terça-feira, 29 de maio de 2012

Ainda o Encontro Lula - Gilmar

                                        
       A imprensa se delicia com o pratarraz da reunião Lula da Silva – Gilmar Mendes, intermediada pelo amigo Walter Jobim. É notícia da véspera, ou a dizer verdade – um artigo aliás bastante esquivo – da antevéspera, ou até do mês anterior.
       No entanto, em meio a gritos e impropérios, às versões contrapostas, a comentários alimentados por alianças eletivas e antigas prevenções, há dois caminhos que podem levar ao mesmo destino.
      Como elemento subsidiário, para afastar as névoas da dissimulação, a evidência e a probabilidade maior são critérios válidos para afirmar a maior verossimilhança de uma hipótese contra as fumaças das negativas e da fuga da responsabilidade.
     Na sua tarda missão de impedir ou atrasar o julgamento do mensalão, parece difícil contestar o propósito do ex-Presidente Lula da Silva de encontrar-se com o Ministro Gilmar Mendes, do Supremo.
     Afastada a implausibilidade de um encontro fortuito no gabinete do ex-Ministro e amigo comum Walter Jobim, que outro tema levaria o ex-Presidente Lula a agendar esse encontro ?
     Assinale-se que ele se declara indignado com a acusação, mas o seu comunicado não aduz nenhum outro motivo para a reunião além de seu caráter ‘ocasional’. Ora, na reconstituição da coluna de Merval Pereira, se indica que Jobim convidara Gilmar Mendes a instância de Lula. Lá se vai o caráter acidental da reunião... Para a ‘indignação’ do ex-presidente se faz necessária outra razão, que não é apresentada.
    Existe também  correção a comentários de fontes jornalísticas  que maliciam o atraso de Gilmar Mendes em divulgar o que ocorrera em fins de abril. Com efeito, como assinala a reconstituição de Merval Pereira, Gilmar revelou o fato ao procurador-geral da república, Roberto Gurgel, ao advogado-geral da União, Luis Inácio Adams e ao presidente do STF, Ayres Britto, antes que o caso fosse publicado por ‘Veja’. O segredo já não era tão exclusivo quando foi divulgado pelo semanário.
    Dentro do molde conhecido – procurar um terceiro que haja sido o ‘padrinho’ junto a Lula de indicação ao Supremo (V.,v.g., Sepúlveda Pertence e a Ministra Carmen Lúcia) – em almoço no Palácio da Alvorada, a convite de Dilma Rousseff, Ayres Britto, que não viu malícia na observação, recorda ter-lhe Lula perguntado sobre Celso Antonio Bandeira de Mello (que passa por guru do atual presidente do STF), dizendo que qualquer dia desses os três tomariam um vinho juntos.
    Nesse contexto, no mínimo o ex-presidente toma atitudes suscetíveis de serem mal interpretadas, no seu afã de adiar o julgamento do mensalão para depois das eleições municipais de outubro.
   O rosario de reações dos Ministros do STF não se afigura de resto favorável ao cometimento de Lula da Silva. Para o decano do Supremo, Celso de Mello, o comportamento de Lula foi indecoroso. Nesse sentido, declarou que o ex-presidente poderia ser alvo de impeachment se ainda estivesse no cargo.
    O mensalão parece perseguir Luiz Inácio Lula da Silva. Como recorda Merval Pereira, esta seria a segunda vez que tal escândalo ameaçou levar-lhe à beira do impeachment. A primeira, pelo fato em si, que o constrangeu a pedir desculpas ao povo brasileiro e a dizer-se traído, em pública admissão da gravidade de o que acontecera.
    Desta feita, a desenvoltura do ex-Presidente desvela que lhe está faltando um quê de sensibilidade, para não meter-se em vespeiros nessas missões impossíveis.
   Nos comentários e imagens desencontradas que essa empresa mal encetada e mal continuada, talvez o retrato mais devastador seja a caricatura de Chico, com Lula e Gilmar sentados,e o ex-presidente a ver-se com a mão colhida por ratoeira, enquanto exclama ‘Ops! Foi mal...’
   A verdade pode ser incômoda presença, se se pretende denegá-la ou adulterá-la. E quanto maiores os esforços em fazê-la desaparecer, mais ela avança, com o seu sorriso largo, por vezes desdentado, a desmoralizar quem desejara enfurná-la entre os caniços de pantanosas margens...



( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, Veja )

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