segunda-feira, 14 de maio de 2012

O Modelo Econômico Brasil

                             
          A  semana  não se inicia com boas notícias para a economia brasileira. A tendência inflacionária persiste. O mandonismo de Dilma Rousseff também se estende ao Banco Central. Ainda que a autonomia do BC no tempo de Henrique Meirelles não fosse a que se recomenda aos bancos centrais, segundo o exemplo do Federal Reserve Bank estadunidense, ela era bem maior do que a atual. O exercício do Comitê de Política Monetária (Copom) tem evidenciado essa autonomia relativa.
         Ao contrário de o que pensa D. Dilma – e bafejada pela popularidade, os vezos presidenciais se acentuam – a negligência inflacionária não é o bom caminho para o desenvolvimento.
        Por isso, e a despeito das dílmicas declarações de que o B.C. de Alexandre Tombini tem a mesma independência que tinha na época de Henrique Meirelles, a continuada queda da Selic cuida de desmentir essa lorota.
       Para um país cuja única defesa contra a carestia está precipuamente no emprego das taxas de juros, é estranhável que não se atente para o fato de que continue, ano após ano, a inflação de seis por cento ao ano. Os especialistas assinalam que conviver com esse teto é exercício perigoso. Para um país que tanto sofreu com o dragão, não é prudente pensar que a sua presença nesse nível seja confiável.
      Se o governo almeja reduzir os juros a patamares de primeiro mundo, deve tratar igualmente de ter inflação do mesmo nível.
     A investida de Dilma contra a caderneta de poupança pode, no entanto, ainda fazer parte de um esquema de desindexação da economia, que até agora a atual administração e as anteriores deixaram a meio caminho.
     A cultura inflacionária perdura não só na profusão de índices que, a cada novo ano, e sob pretextos vários, reacionam as tarifas dos serviços. Existem outros fatores na realimentação da besta-fera. O salário mínimo – e sobretudo o último do arsenal petista – trata de aquecer inda mais a economia, sob o duplo mote (se não foi seu pai, foi seu avô) exemplificado não só pela inflação pregressa, senão pelo crescimento do PIB. Esta concessão às centrais sindicais não se sustenta em critérios macro-econômicos.
     A Folha publica entrevista de um guru indiano, Ruchir Sharma. Se este senhor pisou na jaca ao atribuir a Fernando Collor a criação do real, isto não se afigura decerto suficiente para desmerecer-lhe o conhecimento. O analista aponta para o previsível baixo crescimento, ‘alavancado’ por uma série de fatores: reduzido investimento em infraestrutura, o real sobrevalorizado e o peso dos gastos sociais. Nesse sentido, o  empreguismo e o assistencialismo desviam recursos, boa parte dos quais poderia ser empregado em inversões mais produtivas.
      Por outro lado, os economistas Fabio Giambiagi e Armando Castelar, no livro ‘Além de Euforia’, a ser lançado nesta semana, batem em tecla similar. Sem mais produtividade, o país crescerá pouco. Segundo eles, o Brasil estaria perto de seu limite, e já não teria como aproveitar a capacidade ociosa do mercado de trabalho ou os bons ventos que sopraram no cenário externo na última década.
      Além de não haver mais desempregados a serem contratados, há outras condicionantes que poderiam mudar o quadro, se não houvesse sido perdida a janela de oportunidade ao longo do período anterior com vistas a promover reformas mais estruturais que garantissem o aumento da produtividade.
      O pouco investimento em educação e a não-valorização do professor garantem a falta de mão-de-obra qualificada. Esse déficit tem sido sentido em vários setores, condicionando inclusive o recurso à mão-de-obra especializada estrangeira.
     O peso do impostômetro é outro indício de um estado patrimonialista, que privilegia o alto tributo sem que haja retorno comparável nos investimentos estatais. O imposto se alastra como manifestação do Estado atrasado, que, na sua orgia tributária,  sobrecarrega todas as atividades. Para onde  acaso se lance o olhar, se verá a carga abusiva (como na eletricidade e nos remédios), cuja fome omnivora é ‘compensada’ pelos múltiplos ralos da ineficiência e da corrupção.  
      No parecer da coluna de hoje de Ricardo Noblat, a presidente Dilma “administra sem brilho até aqui. A nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento emperrou. A versão anterior avança devagar. O governo carece de um projeto ambicioso para o país. Com ou sem motivo, os ministros (...) temem trombar com a presidente. O receio fortalece a impressão de paralisia. E no entanto... aos olhos de quase 80% dos brasileiros, Dilma vai muito bem.”
      Qual será o remédio, é o caso de perguntar. Que tal enfrentar as lacunas, apontadas por gente daqui e d’além-mar ? Para as grandes reformas – a fiscal e a política – a hora terá passado. Talvez fosse demasiado esperar da criatura de Lula um tal passo, nas circunstâncias de seu advento.
       O futuro, no entanto, não pertence só a Deus. E já se lembrou que as grandes caminhadas podem começar com um só passo.
 



( Fontes:  Folha de S. Paulo, Veja, O Globo )

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