Quando
o coronavírus explodiu no Ocidente, a Itália tornou-se o seu epicentro num
clima de verdadeiro pesadelo, um lugar a ser evitado a todo custo, e um lugar a
ser evitado, além de constituir um
símbolo nos Estados Unidos e em grande parte da Europa de contágio
incontrolável.
Vejam o que está acontecendo com a Itália, disse aos repórteres o
presidente Donald Trump, no dia dezessete de março último. "Não queremos
nos encontrar em uma situação como essa", Joe Biden o provável indicado
democrata às eleições, ressaltou os hospitais superlotados da Itália como
prova de sua oposição ao "Cuidados
médicos para todos", em um debate presidencial. "Neste momento, não
está funcionando na Itália".
Poucos meses depois, os EUA ultrapassariam a Itália em mortes e os
países europeus, que antes olhavam com presunção para o país, enfrentam novos
surtos e começam a impor novas restrições e pensam até em decretar um lockdown. O Primeiro Ministro Boris
Johnson, do Reino Unido, anunciou ontem, dia 31 de julho, o adiamento da
flexibilização na Inglaterra, dado o aumento do contágio no país. Até a RFA, elogiada por sua eficiente
resposta e rigoroso rastreamento dos contágios, advertiu que o comportamento
relapso está provocando uma nova onda de casos.
E a Itália ? Seus hospitais quase não tem pacientes de Covid-19. O
número de óbitos diários pelo vírus na Lombardia, a região norte que suportara
o impacto mais violento da pandemia - e que a esse título colheu comentários
deste blog - agora esse número de casos
despencou, sendo "um dos mais
baixos da Europa e do mundo", asseverou Giovanni Rezza, diretor do
Departamento de doenças infecciosas do Instituto Nacional de Saúde. "Fomos muito prudentes." Como os
meus leitores terão presente, essa crise lombarda foi citada como exemplo
algumas vezes neste blog.
Apesar do aparecimento de pequeno surto nesta semana, os italianos
estão otimistas sobre a resposta ao
controle do vírus - enquanto os especialistas na área sanitária alertam para
circunstância de que a complacência continua sendo o principal combustível da
pandemia. Como sabem, o quadro pode por
isso mudar a qualquer momento.
Nesse contexto, a maneira como a
Itália conseguiu passar de "excluído" global a modelo de contenção do
vírus tem novas lições para o resto do
mundo, inclusive os EUA, onde a doença que nunca esteve sob controle, agora
devasta o país (os Estados Unidos é o país de maior número de mortos nesta
epidemia do coronavírus).
Após começo conturbado, a Itália consolidou, ou pelo menos preservou a
recompensa por um rigoroso isolamento graças a uma mescla de vigilância e
experiência médica, adquirida de maneira mais dolorosa. Seu governo se pautou
pelas recomendações de comissões científicas e técnicas. Os médicos, os
hospitais e as autoridades de saúde reúnem mais de vinte indicadores diários
sobre o vírus e os remetem às autoridades regionais, que então os mandam para o
Instituto Nacional de Saúde.
O resultado é um
panorama semanal da situação da saúde no país que dá base para as decisões
estratégicas. Nesta semana, o Parlamento aprovou em votação a prorrogação dos
poderes de emergência do governo até quinze de outubro, depois que o Primeiro
Ministro Conte disse que a nação não poderia baixar a guarda "porque o
vírus continua circulando."
Esses poderes permitem que o governo
mantenha as restrições e reaja rapidamente - inclusive com o fechamento - a
novas aglomerações. "Há uma variedade de cenários na França, Espanha,
Bálcãs, o que significa que o vírus não desapareceu completamente",afirma
Ranieri Guerra, médico italiano que é o diretor-geral-assistente de
iniciativas estratégicas da Organização Mundial da Saúde (OMS). "Ele pode
voltar a qualquer momento".
Especialistas em saúde do país afirmam que a ausência de casos graves
indica um decréscimo do volume de infecções, porque apenas uma pequena percentagem de infectados
adoece gravemente.Até o momento, os italianos descontentes não têm sido muito
numerosos ou poderosos o bastante para minar a trajetória de sucesso
conquistado com muito trabalho no
combate ao vírus, depois de um início calamitoso.
A maioria dos
especialistas disse que o vírus ainda paira no ar, e enquanto o governo
considera um novo decreto para a reabertura das boates, dos festivais e das
viagens de cruzeiro, muitos deles imploraram o país a não baixar a guarda.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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