O governo Dilma Rousseff termina o oitavo mês em curso muito mais acidentado do que o imaginado.
À primeira vista, as suas principais facetas são pirandellianas. Refiro-me ao teatrólogo italiano Pier Luigi Pirandello e sua peça Cosi è, se vi pare (Assim é,se lhe parece). Tomemos a base parlamentar, por exemplo. Ao contrário de bloco coeso, temos uma frente fisiológica e oportunista, que diz muito sobre a necessidade urgente de reforma política, dada sua extrema fragmentação e falta de qualquer sentido programático. Essa ‘base’ nada mais é do que formação disparatada, sem nexo ideológico apreciável, cujo único pressuposto será o caráter ad hoc de cada apoio.
Por outro lado, a chamada faxina tem rendido pontos preciosos à presidenta, com a opinião pública nela reconhecendo a iniciativa de expurgar a corrupção dos principais escalões de administração que ainda constitui composição disparatada, em que predomina a vontade do criador.
Sob rajadas de denúncias, as posições de alguns ministros se tornaram insustentáveis. Numa série de dominós, o primeiro a cair foi o todo-poderoso Antonio Palocci, indicação do ex-presidente Lula (que já tinha sido forçado a dispensar-lhe os serviços pelo escândalo do caseiro Francenildo Pereira).
Se Palocci tombou pela artilharia da Folha de S. Paulo, a revista VEJA passou a concentrar muitas das novas denúncias (v.g., nos Transportes – PR, com Alfredo Nascimento, e Luiz Antonio Pagot, no segundo escalão, com o famigerado DNIT, de polpudas dotações). Há o parêntese no Turismo, com a operação Voucher da Polícia Federal e o escândalo do IBRASI no âmbito do farcesco ministério de Pedro Novais, o latinista e o expoente do baixo clero na Câmara, criatura do tentacular José Sarney. Verificam-se as prisões relâmpago da P.F., com fotos de torso nu (admissíveis para brasileiros comuns, mas não para aqueles fora da categoria) e a queda do Secretário-Executivo do Turismo, Frederico da Silva Costa. Em seguida, na Agricultura-PMDB, com o lobista Júlio Fróes e o Secretário-Executivo Milton Ortolan, levados de roldão, e, num segundo tempo sucessivo, a queda do Ministro Wagner Rossi, articulada pelo Vice Michel Temer.
Em todos esses episódios, o comportamento de Dilma não foi decerto próativo, mas diferiu daquele de seu mentor, eis que, gostosamente ou não, nada fez para abafar as denúncias e manter os ministros em suas cadeiras (o quarto ministro, também herdado de Lula, nominalmente do PMDB, enrolou-se na própria língua, dando ensejo a que Dilma ressuscitasse outra criatura da antiga Administração. Walter Jobim terá sido o único para quem a presidenta foi a causa eficiente da exoneração).
Ingressamos no que seria a segunda rodada de denúncias de VEJA. O Ministro Mário Negromonte semelha a bola da vez. Do Partido Progressista, conhecido pelo caráter inflexível dos seus princípios de extremado situacionismo, Sua Excelência é acusado de achar-se em campanha intestina contra a facção do ex-Ministro Márcio Fortes, também do PP, de quem o ministério das Cidades é feudo por seis anos. Suspeito de recorrer a uma variante de mensalão, a posição do Ministro Negromonte estaria exposta a uma fritura intensiva. Assinale-se que a sua indicação não partiu da Presidenta, nem ela teria particular simpatia pelo atual titular.
Por outro lado, à sombra do Presidente Lula da Silva, o PT demonstra insatisfação com a imagem de Dilma como fautora da faxina. Vê nessa atitude o perigo de que o eleitor venha no futuro a associar a administração de Lula a um governo corrupto.
A propósito, circulam notícias de que ministros de Dilma ‘despachariam’ com o ex-presidente acerca de assuntos de seu interesse. Tudo isso devem ser intrigas da oposição, pois a presença do fundador do PT e seu presidente de honra parece voejar por toda a parte na administração Dilma Rousseff. A começar pelo Secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que é havido como escalão avançado lulista junto à Presidenta.
Nos entreveros da Administração, cresce o papel exercido peloVice-Presidente Michel Temer. Primeiro representante (ou ponta de lança) do PMDB junto a Dilma, em atuação, a princípio escanteada, registra uma inflexão em súbita relevância. Negociou, a pedido da Chefe do Governo, a saída de Wagner Rossi e designação de Mendes Ribeiro (PMDB-RS) na crise da Agricultura. Agora, não teria mãos a medir no caso de Pedro Novais. Malgrado as fintas do Vice-Rei do Norte, Novais seria mais uma de suas válidas indicações no ministério.
É também como mediador que Temer busca acalmar os reclamos do PMDB, que se sente preterido pela Presidenta. Nesse sentido, tenta evitar problemas com Henrique Alves (RN), o pugnaz chefe de bancada do que foi no passado o partido de Ulysses Guimarães.
Como se verifica pelas linhas acima, há muitos protagonistas no governo de Dilma Rousseff. Se uma metáfora fosse admissível, seria quiçá o caso de aí ver um gigantesco canteiro de obras. O que ainda semelha difícil determinar é a existência de um plano efetivo e de quem tem o controle dessa magna operação.
( Fonte subsidiária: O Globo )
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
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