Costurada por Lula da Silva, para dar arrimo na bolsa de bondades do Erário ( tempo na dita propaganda política eleitoral) e, em consequência, colocar no Palácio do Planalto, como sucessora a sua criatura. O matiz ideológico da base se perde no furta-cor da mixórdia política, em que direita e esquerda se dão alegremente as mãos em frágil conjunção de conveniências.
O caráter superficial desta associação – em que prevalece o interesse fisiológico – só tende a gerar comportamentos grupais ou tribais, que passam muito longe de apoio coerente a programas sérios da administração.
O quadro é contristador. Dada a sua superficialidade, se deveria ter mais prudência em enaltecer epifenômenos de grandes avanços democráticos, como no espetáculo palaciano da entronização da Comissão da Verdade.
Deixemos, no entanto, sua avaliação em suspenso, desejando que logre superar as teias e entraves que lhe foram apostas.
A atual Comissão de Inquérito Parlamentar Mista (CPMI), mal iniciada, já dá turbadoras mostras de possível colusão política. Aparentando privilegiar a quantidade de suas convocações ao invés da própria qualidade, ela não aprofunda as denúncias, nem dá a impressão de seguir a norma do doa a quem doer de um punhado de bem-sucedidas antecessoras.
Veja-se, v.g., a última pirueta de aprovar a convocação de 51 pessoas. Nessa profusa lista, será debalde a procura dos três governadores implicados nas escutas telefônicas das operações da Polícia Federal. O jovem relator da Comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG) nega acordo para blindar governadores (Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sergio Cabral (PMDB-RJ): “Chamá-los agora, sem indícios suficientes, é fazer da CPI palco para se defenderem.”
De vários cantos do Congresso se ouviram declarações que negavam tal conluio. E à medida em que se repetiam, as assertivas confirmavam ainda mais a impressão contrária, como se devessem ser lidas ao revés.
Muitos terão ainda presente o vídeo de Maurício Marinho aceitando displicente proprina de três mil reais. A visualidade da corrupção levaria à CPI dos Correios e, em seguida, às revelações de Roberto Jefferson e do Mensalão. Esta força inercial ainda não se viu no episódio presente, malgrado o desconforto proporcionado pelas fotos do blog do Garotinho, com Fernando Cavendish e os alegres compadres do Governador Sérgio Cabral na sua querida e tão visitada Paris.
Os tempos seriam outros, ou as defesas ficaram mais bem-azeitadas ? É o que se verá no futuro.
A alternativa semelha óbvia: para gáudio de um grupelho, a CPMI transformar-se na pizza de tantas outras comissões, no modelo Orestes Quercia; ou, para assombro dos céticos, as hábeis costuras se rompem e a verdade, com todas as suas vergonhas, vem à luz.
Ainda não sabemos o filme que nos reserva a tela do Parlamento. E, entrementes, a esperança, aquela que morre por último, teima em aferrar-se a promessas de políticos...
( Fonte: O Globo )
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