
vida mais difícil e os desafios dos invasores e garimpeiros ilegais ainda maiores..Expostos
também à Covid-19, sem quaisquer defesas, e agora com um presidente que além de
não protegê-los, na verdade vitimiza os nossos primeiros habitantes, porque
isso constitui motivo válido para que
associações respeitadas, em termos da defesa dos direitos humanos dessas populações procurem levar a Justiça
a cassar os direitos políticos através do mecanismo do Impeachment a esse
suspeito de racismo, a par de demagogia, ao abrir as reservas e as tabas
indígenas às invasões e outros delitos
desses indivíduos que como se assinala nas linhas acima constituem a infantaria
que visa a barrar o caminho do nosso indígena a ter respeitada sua etnia e
assegurados os seus direitos ancestrais.
( Fonte: Folha de S.
Paulo, artigos de Fabiano Maisonnave e Lalo de
Almeida
)
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