segunda-feira, 7 de maio de 2012

Eleições na França e Grécia


                                 
        Os resultados deste domingo corresponderam às previsões, posto que com algumas precisões importantes.
        Na França, a diferença entre François Hollande e Nicolas Sarkozy foi bastante menor do que o previsto. Se bem que os resultados definitivos ainda tardarão, as últimas  projeções de boca de urna apontam para Hollande com 50,8% e Nicolas Sarkozy 49,2%, o que retrata a divisão da França (1% de diferença), e a recuperação do candidato da U.M.P.
       O mandato eleitoral carece, portanto, do caráter incisivo, e dependerá essencialmente de dois fatores. Da interpretação que lhe dará o novo presidente socialista e como será formado o novo Parlamento, nas eleições legislativas que se seguirão.
       É de esperar-se pelo futuro da Europa que François Hollande revele a determinação que desde os tempos de François Mitterrand – que o preteriu por duas vezes em nomeações ministeriais, optando por sua então companheira Ségolène Royale – não tem mostrado.
       Já no Palácio do Elysée, o novo Chefe da Nação enfrentará as eleições parlamentares. Com a sua vitória, excluído o imprevisível, é provável que consiga eleger Parlamento com maioria da esquerda. Conquanto não se possa eliminar a possibilidade da coabitação – como aconteceu com o Presidente Jacques Chirac (UMP) e o Primeiro Ministro Lionel Jospin (socialista) – este fenômeno francês, em que situação e oposição convivem no governo, é mais provável em meio ao mandato presidencial, e não logo após a eleição do Chefe de Estado. De qualquer forma, dados os imponderáveis das votações aos partidos extremistas, e em especial o Front National, tal perspectiva não pode ser descartada de todo.
      Por sua vez na República Helênica – onde começou a tempestade que ainda assola a União Europeia e, em particular, a Zona do Euro – o pleito de domingo na verdade não surpreendeu. Ninguém duvidava que o voto de protesto, dados os sacrifícios enfrentados pelo povo grego, alçaria a cabeça, manifestando a preferência pelos partidos contestadores, como a extrema direita, a extrema esquerda, através de coalizão Syriza da esquerda radical.
     Conforme projeções de boca de urna, a Nova Democracia, de Antonin Samaras, alcançou entre 20.5 a 19%, o Pasok (socialista) com 13 a 14% sofreu as consequências de sua associação com o acordo-diktat com a U.E. e a Syriza, que se opõe a entendimento com os financiadores externos, colheu 15.5 a 17 % dos sufrágios. Assinale-se que a extrema esquerda só não colheu a palma da formação majoritária, porque o Partido Comunista Helênico (9%) não se associou à Syriza.
     Como a Constituição grega outorga vantagens ao partido que obtenha maioria relativa, não se pode excluir que, após a refrega, e não obstante a diminuição relativa nas bancadas dos dois partidos diretamente partícipes das negociações do ‘pacote’ da recuperação da economia grega, i.e., o Pasok e a Nova Democracia, ambos venham a sobreviver politicamente, e formem um governo de coalizão.
    Nesses termos, o rescaldo eleitoral na Grécia poderá ser  que o Presidente Karolos Papoulias, socialista já no seu segundo mandato quinquenal, convide os líderes dos tradicionais partidos helênicos par formarem gabinete encabeçado por Antonin Samaras (ND) e Evangelos Venizelos (Pasok), este último o Ministro das Finanças que desde o gabinete de George Papandreou tem negociado e costurado os diversos entendimentos que marcaram a penosa travessia helênica, depois da farra anterior, marcada por altos déficits e discutíveis estatísticas.
     Se tal vier a ocorrer – e as probabilidades se afiguram bastante fortes – o pós-eleitoral revestirá inegável ironia no que tange ao resultado concreto da consulta popular na Grécia. Dessarte, na mãe da democracia, se verá confirmado o ditado francês ‘mais que isto mude, tudo fica na mesma’ (plus ça change, plus c’est la même chose), enquanto na França, haverá alguma mudança, condicionada pela personalidade de François Hollande e pendente da composição do próximo Parlamento.




( Fonte: International Herald Tribune, O Globo )               

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