Notícias do Paquistão
Do interior paquistanês, na semana passada, a imprensa nos traz notícias de acontecimentos que podem parecer cousa de outros tempos.
Houve época em que minorias religiosas eram consideradas como a personificação do Outro, do Diverso, e do Traidor potencial dentro das muralhas da cidade. Em momentos de crise, seriam os primeiros e fáceis alvos, objetos acessíveis para o desafogo dos temores da turba, não raro insuflada pelas elites.
Através dos tempos, os judeus foram as vítimas propiciatórias de tais tropelias, como os pogroms da Rússia czarista representaram, através dos séculos, a sinistra face do preconceito.
Infelizmente, e em muitas regiões, a intolerância religiosa pode ainda revestir a brutal violência que foi infligida à minoria cristã na cidade do Gojra, no Paquistão central.
Marginalizados em país islâmico, os cristãos são tratados como cidadãos de segunda classe. Barrados pela Constituição de serem Presidente ou Primeiro Ministro, se alguns logram progredir na administração ou nos negócios, a maior parte deles engrossa o proletariado a que são confiadas as piores fainas, como a limpeza dos sanitários e das ruas.
Decerto não contribuíu para a melhoria nas relações a chamada lei da blasfêmia, baixada nos anos oitenta pelo ditador militar Muhammad Zia ul-Haq. Pela sua proposital amplitude tem sido empregada para terrorizar as minorias.
Em Gojra, mais de cem casebres de cristãos já foram queimados e pilhados por turba orçada pelas autoridades em vinte mil elementos. Como soi acontecer nessas ocasiões, o reduzido destacamento da polícia nada faz para proteger as vítimas dos bestiais ataques.
Foi igualmente a sina dos Hameed, pobre família cristã. Reunidos em seu tugúrio para o café da manhã, cercados pela multidão e suas ofensas, eles apenas murmuravam, com as costas contra a parede. Tal atitude de pouco lhes serviu. Quando o avô, de setenta e cinco anos, abre a porta, para ver o que está ocorrendo, é derribado com tiro na testa. Em seguida, põem fogo à cabana, matando seis pessoas, inclusive duas crianças, de seis e treze anos.
Em tempos difíceis, como os ora atravessados pelo Paquistão, a minoria pária dos cristãos constitui o alvo natural desta selvageria. E não faltam aos bandos turbulentos as palavras ambíguas dos imãs nos sermões da sexta-feira: “É hora de dar-lhes uma lição.”
Estará Obama imitando Bush ?
Recordam-se das muitas Declarações assinadas por George W. Bush, quando sancionava os projetos de lei aprovados pelo Congresso ? Através de tais documentos, o Presidente dava instruções aos funcionários do Executivo acerca de como deveriam interpretar e implementar a nova legislação. Dada a abundância da prática de legislador-auxiliar de Bush júnior, a partir de 2006 avolumou-se o debate sobre a propriedade e a validade das declarações, eis que as diretivas visavam disposições que deveriam ser contornadas, como, v.g., a proibição da tortura e as restrições à Lei Patriota, promulgada pouco depois dos acontecimentos de onze de setembro de 2001.
Todas essas liberdades com os poderes do Congresso eram justificadas por Bush e asseclas por suas teorias quanto à desmedida expansão das faculdades do Executivo.
Durante a campanha presidencial, Obama condenou como um ‘abuso’ a torrente de declarações assinadas por Bush, comprometendo-se, porventura eleito, a utilizar tais declarações com maior moderação.
Até o presente, o Presidente Obama firmou declarações com respeito a cinco leis. Para justificá-las, disse tê-las fundado nas interpretações prevalentes da Constituição, ecoando reservas formuladas por presidentes democratas e republicanos.
Das instruções emanadas do Presidente, as lideranças do Congresso discordaram do documento assinado por Obama, em apenso à lei que aumenta o auxílio ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, com o requisito legal de que a Administração pressione os ditos organismos com vistas a adotar determinadas orientações. Segundo Obama, ele poderia ignorar as instruções de negociação, com base em seu poder de formular e conduzir as relações externas.
Se o procedimento da nova Administração causa espécie, a visão dos especialistas não é unânime. Se a pletora de instruções, dadas pelo trêfego Bush, recebia geral condenação, a maior parte dos expertos tampouco considera a prática como apropriada.
Há, no entanto, alguns juristas que reputam a assinatura de declarações como procedimento legal e adequado, no caso de leis importantes que não se deveria vetar por defeitos menores. Como se sabe, nos Estados Unidos, não há veto parcial. Por isso, a discordância presidencial necessariamente abrange a integralidade da lei, que acaso se acoime de inconstitucional.
( Fonte: International Herald Tribune)
sábado, 8 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário