domingo, 21 de agosto de 2011

Colcha de Retalhos LXXXIX

Ministério das Cidades: a bola da vez ?

           Segundo denuncia a revista VEJA – depois dos episódios dos Transportes (Alfredo Nascimento) e Agricultura (Wagner Rossi) – o próximo da lista seria o Ministro Mario Negromonte. A dezessete do corrente, parlamentares do Partido Progressista (PP) procuraram a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para relatar estranhas ocorrências no interior do gabinete do ministro. O problema maior seria que Negromonte, de acordo com os informes, não se cingiria aos meios usuais da política (cargos, liberação de verbas,etc.), mas se estenderia a promessas de mesadas de trinta mil reais para quem quiser aderir.
           Será possível ? Afinal, essas ‘bondades’ têm perturbadora semelhança com o mensalão – que o PT persiste em negar, a despeito dos 39 réus que tem à espera de julgamento pelo Supremo. Custa acreditar no fundamento de tal denúncia, que não só implica em fato ilegal, mas também que agride a inteligência.
           Há seis anos o Ministério das cidades é feudo do PP. É o terceiro partido da ‘base’, com 41 deputados e cinco senadores. Tem orçamento de 22 bilhões de reais e programas com grande apelo popular: instalação de redes de água, esgoto e construção de casas populares.
           Para Negromonte, que não tem especial simpatia de Dilma,e ascendeu à pasta mais por relações com o PT da Bahia do que por apoio intrapartidário. Agora, com o controle do PP nas mãos do grupo de Márcio Fortes, Mário Negromonte desejaria reverter o jogo de modo supostamente heterodoxo.
           Por serem fortes as acusações, baseadas em indícios preocupantes, não se pode descontar a possibilidade de que a presidenta venha a receber mais uma carta.


A Estranha Prisão dos Jovens Americanos

           A boa fé dos jovens americanos presos nas montanhas iranianas só não convence o governo dos ayatollahs. Procedentes da região autônoma do Curdistão iraquiano, a trinca de ‘hikersJosh Fattal, Shane Bauer e Sarah Shourd, adentrou em julho de 2009 por engano o território do Irã. Embora os andarilhos tenham obtemperado que o seu ingresso aí foi de boa fé, por não haver sinais ostensivos de demarcação fronteiriça, para o regime de Teerã a tentação seria demasiado forte. Como não detê-los sob a incriminação de espionagem, e tê-los como virtuais reféns no seu longo embate com a superpotência ?
           Presos na famigerada prisão de Evin – em que a tortura e os maus tratos são administrados pelos torpes guardas – os três encarcerados padeceram sob condições duríssimas, que tornam a estada nas antigas cadeias turcas quase brinquedo de criança. Em três anos apenas três breves telefonemas com familiares lhes foram concedidos. Quando até o recebimento de cartas da família lhes foi negada, Fattal e Bauer entraram em greve de fome.
           A própria libertação de Sarah Shourd, no ano passado, assinala o nível da extorsão. Por disporem de meios, os parentes de Sarah tiveram de depositar uma fiança de quinhentos mil dólares !
           A denegação de justiça – ou o que uma ditadura pode fazer com pessoas cuja única ‘culpa’ é terem passaporte americano – continua a sua cínica progressão. A mídia ora informa que os dois infelizes ‘hikers’ foram condenados a oito anos de prisão, por terem ingressado ilegalmente em território iraniano.
           Josh Fattal e Shane Bauer dispõem de vinte dias para recorrer da sentença. Como não lhes é permitido o acesso de advogados defensores – nem poder receber visitas consulares -, intui-se a gravidade da situação dos dois desafortunados andarilhos.
           Para os ayatollahs de Teerã, a dupla é uma presa que vem a calhar. Para eles, é um mero detalhe não respeitarem qualquer norma comezinha de respeito aos detidos.
           Vivem em masmorras, guardados por boçais carcereiros, que devem deleitar-se com a oportunidade de sevícias que a presença dos excursionistas lhes traz.
           Na história da humanidade, é longa a crônica dos reféns inermes em imundos calabouços. Para esses infelizes, o tempo não passa. O opróbio e a injustiça das longas detenções, em que os presos são submetidos a todo gênero de malvadeza é um triste capítulo, que deveria ser objeto de reflexão pelas potestades deste mundo sem qualquer exceção.


A Visita a New Hampshire de um discreto texano

           Mais do que sobrancelhas se alçaram quando o novel précandidato à designação (nomination) para as eleições presidenciais de novembro de 2012 condenou o propósito do Federal Reserve Bank em emitir mais dólares. Rick Perry, governador do Texas, não ficou nisso, e ameaçou, por palavras, veladas uma recepção hostil se o presidente do Fed, Ben Bernanke cometesse a imprudência de aparecer em terras texanas.
           O précandidato, cuja postulação tinha sido recebida com fanfarras e a expectativa reservada aos pesos pesado, se terá decerto surpreendido com o diapasão crítico provocado pelo ataque a uma das poucas quase unanimidades de Washington. Com efeito, Ben Bernanke foi indicado para o Fed pelo George W. Bush, e posteriormente confirmado para um segundo mandato, por Barack Obama. Despertou por isso mais do que estranheza o insólito ataque. O inesperado e mal dirigido ímpeto do novel postulante fê-lo receber uma saraivada de censuras e repreensões, que terão sacudido a segurança imperial do candidato.
          A aparição de Rick Perry no pequeno estado de New Hampshire, na Nova Inglaterra, mostrou aos republicanos um outro avatar do texano, caracterizado pela discrição, quase humildade.
          Esperando receber alguém à direita de Átila rei dos Hunos, Perry encantou a muitos pela moderação. Para quem já pensara alto acerca da possibilidade de o Texas retirar-se da União americana, o governador Rick Perry não calçava botas de cowboy, nem exibia postura arrogante. Indagado sobre o peso de suas palavras sobre o Fed, disse : ‘Ontem o presidente falou que eu deveria pesar bem o que digo. Gostaria de responder: senhor Presidente, os atos falam mais alto do que palavras. Minhas ações como governador estão criando empregos neste país. Os atos do presidente estão matando os empregos no país’.
          Como candidato à Casa Branca, entende-se que Perry deseje Obama como interlocutor. Na verdade, a advertência a que respondia fora feita pelo secretário de imprensa da presidência.
          Outro tópico que Perry tratou com cuidado extra foi a circunstância que no Texas a tese criacionista e a teoria darwineana da evolução recebem atenção paritária nas escolas públicas.
          Quanto à propalada abertura de novos empregos no estado do Texas, de que se gaba Perry, o Prêmio Nobel Paul Krugman, em sua coluna, a apontou como uma falácia, que não resiste a um exame mais detido e aprofundado.


O Combate à Corrupção... na Índia

          Vestindo o traje e a simplicidade de um Gandhi, Anna Hazare, iniciara o seu combate a endêmica corrupção na Índia com uma greve de fome. Atacado com razões burocráticas de desrespeito à autoridade – por realizá-la em praça pública -, a sua incrível e insensível prisão provocara o que comentarista televisivo denominaria de “catarse nacional sobre a corrupção”.
         Capacitando-se do torpe erro cometido, o Primeiro Ministro Manmohan Singh, do partido do Congresso, cedeu, permitindo a liberação de Hazare, depois de três dias de detenção.
         Segundo afirmou Hazare, sua greve de fome continuará até a aprovação do projeto do Jan Lokpal. Para contornar a resistência dos legisladores às emendas que deseja introduzir no projeto – que na sua versão atual concede imunidade ao Primeiro Ministro e aos altos escalões do Judiciário - Hazare, com a sua greve de fome e a circunstância de realizá-la em público optou por trazer a pressão da opinião pública em seu favor.
         Existe na Índia desilusão pública com o processo político e a crescente falta de conexão entre o estamento dominante da classe governante e a massa dos governados. Nesse sentido, a corrupção generalizada, revelada em grandes e pequenas propinas, constitui um tópico explosivo.
         A afronta feita ao ativista Hazare – que foi lançado no cárcere, enquanto os ladrões do partido governista lordeiam no parlamento – implicou em estúpido erro, típico da arrogância do poder. As centenas de manifestações espontâneas do povo indiano em favor de Anna Hazare levaram os nervosos funcionários governamentais a tentar soltá-lo da prisão. Hazare só admitiu sair se confirmada a autorização de continuar a greve de fome em praça pública. A autorização foi afinal dada, mas traz embutida a má-vontade burocrática, eis que foi limitada a quinze dias.
         É terrível viver-se em países como a Índia, em que populares honestos e ascéticos – como o gandhiano Hazare – têm de arrostar o corporativismo de uma classe política que vive vida de privilégio e de impunidade.


(Fontes:VEJA, CNN, International Herald Tribune, O Globo)

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