segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Notícias do Front (V)

A Desenvolta Acusadora

            Na razão inversa de como a promotoria nova-iorquina e a mídia atuou em autêntica blitzkrieg contra Dominique Strauss-Kahn, forçado ao espetáculo da perp-walk (a caminhada do perpetrador), às algemas e ao estigma da prisão prévia, assistimos igualmente surpresos à intervenção do promotor público Cyrus Vance Júnior, em que, depois de um tortuoso auto-elogio dos cuidados por ele adotados, desembocou na admissão de que, por certas inconsistências da principal testemunha de acusação, Strauss-Kahn não mais estaria em prisão domiciliar, além de ter cancelada a pesada fiança de cinco milhões de dólares.
            As motivações do recuo do promotor não tardaram em aparecer. A pobre camareira, a quem se protegera com os exageros do anonimato e do banimento da mídia, na verdade, não era tão pobre, nem tão indefesa quanto se propalara. Abrira várias contas nos Estados Unidos com o presumível objetivo de sonegar o fisco. A par disso, em telefonema para traficante no presídio, discorreu sobre as possibilidades de retirar muitos dólares do seu estuprador, a besta-fera Strauss-Kahn.
            Por outro lado, criara certa perplexidade na promotoria, ao alterar as versões incriminadoras do perigoso hóspede gaulês.
            Abalada a sua credibilidade, Nafissatou Diallo – este é o nome da vítima – terá achado (ou acharam por ela) que era hora de campanha de relações públicas, com direito a entrevista em programa de rede de televisão e, agora, em aparição em conferência de imprensa organizada pela comunidade afro-americana de New York.
            Líderes da comunidade negra americana vieram a público defendê-la. Decerto a Diallo tem disso todo direito, mas o que preocupa não é o seu intento de reforçar a própria acusação a Strauss-Kahn, mas a óbvia intenção de instrumentalizar a força numérica da comunidade negra em New York – a promotoria é órgão eletivo – para recauchutar o combalido arsenal acusatório da camareira. Para tanto, um dos oradores encareceu a Cyrus Vance Jr. que não desista da acusação a Strauss-Kahn. Em outras palavras, disse ao promotor que vá em frente e seja o que Deus quiser.


A Flecha Parta


            O colunista Merval Pereira – que agora é imortal – nos diz que a presidenta Dilma nos está saindo melhor do que a encomenda.
            Para rechear as suas fartas duas colunas, desta feita nos regala com as estripulias ministeriais de Nelson Jobim. Alinha o voto declarado em José Serra e a sua provável igual faxina nos Transportes.
            Será que o atual ministro da Defesa pretende trazer de volta a Dilma ‘irascível e autoritária’ ? Pois, apesar de ter no ex-presidente Lula o promotor de um dificil salvamento, Jobim parecer querer reeditar o famoso ‘estou Ministro’ de Eduardo Portella, prestes a ser demitido por Figueiredo.
            Como se empenhado em coser antologia de protervas insinuações, alinha as seguintes: em saudação aos oitenta anos de Fernando Henrique, se reporta à maneira sempre gentil com que tratava seus assessores “sem nunca elevar a voz”...
            Mais adiante, Jobim falou da sem-cerimônia com que os “idiotas” hoje se apresentam, no que foi interpretado como crítica, quem sabe, a companheiros petistas no governo.
            Depois, para carregar as tintas, revelou o que muitos já sabiam, que votara em Serra no ano passado.
            O colunista, que saboreia como outros, a citação, se refere à conhecida experiência no mister, e deduz o caráter proposital, usando a não-dissimulação como arma para afrontar a presidenta. Que, colhido de presumida fonte palaciana, teria dito: ‘E isso eu não admito’.
            Então Merval se despede de Jobim, quiçá por considerá-lo já próximo do que antes se denominava o ‘bilhete azul’.
            Ocupa-se nas linhas finais da alternativa que se abre para Dilma Rousseff: mero instrumento de poder de Lula ou “persona”política relevante.
            Eis que o colunista, à maneira dos Partas – que, ao se afastarem do campo de batalha, desfechavam de costas as flechas sobre o inimigo que lhes vinha ao encalço – lança o seguinte dardo conclusivo: se a atitude de Dilma “não for a mesma nos demais feudos políticos, (...) o comportamento errático pode levar à desmoralização dessa nova personalidade, transformando seu mandato em mero interregno que se perderá na História.”


Agravamento da Situação na Síria


            No dia de ontem, acirrou-se a repressão do regime de Bashar al-Assad em toda a Síria, mas com particular ênfase na cidade-martir de Hama. Depois de quase um mês de cerco à cidade – reeditando a manobra de Hafez al-Assad, que isolou em 1982 aquela cidade, antes de um banho de sangue, cujo cômputo varia entre dez e vinte mil mortos – tanques do exército a invadiram. Valendo-se da proibição à cobertura da mídia internacional, circundam os eventos muitas ambiguidades. Fala-se de defecções entre os militares, alguns dos quais se teriam negado a participar de massacres da população civil.
            De qualquer forma, houve pelo menos uma centena de mortos, a que se somam outra trintena em diversas outras cidades.
            Nesse sentido, o presidente Barack Obama disse que a tortura, a corrupção e o terror de Assad contra o povo o colocam no lado errado da história.
            Os ataques do regime foram vivamente condenados por Reino Unido, França, Alemanha e Turquia. Âncara, antiga parceira de Assad, se declarou ‘profundamente decepcionada com a repressão síria’.
            Nos próximos dias – respondendo assim a críticas na imprensa quanto a anterior falta de iniciativas contra Assad – os Estados pretendem continuar a aumentar a pressão contra o regime alauíta, e a trabalhar com outros ao redor do mundo para isolar Bashar al-Assad.
            Para que algo de concreto seja implementado pelas Nações Unidas, caberá verificar a medida em que Moscou e Beijing se dispõem a abandonar a sua ação de retaguarda, com a qual tem até o presente evitado tomadas de posição mais incisivas e eficazes de parte do Conselho de Segurança.


Acordo para evitar o Calote


            Nessa manhã circulam notícias, com o aval da Casa Branca, do Senador Reid (Dem./Ariz.) e do Speaker John Boehner, de que teria sido alcançado acordo entre democratas e republicanos para ensejar a elevação do teto da dívida ( a ser aumentado de US$ 2,l trilhões). Passaria, dessarte, a US$ 14,2 trilhões e só deveria ser renegociado em fins de 2012, depois das eleições presidenciais de novembro daquele ano.
            Há muitos pontos a serem esclarecidos nesse entendimento, máxime determinar o que significa a assertiva de Barack Obama de que “o debate foi vencido pela oposição”. Não obstante, o presidente acrescentou que o acordo ‘não viola nossos princípios’.
            Toda a cautela será pouca no que tange às possibilidades de ratificação do referido acordo tanto por Nancy Pelosi e os democratas da Câmara, quanto pelos republicanos eleitos em 2010 pelo Tea Party. Dada a propensão de Obama, julgada por correligionários demasiado elástica, de ceder em matéria de direitos dos programas sociais, quanto a rigidez dos novos deputados do GOP, as reais perspectivas de eventual ratificação desse ‘compromisso’ atingido às vésperas da data limite de dois de agosto só poderão ser verificadas após a leitura minuciosa da letra miúda do suposto acerto entre Senado, com maioria democrata, e Câmara, com maioria republicana.






( Fontes: International Herald Tribune, O Globo, CNN )

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