segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Pará: Desmate volta a crescer em área indígena


       
      Queimadas, gado e centenas de invasores. Passados três meses de grande operação do IBAMA contra crimes ambientais a Terra indígena Trincheira Bacajá, no sudeste paraense, volta a sofrer com aumento do desmatamento ilegal e com a presença em massa de não-indígenas.
         Na semana passada, a reportagem da Folha - Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida - flagrou um grande incêndio florestal em estrada de terra a cerca de 20 km  da Vila Sudoeste, pertencente ao município de S. Felix do Xingu. O incêndio já passara para o pasto e ameaçava o gado.

         "Tiraram uma beira ali. Aí, ficou um foguinho. De um foguinho, virou um fogão. Agora, queimou um monte de mango (madeira serrada) do curral de um homem ali, ficou só a cinza.", afirmou um invasor, que se identificou como Márcio.  Dono dos bois, ele chegou apressado de moto com uma motoserra na garupa. "Vou tirar uns paus queimando e aparar (o fogo)

              Pasto, desmatamento, bois, curral e estrada - tudo ali é ilegal, pois está dentro da Terra Indígena (TI) Trincheira Bacajá, homologada em 1996 e habitada pelo Povo Xicrin. As invasões tiveram início em 2016, por meio de ramais ilegais usados para roubo de madeira,mas o desmatamento explodiu em 2019, após as promessas de Bolsonaro de revisar demarcações de terras indígenas e de abri-las para agricultura e pecuária.

                 Em abril, a região foi alvo de grande operação do IBAMA, Os fiscais destruíram parcialmente uma ponte de madeira, que dava acesso a Terra Indígena, construída com um aterro de cerca trezentos metros, que danificou as margens do rio Negro (não é o que corta o estado do Amazonas) Na Vila Sudoeste, o Ibama desmontou duas serrarias que se abaste-ciam  de madeira ilegal da terra xikrim.
                   Além disso, nessa oportunidade, o IBAMA multou a prefeitura de São Félix do Araguaia (por permitir a via de acesso até a TI), o presidente da associação dos invasores, Arilson Brandão e o vereador Sílvio Coelho, correligionário do senador Zequinha Marinho (PSC-PA) que vem apoiando invasores de terras indígenas localizadas no médio Xingu.

                  A Folha localizou o vereador  Silvio Coelho  na Vila Sudoeste, onde reside, mas ele se recusou a gravar entrevista. Segundo a autuação, o vereador ajudou na construção da ponte e do aterro, além de ter sido flagra-   do dentro da TI pelo Ibama.

                     Irritado com a veiculação pela TV Globo de uma reportagem sobre a operação na Trincheira Bacajá e em outras TIs vizinhas, o governo Bolsonaro exonerou, em maio, o então coordenador de operações de fiscalização do Ibama, Hugo Loss, que participou da ação, e o coordenador-geral de fiscalização, Renê Luiz de Oliveira.  Em seguida, o desmatamento voltou a crescer. Houve a perda de 32 hectares em junho, contra apenas três hectares em maio, segundo monitoramento via satélite Sirad X da rede  Xingu, articulação de indígenas e ribeirinhos da bacia do rio Xingu, com participação do  ISA (instituto sócio-ambiental). Além disso foi detectado um novo ramal que trouxe invasores para cerca de 2km da aldeia Kenkro, aumentando o risco de conflitos. No domingo 26 de julho, a reportagem da Folha enviou e-mail ao Ministério da Defesa, questionando porque a Operação Verde Brasil 2, voltada ao combate dos crimes ambientais na Amazônia, não está agindo na Trincheira Bacajá, mas como de hábito não houve resposta. Na ponte parcialmente destruída pelo Ibama, é intenso o movimento de invasores em motos, que conseguem atravessar por meio de um único tronco serrado. Um alqueiro grilado ali pode custar R$1.500, valor bem abaixo dos R$ 30 mil por alqueire comercializados na região.
                         A reportagem também flagrou um caminhão sem placas e carregado de toras em estrada próxima à Trincheira Bacajá, praticamente a única área florestal dessa região de São Félix do Xingu, município que concentra o maior rebanho bovino do Brasil. No ano passado, Trincheira Bacajá perdeu 3.969 hectares de floresta, a maior taxa de desmatamento desde a homologação, segundo o monitoramento SiradX. A maior parte dessa destruição ocorreu durante o segundo semestre, no período de seca, que favorece o desmate criminoso.
                            Os invasores são da Vila Sudoeste, surgida nos anos noventa a partir de um assentamento do Incra, e de pessoas de outras regiões do Pará e até do Tocantins. O estímulo vem das promessas de Bolsonaro de reduzir terras indígenas e da situação da vizinha Terra Indígena  (TI)  Apyterewa, cuja desintrusão dos não-indígenas vem sendo adiada pelo Governo Bolsonaro.
                               Em agosto de 2019, os guerreiros xikrins tentaram expulsar os invasores de suas terras por conta própria,mas eles não saíram. Em setembro, após decisão judicial que determinou a reintegração da posse, a Polícia Federal intimou os invasores a deixar a área em sete dias, sob pena de multa diária de R$ 1000 e retirada forçada, mas novamente sem sucesso. 
                                Nos dias em que a reportagem esteve na região, a informação era de que o presidente da associação, Arilson Brandão, estava dentro da terra indígena, descumprindo determinação  judicial. No Whats-App, sua foto aparece com os dizeres: "Intervenção militar já com Jair Messias Bolsonaro. Nós tiamamos (sic) capitão, Terra prometida"

                                  É comovente, não?  Aí fica mais fácil de entender porque os vetos de Bolsonaro, que tentam negar aos nossos indígenas uma série de auxílios a que eles têm direito como raça proto-habitante de nossa terra, e por isso há reserva indígena e eles são justamente protegidos pela legislação brasileira, coisa que esse presidente tem procurado vetar e tornar a vida dos descendentes dos primeiros habitantes de nossa terra mais difícil e com menor proteção. Dá para entender que diversas associações defensoras do Povo indígena participem do movimento pelo impeachment do Presidente Jair Messias Bolsonaro.  O caráter mofino de suas intervenções, que a par de não protegerem o Povo Indígena intentam ao contrário tornar para eles a vida mais difícil e os desafios dos invasores e garimpeiros ilegais ainda maiores..Expostos também à Covid-19, sem quaisquer defesas, e agora com um presidente que além de não protegê-los, na verdade vitimiza os nossos primeiros habitantes, porque isso  constitui motivo válido para que associações respeitadas, em termos da defesa dos direitos  humanos dessas populações procurem levar a Justiça a cassar os direitos políticos através do mecanismo do Impeachment a esse suspeito de racismo, a par de demagogia, ao abrir as reservas e as tabas indígenas  às invasões e outros delitos desses indivíduos que como se assinala nas linhas acima constituem a infantaria que visa a barrar o caminho do nosso indígena a ter respeitada sua etnia e assegurados os seus direitos ancestrais.

( Fonte: Folha de S. Paulo, artigos de Fabiano Maisonnave e Lalo de Almeida )

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