terça-feira, 9 de agosto de 2011

Bashar: o começo do fim ?


O regime alauíta de Bashar al-Assad pode julgar-se ainda saudável, e em condições de enfrentar mais de uma cidade-símbolo da resistência.Contudo, para os países que apóiam a ditadura síria – Irã, Rússia, entre outros – o cenário não se afigura reconfortante.
A condenação internacional se generaliza. Alguns países árabes retiram os embaixadores de Damasco. A Arábia Saudita, através de declaração escrita do Rei Abdullah, lida na tevê saudita no domingo, condena os ataques militares: “não há justificativa para o derramamento de sangue na Síria, e o que está ocorrendo nada tem a ver com a religião ou a ética. A liderança síria poderia realizar reformas abrangentes rapidamente”.
A violenta repressão na Síria é verberada pelo Ocidente. Não mais aquela embaraçosa pausa que colunistas exprobavam, como se o mutismo fosse causado por um temor de o que viesse depois de Bashar al-Assad.
Mas o quadro sombrio não se limita às condenações externas. Há indícios de uma postura tingida pelo desespero das forças militares que participam na repressão.
O regime poupara até o presente a cidade de Deir al-Zour, no leste do país. Tampouco foi imediata a investida na região central síria contra Hama, a cidade-mártir do massacre em 1982, executado por Rifaat al-Assad a mando de Hafez al-Assad. Em um mundo diverso do presente, fora possível ao clã Assad esmagar a revolta de Hama – com o trágico balanço entre dez e vinte mil mortes – no relativo silêncio dos meios de comunicação, que ainda não podiam valer-se da sofisticação da internet e da facilidade hodierna de transmissão de imagens.
Por isso, durante meses, o regime de Bashar tolerou no corrente verão boreal a atitude de desafio a Damasco de parte da cidade de Hama. A princípio, a manteve cercada por forças militares, como se quisesse conservá-la em quarentena, temendo a repercussão no país de um ataque ostensivo àquele centro rebelde.
Com o aumento dos protestos, motivados pelas reuniões noturnas do Ramadã, Bashar ou a cúpula militar de Damasco passou para a repressão sem peias. O que surpreendeu é que o regime tenha decidido atacar igualmente a Deir al-Zour, a despeito dos clãs armados, e de suas conexões com outros centros demográficos no oriente sírio. Nessa área, como se depreende, existe um quadro com traços similares aos da Líbia, com as suas tribos e clãs armados.
Enquanto o cômputo macabro da repressão militar já supera os dois mil, há inúmeras indicações de baixas em Deir al-Zour, a par das anteriormente registradas em Hama.
Refletindo a irradiação dos anseios libertários da sublevação síria, continua o fenômeno da confraternização de militares com os manifestantes. Esse indício da propagação da chama revolucionária – e do enrijecimento das forças oficialistas - não é decerto um bom augúrio para Bashar e seus partidários.
A tal respeito, o regime tem evidenciado sinais de descontrole. No que seria a derradeira abertura democrática do governo alauíta, o Ministro do Exterior Walid Moallem afirmou no sábado que autênticas eleições multipartidárias se realizariam no fim do ano. As características erráticas de tais mensagens – de que Bashar al-Assad não tem sido avaro – repercutem na sociedade síria como tiros n’água. Com efeito, as promessas de democracia do déspota ganhariam em credibilidade, se ele se desfizesse do fuzil, que continua a empolgar enquanto agita os ramos de oliveira.
No caso em tela, semelha outrossim peculiar que o anúncio do pleito ‘livre e transparente’ para o Parlamento seja feito pelo chanceler. Faz pensar em que o público alvo da mensagem seria menos o povo sírio, e mais os países com que a Síria tem relações. Essa hipótese ganha maior credibilidade, se se tiver em mente que nesse mesmo dia do ‘histórico anúncio’ (sem qualquer precedente na trajetória da ditadura dos al-Assad) as forças de segurança prenderam Walid al-Bunni. Trata-se de um oposicionista de nomeada, e antigo prisioneiro político. Detido junto com os dois filhos, al-Bunni havia sido protagonista da Primavera de Damasco, movimento democrático logo suprimido por Bashar, nos primeiros meses de seu ‘mandato’.

( Fonte: International Herald Tribune )

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