quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Dançando com dona Corrupção
Como todos sabemos, não existe corrupção no Brasil. Esta importante informação a podemos colher com o colunista Ricardo Noblat, que desaconselha, com sobejas razões, que se atribua tão ignóbil qualificativo a políticos brasileiros.
A prática judiciária demonstra que eles estão deveras conscientes de seus direitos nesse campo aleivoso e escorregadio. Dessarte, é recomendável evitar esse gênero de apodo, eis que a presunção de inocência foi levada pelo Supremo às últimas consequências.
Ao contrário de outros países, decerto mais atrasados nesses domínios, todo cidadão, sobretudo, me seja permitido agregar, aqueles que não são comuns (V. a respeito a memorável lição do presidente Lula da Silva) só podem ser havidos como culpados depois da ação passar em julgado. Ora, também se sabe, que muito justamente os políticos acusados dispõem de meios para defender a sua reputação,o que implica em longas tramitações nas três instâncias a que Suas Excelências têm, sem qualquer aceno de dúvida, todo o direito.
Para gáudio da Presidenta Dilma Rousseff – e horror de seu padrinho e criador – a faxina continua. Caíu mais um ministro, o paulista Wagner Rossi, do PMDB. Segundo se comenta, Rossi perdeu as condições de permanecer no cargo. Se não o tinha derrubado a desenvoltura com que o lobista Julio Fróes circulava pelas dependências no ministério, a que acedia pelo elevador privativo, a sua utilização de jatinho da Ourofino – empresa do setor agropecuário que obteve, só em 2010, 38,9 milhões de recursos federais – acabou por derrubá-lo.
Em sua carta de demissão, Wagner Rossi insinuou que as acusações contra ele têm a ver com a política paulista. As alusões quanto ao poder quase sobrenatural do ‘único político brasileiro’ que disso seria capaz, fazem pensar – consoante assinala Merval Pereira – que se tal procedesse José Serra teria tido mais sorte nas vezes em que disputou a presidência da república.
Dilma Rousseff pôde,assim, manter a imagem da faxineira. Depois de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim, Wagner é o quarto a sair do gabinete. Do quarteto, apenas Jobim foi exonerado por falar demais. As causas da demissão dos demais estão ligadas à faxina.
É bem verdade que Wagner Rossi se adiantou quando sentiu que a situação se tornara insustentável. Antes, no episódio do lobista, a presidenta se abalara a telefonar-lhe para cumprimentá-lo pelas explicações fornecidas, por ela julgadas convincentes.
Agora a bola está com o máximo representante do PMDB no governo, o Vice-Presidente Michel Temer. A ele caberá a prerrogativa (ou o ônus) de indicar o sucessor de Rossi na Agricultura. Mendes Ribeiro (PMDB-RS), atual lider do governo seria o mais cotado. Constantes da lista de prováveis contendores, o ex-Ministro e deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR) e Valdemir Moka (PMDB-MT).
Conforme se comenta,a presidenta teria deixado nas mãos de Temer o destino de seu afilhado político. Tinha ela a consciência de que não deveria tomar a iniciativa de afastá-lo, pois tal fato poderia abalar de maneira definitiva a sua relação com o PMDB.
Por isso, as cousas ficaram por conta de Temer. Teria percebido que a eventual permanência de Rossi por mais alguns dias poderia também ‘contaminá-lo’. Para uma conversa tensa o Ministro da Agricultura chegara ao gabinete do Vice-Presidente. Disse na oportunidade que não seria ‘um empecilho’. Foi combinado então que se comunicaria à Presidenta a saída de Rossi.
Na luta pela moralização do governo, a faxina continua a avançar. Repercute bem na opinião pública e, por conseguinte, nas avaliações de Dilma Rousseff. Observa-se, a propósito, que este sentimento de repúdio à corrupção se difunde na sociedade e não só nos andares mais altos.
É um desenvolvimento importante, porque a política alternativa – a de conviver com a corrupção, como se fora um mal menor, cuja erradicação traria descomunais prejuízos contra a governabilidade – é um falso caminho. Qualquer um pode ver o que representa – nos três níveis de governo – esta chaga. Ao contemplarmos seus efeitos – nas rodovias e estradas de ferro, na infraestrutura de portos e aeroportos, na desgraça da assistência médica, na falta de segurança, e em tantas outras coisas, grandes e pequenas – nós podemos vê-la e sentir uma raiva forte e anônima.
Não te enganes, porém. Em cada propina que porventura te arrancarem e que pensaste ser do teu interesse, estarás colaborando para tornar tua vida – e a de teus próximos – ainda mais desagradável e difícil.
Não é só na Índia que a luta contra a corrupção é oportuna e tem o apoio da maioria do povo. Porque, quem se dissocia desse combate, ou é doente da cabeça, ou dela se beneficia.
( Fonte subsidiária: O Globo )
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