A
linguagem do blog pode expressar-se de várias formas. Através dos elementos
utilizados, se estabelece a própria composição e a mensagem eventual que o
respectivo autor se proponha divulgar através deste meio ad hoc. Como um
maestro - mas não necessáriamente neste formato - ele pode abrir a sua maleta
de segredos, e mergulhar at random,
como se o impor-tante fosse a experiência e não a eventual descoberta. O autor
- que é, em princípio, o personagem principal - escolhe o respectivo cast, ou o ignora, lançando-se no
devaneio do solilóquio. No início, não há limite para o respectivo poder.
Qualquer assunto, qualquer tema específico, qualquer linguagem - seja em
palavra, seja em foto, seja em símbolo, até número - o acompanha no instante em
que o mítico revolver lança o autor no experimento.Será singular, como toda
experiência. O único senhor nesta produção está na própria mente, e a
respectiva soberania só a ela se curva - como a estória, a tese, o desenho, o
projeto, o som (no símbolo convencio-nal, a composição musical), as cores e até
mesmo a foto ou imagem, salva de um incêndio ou não, toda essa miscelânea pode
ser una, dupla, múltipla ou fragmentária, legível ou ilegível, audível ou não,
visível ou não. A ideia-mãe, a proposta primeva, ainda que surja envolvida em trapos, frangalhos,
farrapos ou em rolos de seda ou fragmentos de tecidos aveludados que associamos
a todo gênero de veste. A criatura pressupõe o criador e este, se o procuramos,
seja em sonho, seja no tatear nervoso de
uma experiência tão alucinante quanto aterrorizante - a escuridão primeva, a
falta de qualquer conhecimento do terreno, com os acréscimos alucinógenos da
sufocação, da falta de qualquer sensação de orientação em ambiente de cego
rastejar na completa ignorância de procedência ou entorno -
Esta mensagem,
ainda no momento da criação pode ser ou uniforme, biforme ou multiforme e,
dessarte variar segundo o propósito do autor, o que depende dos meios que
utiliza para compor o que seria o conteúdo. Experiência, conhecimento e
imaginação são as partes deste quebra-cabeças, que varia segundo a capacidade
do autor, os elementos de que dispõe - de tudo isso pode nascer uma estória, um
propósito, uma receita, ou se abusarmos dos condimentos e das especiarias, a
eventual mensagem se perde pelo caminho, ou se transforma numa planta
carnívora, ou garrafa cheia de água salgada e mais nada, ou palavras carregadas
de sentido e de destino. Toda mensagem
pede para ser lida e,se possível, entendida. Dada a premissa da criação, a
sorte é a senhora do destino de que os aconteci-mentos podem transformar em
mensagens ilegíveis, incompreensíveis ou a escondida ponta de um mistério que
pode transformar-se em "n" outros mistérios aterrorizantes,
aterradores ou atraentes, dependendo do estado em que se apresentem ao cabo de
sua trajetória randômica.
Por isso cautela
e a sua irmã experiência são petrechos que não se podem esquecer nas empresas
ou viagens existenciais. Tudo isso e um pouco de audácia talvez venham a
calhar, embora as advertências sejam muitas.
Luck, be a lady tonight, como diria o
figurante esquecido, a sorrir por trás das sombras e o pano verde, antes de
lançar a sua porção de dados naquela mesa batida pelas teimosas vagas da anônima,
corroída e quase melancólica esperança de existência banalizada e sem outros personagens que um par de extras
a compor uma cena banal de um Western run of the mill...
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