segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Um, Dois, Três
A Dívida Pública Brasileira
Perguntado, na Entrevista da 2ª Feira da Folha, sobre receio do excessivo endividamento privado brasileiro no exterior, e do eventual risco de uma virada no câmbio, Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, assim respondeu:
“Não compartilho (do temor). Acho que o volume não é muito grande, e as empresas sabem fazer hedge. (...) O tema do momento é outro: dívida pública. E o que me preocupa no Brasil é o governo achar que tudo está bem nesse terreno, e que o rebaixamento americano seria como uma promoção para nós. Nada mais perigoso.” (meu o grifo)
Posto que não concorde com muitas das posições do Sr. Gustavo Franco, não posso deixar de sublinhar sua advertência no que tange à divida pública. O Brasil, a partir do governo Fernando Henrique Cardoso, mas com particular ênfase na administração Lula e na atual de Dilma Rousseff, tem encarado a inchação da dívida pública como um inevitável fato da natureza. Um pouco na linha daquele indefectível ministro da Fazenda do regime militar, segundo o qual a dívida não se paga, mas se rola. Bem sabemos como isso acabou, com a moratória declarada por outro ministro, Dilson Funaro, no governo José Sarney.
Apesar da sobrecarga fiscal, a dívida pública não para de crescer. Além da falta de uma reforma fiscal, que evitasse o desperdício nas dotações e o ralo da corrupção, o governo poderia fazer o seu dever de casa, enxugando esse mostrengo que é o ministério. Ao invés da esbórnia nos gastos correntes – uma das consequências do modelo patrimonialista -, cumpriria reconhecer as reais prioridades do Estado. Carecemos de investimentos em infraestrutura de transportes, em saúde, educação e segurança.
O desperdício do dinheiro público – tem ideia do que implica em pagamento de juros a dívida de um trilhão e oitocentos bilhões ? – nos vemos no abandono das rodovias, das estradas de ferro, nos aeroportos com terminais de terceiro mundo em nossas metrópoles. Ao nos defrontarmos com todas as lacunas do estado clientelista e patrimonialista, sem o saber, o que em verdade deparamos, é a carantonha da corrupção.
A Dívida Americana
Diante das atuais dificuldades da situação americana – o inédito rebaixamento da classificação dos títulos estadunidenses pela Standard & Poor’s não é mais que uma delas – cumpre determinar responsabilidades.
Se o modelo devedor não pode ser evitado, seria importante esclarecer alguns pontos que parecem, ou esquecidos, ou empurrados para baixo do tapete. Sem embargo da circunstância de que seja o partido Republicano aquele que mais alto proclame o seu zelo fiscal – e os excessos do movimento Tea Party se enquadram nessa política -, não se deve esquecer que a administração democrata de Bill Clinton legou para o presidente minoritário George Bush um orçamento com superavit. O governo de Bush Jr., dentre os seus legados, logo tornou deficitário o orçamento. Tal se deve às isenções tributárias reservadas ao contribuentes mais ricos, bem como a duas desastrosas e dispendiosas guerras.
No apagar das luzes da administração de George Bush Jr., estourou a crise financeira, precipitada pela falência do banco Lehmann Bros., a especulação desenfreada de Wall Street, com os derivativos e os CDOs (obrigações da dívida colateralizada), especialmente as obrigações da hipoteca subprime, que por um passe de mágica – e a colaboração da agência S&P apareceram, em 80% dos casos, com a garantia do tríplice A.
A Administração Barack Obama herdou, por conseguinte, a crise financeira do governo republicano anterior. Tudo isso ora semelha esquecido.
O GOP, atiçado pelo Tea Party, age como se nada tivesse a ver com a presente situação econômica. Por outro lado, ao praticar uma política extorsiva, valendo-se da necessidade burocrático-contábil de aprovar novo teto da dívida pública americana, o Partido Republicano, que está a reboque de sua ala extremista, não hesitou em valer-se do interesse nacional – que deveria ser preservado e não posto em risco – para extorquir da Administração Obama compromissos orçamentários maximalistas.
Teve decerto o GOP para alcançar tal objetivo a fraqueza da presidência Obama. Posto que dispusesse de instrumentos para fazer prevalecer o que estava no interesse nacional, Barack Obama uma vez mais cedeu diante da chantagem republicana e do Tea Party.
Se nem tudo está perdido, haveria necessidade de que Obama tivesse a têmpera de um Harry Truman para esclarecer a opinião pública, de o que significam para os Estados Unidos e o contribuinte americano as absurdas exigências dos fanáticos do Tea Party. Até agora o comportamento do presidente Obama infelizmente não torna essa hipótese verossímil, posto que tal esperança, por mais improvável que se afigure, não pode ser afastada.
Haverá outros, no entanto, que poderão engajar-se em tal empresa. Como a política republicana, fundada no extremismo do Tea Party, há de agravar e não solucionar a crise americana, a verdade tem tudo para impor-se, diante das pernas curtas das mentiras e dos falsos remédios do GOP.
O Calvário de Teresópolis
Os moradores de Teresópolis, na região serrana fluminense, vitimas da maior catástrofe natural que se abateu sobre o país, estão apreensivos. Robertão, como era conhecido na cidade, assumiu na última sexta-feira, após o afastamento do ex-prefeito Jorge Mario Sedlacek, suspeito de desvio das verbas destinadas à recuperação dos bairros atingindos pelas chuvas (e avalanches) de janeiro último.
A boa-vontade de Roberto Pinto conquistara a confiança dos moradores. Foi assim atmosfera de consternação a que tomou conta de Teresópolis com o infarto fulminante que matou a Robertão na madrugada de domingo, sete de agosto.
O terceiro prefeito em uma semana, Arlei Rosa, vereador do PMDB em primeiro mandato, não enche as medidas da expectativa citadina. Já tem dois processos cíveis tramitando contra ele no Estado do Rio. Vendedor de carros, suscitou a velha pergunta – você compraria um carro do prefeito Arlei ?
Esta interrogação traz reminiscências da campanha eleitoral americana de 1968.
Em um cartaz, se colocava a efígie de Richard Nixon, candidato republicano à presidência, e a pergunta embaixo: Você compraria carro usado deste homem? E a resposta: McGovern (o candidato democrata) compraria!
Dessarte, de uma informação de viés negativo – Nixon, o espertalhão – a propaganda retirava um aspecto positivo, calcado na fama de trouxa de McGovern.
Seria o caso de interrogar-se sobre o que espera Teresópolis...
( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo )
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