segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Lições a serem colhidas da Crise das Bases

Segundo foi transmitido à imprensa brasileira, o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia obteve do Presidente Hugo Chávez a possibilidade de que o Brasil se encarregue dos bons ofícios junto aos Estados Unidos. Pelo que se pôde entender, tratar-se-ia de procurar recompor as relações entre Caracas e Washington.
Na diplomacia, quando se assume tarefa de intermediação, em representação,mesmo informal, de uma das partes do litígio, deve haver alguma segurança quanto à posição assumida pelo Estado representado.
Haja vista o comportamento pregresso do señor Hugo Chávez, e a sua irrefreável inclinação a indispor-se não só com a Administração americana, mas também com a Colômbia do Presidente Alvaro Uribe (um dos supostos causadores da presente crise), será necessariamente um panglossiano otimista aquele que acreditar ser fiável o interesse do caudilho venezuelano em chegar a uma composição.
A reunião da Unasul em Quito ora se realiza sob a ameaça de intervenção de Chávez, na qual venha a reivindicar o apoio dessa organização de cúpula sul-americana na condenação ao acordo militar entre EUA e Bogotá.
Se o propósito do coronel venezuelano for confirmado, altera-se a natureza da cimeira em Quito. Dos discursos formais de Michelle Bachelet, presidente do Chile, e de Rafael Correa, presidente do Equador, se passaria a um outro cenário, com o chamamento da Unasul para a campanha contra as alegadas bases americanas na Colômbia.
Dessarte, a curta permanência do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se veria bruscamente modificada em um trabalho de ‘bombeiro’ diplomático, para evitar a instrumentalização da Unasul no ofensiva chavista contra o Império.
Como se verifica, as coisas se complicam, cabendo a pergunta de o que resta da suposta honrosa missão mediadora, de que se felicitara um dos condutores da biga diplomática do Presidente Lula.
O irrequieto Hugo Chávez é decerto um mestre nos jogos de cena. Que fazer de comprometedores indícios do estranho tratamento preferencial reservado às Farc, assim como de material bélico desviado para os guerrilheiros colombianos ?
Não será problema para o trêfego líder bolivariano. A par de uma enésima nova crise nas relações bilaterais com Bogotá, há de servir igualmente o ataque frontal da profusa retórica chavista contra os Estados Unidos, a propósito do acordo militar das bases.
Admitida de parte americana o pouco hábil encaminhamento do assunto, não seria o caso de a diplomacia lulista dissociar-se do radicalismo chavista e de seus acólitos ? Em tal hipótese, nos desvencilharíamos de tentar promover o entendimento de Chávez com os Estados Unidos – o que seria acreditar na quadratura do círculo -, e cuidaríamos de procurar fazer ver ao amigo do cara que, em assuntos sensíveis como o das bases, a transparência é recomendável, inclusive para prevenir crises do gênero da presente, que, em verdade, só aproveitam a quem deseja fomentar confusão.

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