Até o presente, a reação da comunidade internacional e, em especial, das Nações Unidas não tem representado para o ditador Bashar al-Assad fator relevante para obstaculizar a brutal repressão por ele levada a cabo contra a população síria.
A par de algumas medidas pontuais tomadas pelos Estados Unidos, como o embargo de depósitos do presidente e de altos funcionários mais diretamente implicados, a Síria tem sido poupada de sanções internacionais.
A aprovação de tais sanções, a cargo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem sido inviabilizada pelas posições contrárias da Federação Russa e da República Popular da China.
Além da cercania que torna ipso facto esses dois membros permanentes do Conselho defensores na prática ex-officio de regimes autoritários – v.g., o Sudão – a Rússia é uma grande fornecedora de equipamento militar para a Síria. O Kremlin não deseja, portanto, que esse rendoso intercâmbio venha a ser prejudicado por sanções contra uma clientela que passou do pai Hafez para o filho Bashar.
O que se afigura mais difícil de entender são as reticências do Brasil no que respeita a medidas que visem desestimular o morticínio e a iterada negação do tirano em atender aos reclamos dos manifestantes.
Com efeito, a chamada declaração do presidente do Conselho, a que chegaram por consenso os membros permanentes e não-permanentes, representa, na realidade, um agrado para Bashar e seu regime, eis que é uma condenação vazia, sem consequências práticas. Com declarações como essa, alcançadas depois de intensas negociações, e apresentadas por Rússia e RPC como importantes concessões, o ditador sírio agradece a seus protetores, podendo continuar na sua cruenta e desapiedada repressão de manifestantes desarmados.
Na cidade de Hama o filho de Hafez al-Assad parece querer reeditar o massacre de 1982. Se então a comunidade internacional presenciou em silêncio um morticínio cujos macabros totais oscilam entre dez e vinte mil mortos, hoje a desenvoltura de Bashar e de seus blindados já elevou, no precário cômputo à distância, para pelo menos 250 vítimas fatais em apenas cinco dias.
O déspota de Damasco conjuga promessas vazias de abertura – como o decreto que autoriza novos partidos, definido pelo francês Alain Juppé, Ministro dos Negócios Estrangeiros, como uma provocação – com a repressão sem peias, a qual prossegue a pleno vapor no início do mês sagrado para os muçulmanos do Ramadã.
Antigos aliados, como Recip Erdogan, o Primeiro Ministro da Turquia, por causa das tropelias na sua fronteira com a Síria, condenou os excessos, dissociando-se do governo de Damasco.
Na sinistra contabilidade da morte, estimam-se em cerca de dois mil os manifestantes abatidos pelas chamadas forças de segurança. Bashar continua na sua rota da repressão, contando com a fidelidade do exército, em que a seita alauíta da família al-Assad está hiper-representada nas instâncias de comando. Se nas mal estipendiadas divisões comuns já houve diversos exemplos de confraternização com a população, nas chamadas de elite – como a 4ª divisão, sob o comando do irmão Maher al-Assad – o apoio ao ditador e às suas ordens continua, com as suas consequências sangrentas.
Como a rebelião na Síria já se estende há cerca de cinco meses, cabe perguntar por quanto tempo tal antagonismo persistirá, e quem há de prevalecer no final.
( Fontes: Folha de S. Paulo e International Herald Tribune)
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
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