sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Alianças Políticas
Talvez não tenha sido intenção da presidenta Dilma Rousseff que a faxina no governo assumisse o alcance evidenciado tanto no ambiente político, quanto na sociedade. No que tange ao primeiro, a reação tende a ser negativa, porque a corrupção, como toda planta daninha, costuma proliferar. No que respeita ao entorno social, a raiva vem de longe, e a circunstância de haver sido reprimida por um período respeitável, não lhe retirou nem a pujança reativa, nem a rapidez na propagação. Muito pelo contrário.
Esses movimentos, quando desatados, podem semelhar o fogo, em campos e matas. Uma vez ateados, ganham força própria, correndo céleres por áreas imprevistas, na sua aliança com os ventos e demais caprichos da natureza.
Até o presente, essa nova criatura do Planalto tem sido divindade benfazeja para Dilma. Começou a livrá-la de entulho que, por sua condição, lhe tinha sido imposto pelo Presidente Lula. Mais talvez do que a três efígies atingidas (Palocci, Nascimento e Rossi), o ganho veio mais por acréscimo, ao brunir-lhe a imagem de faxineira empenhada na limpeza. E essa labuta de asseio se estendeu com proveito aos andares inferiores, conforme demonstrado pelo DNit.
A cruzada contra a corrupção – porque importa que Dilma refugue o eventual maniqueísmo da postura – ganha, na opinião pública, a força inercial desde muito represada pelos escândalos reflexos em segurança, hospitais, rodovias, portos, aeroportos e quejandos.
Não é à toa que frente política de respaldo à ação saneadora de Dilma Rousseff só possa colher nove senadores na Câmara Alta. Se forem sérios no propósito – e não factóide de uma semana, que se derreta com os primeiros arreganhos da primavera – no pequeno número estará grande parte de sua força.
Dizem que o Partido dos Trabalhadores – lembram-se acaso da formação aguerrida que não assinou a Constituição Cidadã, que expulsou um punhado de deputados que ousara sufragar Tancredo Neves, e erigiu o ‘não’ como blindagem às influências ditas espúrias da partidocracia ? – está irritado pelo desgaste à patina de ‘Nosso Guia’ implícita na faxina da sua criatura presidencial ?
Se procede ou não, não desafina do novo tom do PT, que hoje parece espojar-se com prazer em práticas fisiológicas, no longínquo passado pré-2003 escarnecidas e vilipendiadas. Dentre as dádivas de Lula, não será das menores o sistema das amplas coalizões partidárias pós-mensalão.
As consequências desse sistema para o cidadão são conhecidas. Basta transitar nas estradas esburacadas e sem acostamento, aceder aos deploráveis terminais terceiro-mundistas de nossos aeroportos, ou ter de recorrer a um hospital público, para sentir o que significa ser taxado de tributos como na Escandinávia, e dispor de um retorno de quarto mundo, em termos de infraestrutura.
Para afirmar o seu perfil, e não definhar na sombra dos títeres de um modelo de maximato mexicano dos tempos de Plutarco Elias Calles. é mister reconhecer que dona Dilma vem procedendo com habilidade, inteligência e pertinácia, ao reivindicar o seu lugar no panteão antes exclusivo.
Nesse sentido, a par dos contatos amiudados com o seu ubíquo criador, nossa primeira presidenta tem sabido, com destreza, mostrar ao que veio. Costura para tanto alianças antes impensáveis, como a empatia com Fernando Henrique, mais de uma vez sinalizada. Como FHC não há de deparar com simpatia a abertura da novel sucessora, justamente se lhe cotejarmos a experiência precedente, quando por motivos que não vale a pena escarafunchar, jamais o convidaram, sequer, para um cafezinho ?
Nem todas as embarcações da frota de Dilma vestem, de coração, suas cores. Sem embargo, seu jeito, destreza e até rompantes, os tem dissuadido de manobras hostis mais ostensivas. De todas as alianças, a mais relevante será a do povo, sobretudo se este entrevir na disposição da presidenta a vontade de fazer com que o impostômetro funcione mais em proveito do cidadão, de suas crenças privadas e dos seus anseios públicos.
Das excelências, terá todo o apoio que serão capazes de dar, se sentirem forte a ventania contrária. Mais aconselhável será contentar-se com as benesses próprias de seus cargos, que já não são de enjeitar.
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