sexta-feira, 25 de maio de 2012

Será Obama reeleito ? (II)

                             
       A que se deve a prolongada resistência das bases republicanas a Mitt Romney ?  Na fase inicial das primárias do GOP, vários pré-candidatos assumiram a liderança. O governador do Texas, Rick Perry foi um desses. Outro foi o afro-americano e ex-executivo do Burger King, Herman Cain. Mais tarde surgiram Newt Gingrich e Rick Santorum.
      A tônica de todos eles residia na circunstância de serem conservadores de boa cepa. Entrementes, observado e encorajado pela direção partidária, e dispondo da melhor estrutura organizacional de campanha, lá estava, sorridente e disponível, Mitt Romney.
      Todos  tiveram antes de Mitt os seus quinze minutos de notoriedade. Foram considerados candidatos aptos a ambicionar a sagração em Tampa, mas por esta ou aquela razão (incompetência, escândalos pessoais pregressos, a própria falta de estrutura para enfrentar o ordálio das sucessivas primárias) eles foram ficando pelo caminho, até que, temeroso de ser humilhado na sua natal Pennsilvania, o ultra-conservador Rick Santorum renunciou à postulação. No final, até o solitário e libertário Ron Paul – que não venceu nenhuma primária – terá mostrado disposição de não mais concorrer.
      Mitt Romney ficou sozinho no picadeiro. Desde o princípio, tivera apoio entre 25 a 28% das preferências. Se a maioria dos republicanos timbrou por longos meses em ignorá-lo como alternativa válida,  sua organização (é a segunda vez que disputa a presidência), sempre bem azeitada em termos de finanças, com o passar dos meses foi engrossada por  afluxo de notáveis, até que Jeb Bush, o irmão de George Bush Jr. e ex-governador da Flórida, se tornou a virtual cereja do bolo.
     Feita no momento exato, a sua intervenção veio culminar a série encetada pelo governador de New Jersey, Chris Christie. O apoio deste último, que chegara a examinar a possibilidade da própria candidatura, representou o primeiro endosso importante para Mitt. E agora, o preferido do clã Bush vinha praticamente selar o entendimento do GOP de que o ex-governador de Massachusetts deveria ser ungido.  Basta de divisão e de querelas intestinas ! Era chegada a hora da união em torno do candidato natural.
    Nesse contexto, com a abrupta saída de Santorum, a persistência de Gingrich, falto de recursos e de votantes, o condenava à irrelevância.
     Se Romney semelha, dessarte, destinado a ser designado em Tampa como o campeão republicano contra o dragão Barack H. Obama, o que desvendou a seu respeito o processo sempre desgastante das primárias ?
     A militância conservadora republicana – os moderados no GOP são espécie virtualmente extinta – não engole as credenciais conservadoras de Mitt Romney. Nesse contexto, é oportuno frisar que o ex-governador de Massachusetts não ganhou em nenhum estado do Sul americano. Como não se desconhece, o Sul bandeou-se para o GOP depois que o Partido Democrata, sob a liderança do texano Lyndon B. Johnson (1908-1973), o 36º presidente, implementou a revolução nos direitos civis e o fim da segregação racial.
     Por isso, essa primeira interrogação perdura: até que ponto continua a rejeição dos votantes republicanos sulistas contra Romney ?
    Em que se baseia esta postura da base ? No fato de que Mitt seria um flip-flopper, vale dizer alguém que não possui sólidas convicções conservadoras. Assinale-se que foi na governança de Romney em Massachusetts que foi aprovada uma reforma sanitária estadual que é perturbadoramente semelhante à Lei da Assistência Sanitária Custeável. Mais tarde, já pré-candidato, Mitt se dissocia da reforma da saúde estadual, havendo tardiamente descoberto os vícios redibitórios de uma lei socialista pela qual se empenhara enquanto governador. Decerto, terá contribuído para essa luz interior do candidato que a nova lei federal tinha sido aprovada pelo Congresso sem um voto sequer do GOP. Embora em algum debate futuro e ao ser porventura relembrado de assertivas suas em favor da sua lei estadual,talvez venha a encontrar  dificuldade em explicar para a opinião pública essa cambalhota eleitoral. O virtual candidato republicano à Presidência espera que a sua nova posição seja entendida e aceita.
        Mitt Romney dispõe de assessoria razoavelmente organizada e de fundos abundantes para a campanha. O problema é que às vezes resolve improvisar, e as gafes resultantes podem ser manancial não desprezível para os adversários.
        Será ele realmente o moderado que deseja cativar o voto independente ? São conhecidas as suas posições com relação à pobreza. Em jantar para coletar fundos na Florida, Romney foi ouvido dizer que tenciona cortar fundo (slash) programas de assistência.
        Ainda no campo da insensibilidade social, serão também relembradas as respectivas propostas de eliminar o Título X, o único programa federal dedicado ao planejamento familiar; de deixar o processo hipotecário seguir o seu curso (com a tomada da residência do morador inadimplente);  apresentação de política imigratória à direita das de Rick Santorum e Newt Gingrich.
        A par de sua observação sobre a pobreza e o que manifesta de calejado menosprezo dos desafortunados, Romney e a liderança republicana concertam estratégia comum para criar um novo impasse sobre a dívida. Não é nem floreio oratório nem por acaso que a imagem do incêndio nas campinas (prairie fire) é assimilada à dívida pública pelo candidato,  ‘ameaçando Iowa e nosso país’.
         Romney deseja explorar o que entende ser a maior vulnerabilidade de Obama, i.e., a economia. Pesquisas do Gallup comparam a presente  atmosfera com anos anteriores em que presidentes procuravam reeleger-se: ‘o clima atual se parece mais com os anos em que os presidentes em exercício perderam, do que com o tempo em que ganharam’.
         O speaker John Boehner se mostra, por outro lado, disposto em criar condições para um novo showdown (embate) quanto ao orçamento (e ao teto da dívida pública).  O escopo seria embaraçar o presidente Obama com nova crise orçamentária. Quanto ao teto da dívida, o Secretário do Tesouro, Timothy Geithner estima que seria atingido para o fim do ano, posto que o Tesouro disponha de instrumentos (tools) suficientes para manter a situação sob controle até princípios de 2013. Nessas condições, a margem de recursos levaria o embate do teto da dívida para depois da eleição de novembro, o que tornaria irrelevante a artimanha republicana.    
         Com a experiência havida na crise anterior, é de esperar-se que Barack Obama saiba enfrentar o desafio desta feita com maior proficiência e autoridade. Também é lícito contar com o açodamento republicano, provocado não só pelo ano eleitoral, senão pela inebriante perspectiva de voltar à Casa Branca. Tal impetuosidade – que se reflete nos quatro projetos do GOP de orçamento – merece o seguinte comentário do líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid: ‘Por sua natureza, esses projetos não são sérios. Estão aí só por causa do show.’
        Tal falta de seriedade no tratamento de assuntos de Estado, que envolvem os interesses da comunidade nacional como um todo, pode representar mais um tiro pela culatra nos algariados planos do Partido Republicano para os comícios de seis de novembro.




(Fonte:  International Herald Tribune)  

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