Na sessão de ontem do Senado Federal, assistimos a cenas que se tornam cada vez mais características daquela que terá sido no passado augusta assembleia.
Quando forças desse jaez parecem preponderar, vem à lembrança o livro Hora dos Patifes, em que Lillian Hellman descreve a sua convocação, em 1952, pelo subcomitê sobre atividades anti-americanas. Embora a histeria macartista estivesse no auge, Hellman não trepidou em negar-se a denunciar colegas no teatro e no cinema, que tivessem simpatias pelo comunismo. Ao contrário de Elia Kazan e de outros, ela não delatou seus companheiros e, por isso, foi colocada na lista negra do cinema e do teatro.
Quem deparasse, na tarde de segunda-feira, as cenas no plenário da dita Câmara alta, poderia ter dúvidas se acaso se estivesse enganando de local. Depois da entrada do velho oligarca nordestino, que buscava ocultar o próprio nervosismo, seguiu-se um intróito sensaborão, em que as intervenções trataram de tudo, menos de o que se fazia presente em todas as mentes.
Ao adentrar a sala, porém, o Senador Pedro Simon, o Vice-Rei do Norte julgou oportuno bater em retirada para as paredes do respectivo gabinete. Quando o Senador pelo Rio Grande do Sul subiu à tribuna, e voltou a pedir a renúncia de José Sarney da presidência, isto foi o bastante para que a dupla alagoana sobre ele se encarniçasse, buscando intimidá-lo aos gritos e ameaças.
A carantonha de Renan Calheiros, que semelha deliciar-se no discurso de ameaças e intimidações, não tem ainda a exposição do conterrâneo. Ao vê-lo irromper no plenário, os olhos saltados e brilhantes, a expressão contorcida como se fora máscara, a respiração arfante, tem-se a vívida impressão de que retorna assombração para dizer-nos que o passado, por muitos acreditado morto, ainda estrebucha.
Não penso adequado aqui mencionar as chulas e penosas expressões do ‘antigo caçador de marajás’. Nada acrescentam a par de sublinhar-lhe o vezo do excitado paroxismo.
Que não engane o comportamento dos corifeus e de sua tropa de choque. Reflete desespero de quem se descobre sitiado.
Algumas luzes, não obstante, repontariam, eis que Pedro Simon foi apoiado por Jarbas Vasconcelos, Cristovam Buarque e Renato Casagrande (PSB-ES).
A rinha se transportará em breve para o chamado Conselho de Ética, em que a tropa de Renan, engordada pelos muitos suplentes do Senado, conta prevalecer, ao arrepio da Nação.
Também do lado que muitos consideram errado, está o Planalto. De uns dias para cá, as declarações de Lula afirmam nada ter a ver com o que sucede no Senado, mas, nos bastidores, o verboso mandatário continua a apoiar o amigo Sarney, havido como suporte indispensável da aliança pró-Dilma Rousseff.
Sabe o coronel do Maranhão e Amapá que o seu destino se acha por um fio. Empós suceder a Vitorino Freire, os seus cinquenta anos de mando no pobre Maranhão conheceram muitos senhores em Brasília, a quem sempre prestou a necessária vassalagem. Se o longo coronelato muito aproveitou a ele próprio e ao numeroso clã, o mesmo não se poderá dizer do antigo vice-reinado colonial, que continua dentre os menos aquinhoados da República.
Ora Sarney depende para sustentar-se, além do PMDB, dos votos do PT. São alicerces fracos que temem a cercania das eleições e a mancha de apoio de difícil explicação para partido que já teve um discurso ético respeitável. Agora, será bastante apelar para os malabarismos, as conivências e os sofismas acerca da opinião publicada, que a pública infirmaria ?
Prevalecerão os arreganhos de Lula para salvar o que resta de José Sarney ? Afinal, não é tão difícil para ele enfrentar o suposto desgaste, quanto para os antigos companheiros de partido, que devem passar em 2010 pelas forcas caudinas de eleições majoritárias.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
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Um comentário:
Gostaria de pedir ao blogueiro um artigo sobre a entrevista do Chanceler à Folha no domingo, e mais amplamente a reação brasileira ao do acordo das bases americanas na Colômbia.
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