Chen, um dissidente diferente
O caso de Chen Guangcheng representou um desafio
bastante mais complexo para o governo chinês. A princípio, a fuga heróica e
rocambolesca de um ativista cego para desvencilhar-se de situação iníqua. Depois de cumprir a
respectiva pena, ficar submetido à prisão domiciliar, agravada por sevícias sistemáticas.
Como justificar o confinamento ilegal, ainda mais acrescido pelos maus tratos à
família de Chen ?
Na travessia que parecera em busca do único
templo moderno suscetível de conceder na China hodierna o equivalente da
proteção dos antigos deuses, Chen já evidenciara grande habilidade. O seu apelo
a Wen Jiabao pela punição dos quadros
locais adotou, como assinala David
Pilling, o mesmo tom de crítica empregado no discurso do Primeiro Ministro
contra Bo Xilai, o secretário do
Partido Comunista na cidade de Chongqing
caído em desgraça. Ao acusar tais esbirros de macular a imagem do PCC, Chen desafiou Wen a responder se os
funcionários agiam por conta própria ou conforme as instruções de Beijing.Por outro lado, quando Chen formula não um pedido de asilo, com sua carga de desprestígio para o regime chinês, mas solicita lhe seja concedida a oportunidade de estudar nos Estados Unidos, ele se vale de uma situação que beneficiou cerca de 340 mil chineses que, no ano passado, foram autorizados a estudar no exterior.
A possibilidade aberta para o advogado Chen de continuar seus estudos em departamento de universidade americana proporciona às três partes da crise uma solução que atende suas mínimas exigências. Chen poderá levar a esposa e os filhos, enfim livres da opressão do cárcere. A Secretária de Estado Hillary Clinton e sobretudo Barack Obama podem deixar para trás as acusações republicanas de incompetência ou pior, através do satisfatório encaminhamento de uma questão ora burocrática, e não mais contenciosa. Por fim, o governo chinês se livra do desgaste de mais um problema de direitos humanos.
Pensando instrumentalizar uma crise diplomática como providencial arma na campanha pré-eleitoral, eis que o tiro lhes sai pela culatra. Tornam-se, assim, o G.O.P. e, em especial, Mitt Romney e seus muitos agregados na mídia os reais perdedores no episódio. De súbito, veem desaparecer o que se lhes afigurava como promissora oportunidade de atazanar Obama e embaraçá-lo como se fora inábil defensor dos direitos humanos. São paladinos sem causa, na algo patética e vexatória posição dos que acometem um bastião que pensavam conquistar com muita precipitação e pouco discernimento.
Como sublinhou Ian Shepherdson, conceituado analista econômico ‘depois de uma série de estatísticas alentadoras em princípios do ano, tivemos clara redução na tendência nos últimos dois meses. A diminuição no ritmo pode ser explicada por temperaturas mais altas pouco comuns no inverno, o que terá induzido as companhias a contratar mais cedo do que de costume. Se se deve ao aumento dos preços na gasolina, o fenômeno pode reverter, eis que as cotações da gasolina no atacado baixaram de forma acentuada nas últimas semanas.’
Há também esperança de que as estatísticas possam ser revistas pelo Departamento do Trabalho. É o que aconteceu nos últimos dois meses, indicando que o crescimento no emprego foi maior do que inicialmente estimado.
Sob o aspecto positivo, a Administração Obama pode indicar um relativo aumento nas contratações. Sob o viés negativo, tal movimentação ainda não prenuncia maior confiança na recuperação da economia, perdurando uma impressão de uma estagnação econômica.
Para tanto contribui a circunstância de que o contingente da ONU não dispõe de qualquer elemento de coerção. Dada a má-fé da ditadura, o envio de fiscais não tem impedido as operações do exército sírio. Sob o pretexto de que os rebeldes não respeitam a ‘trégua’, as forças de Assad tem realizado bombardeios de áreas urbanas que, na prática, ignoram os contingentes de observadores das Nações Unidas.
A CPI do
Cachoeira
Há indícios preocupantes de blindagens de governadores, como semelha ser o caso de Sérgio Cabral, malgrado as revelações do blog do Garotinho, com a farra do lenço em restaurante de três estrelas. Gorou a tentativa de convocar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, que, segundo a revista VEJA, seria ‘apenas para tentar constrangê-lo’. A conexão com o mensalão afigura-se aqui muito óbvia.
Tampouco se pode dizer que a CPI Mista se oriente para uma meia pizza. A embaraçosa situação do Senador Demóstenes Torres (GO/ Sem partido) pode ser resolvida antes pelo Conselho de Ética do Senado e a votação no plenário. O que será feito do governador Agnelo Queiroz ?
Há muitas perguntas no ar além das referidas acima, como leitura perfunctória da VEJA e da Folha tende a acenar. O que, no momento, semelha um verbo adequado para o que se prevê da CPI. Muitos acenos, mas as confirmações virão – ou não – mais tarde.
A ver.
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